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ENTREVISTA DA 2ª
Para psiquiatra norte-americano, o presidente dos EUA é sádico, paranóico e megalomaníaco
BUSH no divã
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele chama a mãe de "aquela que
mete medo", foi atrás do inimigo
número 1 do pai porque, inconscientemente, queria atingir o próprio, é sádico, paranóico e megalomaníaco. Além disso, trata-se
de um alcoólatra não-tratado.
Mais um caso para um bom psiquiatra, não fosse a figura em
questão George Walker Bush, o
43º presidente dos Estados Unidos, que completa 58 anos amanhã. Pelo menos segundo polêmica análise de Justin Frank, autor
do livro "Bush on the Couch"
(Bush no divã, Regan Books,
2004), lançado no mês passado
com grande barulho nos EUA.
Nas 272 páginas, o psiquiatra
lança mão do método conhecido
como "psicanálise aplicada", que Sigmund Freud
(1856-1939)
utilizou em
seus estudo
sobre Leonardo da Vinci,
por exemplo,
para traçar
um perfil psicológico de
Bush, suas relações com o
pai, o ex-presidente George H. W. Bush,
a mãe, Barbara, e as filhas,
as gêmeas Jenna e Barbara.
O diagnóstico
assusta.
O republicano deveria renunciar e "entrar para os Alcoólicos
Anônimos", diz Frank, que é professor de psiquiatria do Centro
Médico da Universidade George
Washington, professor de análise
do Instituto de Psicanálise de
Washington e fundador da renomada ONG Médicos com Responsabilidade Social -além, é
claro, de se declarar democrata.
Ele tem sido chamado a dar entrevistas em emissoras como a
CNN, em que é aplaudido por
eleitores do senador John Kerry, o
candidato democrata às eleições
de novembro, e execrado pelos
simpatizantes de Bush, que o acusam no mínimo de "antipatriota".
Tanto bate-boca levou o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, a se manifestar sobre a obra,
a pedido da imprensa: "A Casa
Branca não faz resenha de livros."
Frank conversou com a
Folha por telefone a partir
de seu consultório em Washington. Leia a
seguir os principais trechos:
Folha - O que
o levou a escrever um livro como "Bush on
the Couch"?
Justin Frank -
Fiquei muito
perturbado
pelo que tenho
visto o presidente Bush fazer, um certo
tipo de discurso e comportamento, uma visão
preto e branco das coisas, na linha
"ou você está conosco ou é contra", e também pela sua história
de alcoólatra. Uma semana depois da eleição dele ninguém mais
tocava no assunto de que ele foi
preso dirigindo bêbado alguns
anos atrás. Essa história, aliás, é
simbólica: ele continuou bebendo
por mais dez anos depois da prisão, ou seja, não se arrependeu.
Folha - O.k., mas o que estaria errado com o presidente George W.
Bush, psicologicamente falando?
Frank - Para começar, ele é um
homem que tem uma cabeça
muito conflituosa e não consegue
organizar seus pensamentos. Por
isso, tende a buscar soluções muito simplistas. Tem um traço forte
de crueldade e sadismo e também
tem sempre de intimidar, porque
não consegue usar a razão ou dar
argumentos a seu favor.
Folha - No livro, o sr. dá a entender que a invasão do Iraque se deveu principalmente a esses problemas psicológicos. Como assim?
Frank - É isso mesmo. Do ponto
de vista psicológico, é muito melhor para ele ir atrás de Saddam
Hussein, porque é mais fácil para
ele projetar seus desejos assassinos em relação a seu pai em Saddam Hussein, para que ele possa
dizer, "Veja, eu estou atrás de
Saddam Hussein, é ele que quer
matar meu pai, não eu". Só que,
inconscientemente, quem quer
atingir seu pai na verdade é Bush.
Folha - E por que ele quereria matar o pai? O sr. não estaria levando
o complexo de édipo muito ao pé
da letra?
Frank - Na verdade, não, pois
Bush se dá muito mal com a mãe
também. Mas o problema com o
pai é uma mistura de raiva pelo
desprezo e pela distância
com que ele o tratou durante a infância e adolescência com a competição
entre os dois, pelo filho
ter alcançado o mesmo
cargo que o pai anos depois.
Folha - O sr. diz que ele é
um alcoólatra não-tratado. Qual o problema, se de
fato ele não bebe mais?
Não era esse o objetivo?
Frank - Sim, mas ele
não teve seu alcoolismo
tratado, apenas parou de
beber. Ele próprio diz isso em sua biografia. E é
muito importante que
você tenha as causas de
seus problemas tratadas.
Por isso Bush não consegue ser introspectivo,
continua culpando os
outros quando algo dá errado,
não tem remorso de nada e lhe
falta a habilidade de pedir desculpas, ou seja, continua com todas
as características do alcoólatra.
Folha - Com base em que o sr. o
chama de sádico?
