São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / FOCO EM NOVEMBRO

Candidato, Obama endurece política externa

Em palestra para associação pró-Israel em Washington, democrata diz que fará "tudo" para "eliminar" ameaça iraniana
Ao procurar se afastar da imagem de pouco firme na relação com "inimigos", senador se aproxima da retórica de rival republicano

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Menos de onze horas depois de se proclamar o candidato do Partido Democrata à sucessão do presidente George W. Bush, o senador Barack Obama fez um discurso em que endurece suas posições em relação ao Irã, em retórica que se afasta de seu discurso recente, lembra a usada pela ex-concorrente Hillary Clinton e se aproxima das posições de seu rival, o republicano John McCain.
Em seu primeiro compromisso público pós-prévias, Obama disse que fará "tudo" em seu poder para impedir que aquele país tenha acesso a armas nucleares. "O perigo que vem do Irã é grave, é real, e minha meta será eliminar essa ameaça", afirmou, em palestra para o Comitê Israelo-Americano de Assuntos Públicos (Aipac, na sigla em inglês), ontem de manhã, em Washington.
O senador defendeu ainda que Jerusalém permaneça como a capital una do Estado -o que contraria resoluções da ONU e a tradição da política externa dos EUA. "Deixe-me ser claro: a segurança de Israel é sacrossanta", falou. "Qualquer acordo com o povo palestino tem de preservar a identidade de Israel como um Estado judeu, com fronteiras seguras, reconhecidas e defensíveis. Jerusalém permanecerá como a capital de Israel, e precisa permanecer indivisível."
Por fim, Obama fez ameaças à Síria e disse que era preciso isolar o Hamas "a não ser que [grupo radical que controla a faixa de Gaza desde 2007] deixe o terrorismo".

Público interno
O discurso deve-se à importância estratégica de Israel e à sua condição de principal aliado dos EUA no Oriente Médio. Mas tem outras utilidades. Uma é se afastar da imagem de alguém pouco firme em questões de política externa, que McCain vem repisando nas últimas semanas.
O republicano insinua que o democrata é ingênuo ao dizer que pretende se encontrar sem precondições com líderes considerados inimigos dos EUA, como Mahmoud Ahmadinejad. Em debate durante a campanha, o candidato havia dito que se encontraria com líderes como o presidente iraniano ou o venezuelano Hugo Chávez.
Os ataques do republicano começam a atrair eleitores politicamente independentes, mas conservadores em assuntos de política externa. Daí a resposta. McCain "critica minha vontade de usar diplomacia, mas só oferece uma realidade paralela, na qual a Guerra do Iraque de certa maneira colocou o Irã de joelhos", disse Obama. "A verdade é o oposto."
Desde que sua candidatura se tornou uma possibilidade real, o candidato trata de desarmar essa bomba de efeito retardado no eleitorado conservador. De maneira semelhante, há duas semanas, falou a uma associação linha dura de cubano-americanos em Miami, quando mostrou novo discurso para a América Latina, menos progressista que antes.
A fala de ontem de Obama serve ainda para cortejar a comunidade judaica da Flórida, um dos Estados que, com seus 27 votos no Colégio Eleitoral, pode definir a eleição de 4 de novembro. A escolha do presidente dos EUA é referendada por esse colegiado formado por representantes dos 50 Estados, cada um com um número de delegados proporcional à sua população. Esses representam o candidato escolhido pela maioria dos eleitores do respectivo Estado. Há 538 eleitores no colégio, e o vencedor deve ter ao menos 270 votos.
Por fim, Obama se dirigia aos que ainda hoje ligam seu nome ao islamismo -um em cada dez americanos acredita que ele seja muçulmano, segundo levantamento do Pew Research Center de março. A imprensão errada é reforçada por seu nome do meio -Hussein- e pela religião do avô paterno.
Ontem ainda, na seqüência de Obama na Aipac, Hillary Clinton reforçou a fala do ex-oponente. "Sei que o senador compartilha de minha visão de que o próximo presidente deve dizer ao mundo que os EUA estão ao lado de Israel sempre", disse. Nas prévias democratas, ela dissera que, se fosse eleita, os EUA "destruiriam" o Irã caso aquele país atacasse Israel.


Leia íntegra dos discursos de Obama e Hillary na terça

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