São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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A CAMINHO DA PAZ
Condição para trégua é retirada de Kosovo, que será definida em reunião hoje com militares iugoslavos
Guerra pode acabar amanhã, dizem EUA

das agências internacionais


O Pentágono anunciou ontem que a Otan pode suspender amanhã os ataques contra a Iugoslávia. A condição para que isso ocorra é o início da retirada das tropas sérvias de Kosovo.
"Se a Sérvia cooperar, os bombardeios podem ser suspensos no fim-de-semana ou no começo da próxima semana", disse o porta-voz Kenneth Bacon. Oficiais do comando militar norte-americano disseram que os ataques podem ser suspensos a partir de amanhã.
O presidente dos EUA, Bill Clinton, afirmou que está "ansioso" para suspender os bombardeios à Iugoslávia, mas que o cumprimento do acordo deve ser verificado antes do cessar-fogo.
Hoje, o general britânico Michael Jackson, representando a Otan, se reúne com oficiais da cúpula militar iugoslava, na fronteira de Kosovo com a Macedônia, para entregar a eles instruções sobre a retirada da Província. A reunião será acompanhada por um observador russo. A imprensa não terá acesso.
Segundo a Otan, o general estará entregando ordens aos militares iugoslavos, e não haverá negociação. Serão definidas as rotas a serem utilizadas pelas forças em retirada e dadas instruções de como desmontar o armamento pesado, para que a Otan possa verificar que a saída está mesmo ocorrendo.
O general Jackson também vai dizer aos oficiais iugoslavos quando iniciar a retirada. O acordo aceito por Belgrado dá sete dias para a retirada total de forças do Exército e da polícia iugoslavos, começando com a desativação de sistemas de defesa antiaérea.
Um porta-voz da Otan disse que a aliança estará acompanhando a saída das tropas para saber se não são cometidas agressões contra a população de origem albanesa.
Anteontem, a Iugoslávia aceitou proposta do G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia) para encerrar o conflito com a aliança militar ocidental. O acordo prevê, após a retirada das tropas, o envio de uma força militar internacional para monitorar o retorno dos refugiados a Kosovo.
A estrutura de comando da força ainda não está definida. Os EUA querem que os soldados estejam sob um comando único. A Rússia rejeita que suas tropas estejam subordinadas à Otan.
Políticos russos criticaram ontem a atuação do negociador russo Viktor Tchernomirdin que, junto com o mediador ocidental, Martti Ahtisaari, conseguiu que o ditador iugoslavo, Slobodan Milosevic, aceitasse o acordo. Apesar de elogiado pelo presidente Boris Ieltsin, um funcionário da chancelaria russa disse que Tchernomirdin negociou o acordo por "conta própria", ou seja, sem seguir as diretrizes do governo.
O Pentágono anunciou que 2.000 fuzileiros navais devem chegar à Macedônia em dois dias. Eles serão os primeiros a entrar em Kosovo após a retirada iugoslava.
Com a aceitação do acordo por Belgrado, os bombardeios à Iugoslávia diminuíram ontem. Segundo o presidente da França, Jacques Chirac, os ataques estão sendo direcionados para alvos "estritamente militares".
Foi atingido um campo de pouso perto de Belgrado e outros alvos em território sérvio, mas a capital foi poupada dos bombardeios.
Os chanceleres dos países do G-8 devem se reunir nos próximos dias para elaborar o rascunho de uma resolução baseada no acordo de paz a ser submetida ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O negociador Ahtisaari pode ir a Pequim para tentar garantir o apoio chinês à proposta de paz. A China tem poder de veto no Conselho de Segurança.
O governo chinês voltou a pedir ontem o fim imediato dos bombardeios da Otan.


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