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SUCESSÃO NOS EUA / FOCO EM NOVEMBRO
Candidato, Obama endurece política externa
Em palestra para associação pró-Israel em Washington, democrata diz que fará "tudo" para "eliminar" ameaça iraniana
Ao procurar se afastar da imagem de pouco firme na relação com "inimigos", senador se aproxima da retórica de rival republicano
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Menos de onze horas depois
de se proclamar o candidato do
Partido Democrata à sucessão
do presidente George W. Bush,
o senador Barack Obama fez
um discurso em que endurece
suas posições em relação ao Irã,
em retórica que se afasta de seu
discurso recente, lembra a usada pela ex-concorrente Hillary
Clinton e se aproxima das posições de seu rival, o republicano
John McCain.
Em seu primeiro compromisso público pós-prévias,
Obama disse que fará "tudo"
em seu poder para impedir que
aquele país tenha acesso a armas nucleares. "O perigo que
vem do Irã é grave, é real, e minha meta será eliminar essa
ameaça", afirmou, em palestra
para o Comitê Israelo-Americano de Assuntos Públicos (Aipac, na sigla em inglês), ontem
de manhã, em Washington.
O senador defendeu ainda
que Jerusalém permaneça como a capital una do Estado -o
que contraria resoluções da
ONU e a tradição da política externa dos EUA. "Deixe-me ser
claro: a segurança de Israel é
sacrossanta", falou. "Qualquer
acordo com o povo palestino
tem de preservar a identidade
de Israel como um Estado judeu, com fronteiras seguras, reconhecidas e defensíveis. Jerusalém permanecerá como a capital de Israel, e precisa permanecer indivisível."
Por fim, Obama fez ameaças
à Síria e disse que era preciso
isolar o Hamas "a não ser que
[grupo radical que controla a
faixa de Gaza desde 2007] deixe
o terrorismo".
Público interno
O discurso deve-se à importância estratégica de Israel e à
sua condição de principal aliado dos EUA no Oriente Médio.
Mas tem outras utilidades.
Uma é se afastar da imagem de
alguém pouco firme em questões de política externa, que
McCain vem repisando nas últimas semanas.
O republicano insinua que o
democrata é ingênuo ao dizer
que pretende se encontrar sem
precondições com líderes considerados inimigos dos EUA,
como Mahmoud Ahmadinejad.
Em debate durante a campanha, o candidato havia dito que
se encontraria com líderes como o presidente iraniano ou o
venezuelano Hugo Chávez.
Os ataques do republicano
começam a atrair eleitores politicamente independentes,
mas conservadores em assuntos de política externa. Daí a
resposta. McCain "critica minha vontade de usar diplomacia, mas só oferece uma realidade paralela, na qual a Guerra do
Iraque de certa maneira colocou o Irã de joelhos", disse Obama. "A verdade é o oposto."
Desde que sua candidatura se
tornou uma possibilidade real,
o candidato trata de desarmar
essa bomba de efeito retardado
no eleitorado conservador. De
maneira semelhante, há duas
semanas, falou a uma associação linha dura de cubano-americanos em Miami, quando
mostrou novo discurso para a
América Latina, menos progressista que antes.
A fala de ontem de Obama
serve ainda para cortejar a comunidade judaica da Flórida,
um dos Estados que, com seus
27 votos no Colégio Eleitoral,
pode definir a eleição de 4 de
novembro. A escolha do presidente dos EUA é referendada
por esse colegiado formado por
representantes dos 50 Estados,
cada um com um número de
delegados proporcional à sua
população. Esses representam
o candidato escolhido pela
maioria dos eleitores do respectivo Estado. Há 538 eleitores no colégio, e o vencedor deve ter ao menos 270 votos.
Por fim, Obama se dirigia aos
que ainda hoje ligam seu nome
ao islamismo -um em cada dez
americanos acredita que ele seja muçulmano, segundo levantamento do Pew Research Center de março. A imprensão errada é reforçada por seu nome
do meio -Hussein- e pela religião do avô paterno.
Ontem ainda, na seqüência
de Obama na Aipac, Hillary
Clinton reforçou a fala do ex-oponente. "Sei que o senador
compartilha de minha visão de
que o próximo presidente deve
dizer ao mundo que os EUA estão ao lado de Israel sempre",
disse. Nas prévias democratas,
ela dissera que, se fosse eleita,
os EUA "destruiriam" o Irã caso aquele país atacasse Israel.
Leia íntegra dos discursos de Obama e Hillary na terça
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