|
Texto Anterior | Índice
Direitos e liberdades ainda não são respeitados, diz dissidente chinês
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Desde o massacre da praça Tiananmen (1989), a situação dos direitos humanos, da liberdade de
expressão e do direito de associação e de manifestação política só
melhorou na China no que tange
à retórica dos líderes do regime.
A afirmação é de Xu Shuiliang,
59, dissidente chinês que vive nos
EUA e é membro do Conselho de
Coordenação do Free China Movement, uma iniciativa internacional pró-democracia na China.
Ele ficou 12 anos preso na China
em razão de seu elo com a luta pela liberdade de expressão, incluindo sua participação nos protestos
de 1989. Xu foi libertado em 1991.
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, de Nova York.
Folha - A situação política melhorou na China desde os protestos
pró-democracia, em 1989?
Xu Shuiliang - No que concerne
aos direitos humanos, à liberdade
de expressão e ao direito de associação e de manifestação política,
as mudanças foram apenas retóricas. O Partido Comunista Chinês
concordou em inserir na Constituição o respeito aos direitos humanos. No entanto a Carta é um
documento frívolo, já que, por
exemplo, seus artigos não servem
de base para um processo legal.
Com a chegada do presidente
Hu Jintao e do premiê Wen Jiabao
ao poder, houve certa melhora retórica, pois eles adotaram a máxima de que os seres humanos, não
o partido, devem estar no âmago
da sociedade. Todavia não houve
verdadeira mudança no jogo político chinês nem nas estruturas governamentais. Assim, as mudanças foram só retóricas. Na prática,
a vida dos chineses não mudou.
Folha - Quais são os principais aspectos do regime comunista que
afligem a população hoje?
Xu - Há inúmeros problemas na
China que tornam a vida das pessoas mais difícil ou perigosa, mas
três aspectos são alarmantes.
Primeiro, a repressão às liberdades civis e as graves violações aos
direitos humanos, que afetam
muitos setores da sociedade. Os
atos políticos espontâneos continuam sendo proibidos pelo governo, sendo considerados uma
afronta ao regime, e ainda não
existe o direito à oposição.
Segundo, a corrupção se infiltrou na sociedade, assolando hoje
o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e a polícia. Isso gera uma
enorme frustração entre as pessoas. Terceiro, a situação do estreito de Taiwan é muito preocupante, pois a China continua a
ameaçar a ilha, e os EUA podem
envolver-se na disputa.
Texto Anterior: China: Censura marca aniversário do massacre da praça Tiananmen Índice
|