São Paulo, sábado, 05 de junho de 2004

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Direitos e liberdades ainda não são respeitados, diz dissidente chinês

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Desde o massacre da praça Tiananmen (1989), a situação dos direitos humanos, da liberdade de expressão e do direito de associação e de manifestação política só melhorou na China no que tange à retórica dos líderes do regime.
A afirmação é de Xu Shuiliang, 59, dissidente chinês que vive nos EUA e é membro do Conselho de Coordenação do Free China Movement, uma iniciativa internacional pró-democracia na China.
Ele ficou 12 anos preso na China em razão de seu elo com a luta pela liberdade de expressão, incluindo sua participação nos protestos de 1989. Xu foi libertado em 1991. Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, de Nova York.
 

Folha - A situação política melhorou na China desde os protestos pró-democracia, em 1989?
Xu Shuiliang -
No que concerne aos direitos humanos, à liberdade de expressão e ao direito de associação e de manifestação política, as mudanças foram apenas retóricas. O Partido Comunista Chinês concordou em inserir na Constituição o respeito aos direitos humanos. No entanto a Carta é um documento frívolo, já que, por exemplo, seus artigos não servem de base para um processo legal.
Com a chegada do presidente Hu Jintao e do premiê Wen Jiabao ao poder, houve certa melhora retórica, pois eles adotaram a máxima de que os seres humanos, não o partido, devem estar no âmago da sociedade. Todavia não houve verdadeira mudança no jogo político chinês nem nas estruturas governamentais. Assim, as mudanças foram só retóricas. Na prática, a vida dos chineses não mudou.

Folha - Quais são os principais aspectos do regime comunista que afligem a população hoje?
Xu -
Há inúmeros problemas na China que tornam a vida das pessoas mais difícil ou perigosa, mas três aspectos são alarmantes.
Primeiro, a repressão às liberdades civis e as graves violações aos direitos humanos, que afetam muitos setores da sociedade. Os atos políticos espontâneos continuam sendo proibidos pelo governo, sendo considerados uma afronta ao regime, e ainda não existe o direito à oposição.
Segundo, a corrupção se infiltrou na sociedade, assolando hoje o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e a polícia. Isso gera uma enorme frustração entre as pessoas. Terceiro, a situação do estreito de Taiwan é muito preocupante, pois a China continua a ameaçar a ilha, e os EUA podem envolver-se na disputa.


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