Frank - Quando ele era criança,
costumava estourar sapos com
bombinhas. Acredito que no Brasil tenha muito sapo, então acho
que ele adoraria o seu país. (Risos). Na universidade, nos dormitórios de estudantes, ele costumava queimar a bunda dos novatos
com a brasa do cigarro como uma
forma de iniciação, e ele dizia que
era apenas uma brincadeirinha.
No meu livro eu questiono, digo
"Pode ser apenas uma brincadeirinha, mas quem anda por aí
queimando os outros?"
Folha - Como isso se refletiria e
que importância isso teria em seu
trabalho atual?
Frank - Ele não mostrou nenhum interesse
em ir a fundo nas denúncias das torturas que estavam acontecendo com
os prisioneiros no Iraque. Ele não fez nada para tentar pará-las, não
exonerou ninguém.
Bush agora permite que
outras pessoas sejam sádicas em seu lugar. Há
muitas evidências de seu
prazer no sofrimento de
outras pessoas. Ele ficou
muito excitado quando
Saddam foi capturado
naquelas condições subumanas, mas sua excitação estava no limite da
crueldade. E ele faz isso
regularmente, é muito
cruel nas entrevistas coletivas, o que ele disfarça com seu
senso de humor.
Folha - O sr. diz que ele não tem
capacidade de lamentar perdas.
Por que isso é um problema?
Frank - Sua irmã morreu quando ele tinha 7 anos, vítima de leucemia. Seus pais nunca o deixaram sofrer por isso. Simplesmente o assunto foi proibido pela família, não houve velório nem enterro público. O importante de se
fazer isso é que, para crescer como pessoa, você tem de sofrer
suas perdas, porque isso vai ensiná-lo a lidar com suas próprias
culpas, sua raiva. Se nós não sofremos, nós não pensamos nas
conseqüências de nossas ações.
Não é por outro motivo que ele
proibiu que as fotografias dos soldados mortos no Iraque fossem
divulgadas para o público...
Folha - O sr. escreve que ele é paranóico, megalomaníaco e tem um
falso sentimento de onipotência.
Frank - Ele é paranóico em relação à imprensa, por exemplo,
acha que os jornalistas estão sempre fazendo pegadinhas com ele, é
muito desconfiado. Já a megalomania vem de suas conexões com
Deus, de sentir-se o mensageiro
de Deus na Terra -aliás, ele mesmo disse isso, com essas palavras.
Folha - O sr. afirma que a mãe dele tem problemas em se conectar
emocionalmente com o filho.
Frank - Sim, porque quando ela
era pequena também não tinha
nenhuma ligação com sua mãe,
que era muito dura e fria. Ela ficou
do mesmo jeito quando se tornou
mãe. Aliás, quando a avó de Bush
morreu, a própria filha não foi ao
enterro. Ela sempre foi muito dura, muito séria e brava com o pequeno George.
Folha - O sr. acredita que ele reproduz essa relação com as filhas?
Frank - Sim, ele é muito distante
delas. Na verdade, não existe nenhuma foto dele com as duas depois da infância delas, eles evitam
ter contato, elas nunca vão à Casa
Branca, eles nunca fazem nada
junto e, comparados com os filhos de todos os outros presidentes americanos, elas são de longe
as mais distantes. É dramático. As
filhas não convidaram o pai para
as festas de formatura das faculdades de nenhuma das duas, por
exemplo. Para ele, não há nada de
estranho nisso. Afinal, é assim
que ele trata o povo americano.
Folha - O sr. diz que ele pode ter
dislexia, hiperatividade e transtorno do déficit de atenção.
Frank - É bastante provável. Ele
não lê jornais, não lê livros...
Folha - O sr. já encontrou o presidente Bush pessoalmente?
Frank - Não.
Folha - E isso não ajudaria em sua
análise?
Frank - Bem, talvez ajudasse se eu
pudesse passar bastante tempo
com ele, o que nunca aconteceria... Mas, veja, isso é a psicanálise
aplicada, Freud fez o mesmo em
relação a Leonardo da Vinci, Moisés e o Pequeno Hans (nome fictício de Herbert Graf, o primeiro
paciente criança tratado pelo método psicanalítico, cujo caso viraria o livro "Análise de uma Fobia
em um Menino de 5 Anos", publicado no começo do século 20).
Folha - Quais foram suas fontes?
Frank - Praticamente todas as
entrevistas que Bush já deu na vida, todos os discursos que já fez,
sua autobiografia, que é um livro
chamado "A Charge to Keep", as
memórias de sua mãe, a autobiografia de seu pai, biografias dele
escritas por pessoas de diversas
orientações políticas e principalmente ouvindo-o no rádio e prestando atenção a tudo o que ele
disse desde que assumiu a Casa
Branca. Não usei nada cujo acesso
não fosse público, disponível a
qualquer um.
Folha - Como analista, qual tratamento o sr. recomendaria a ele?
Frank - Bush deveria entrar para
os Alcoólicos Anônimos. Na verdade, o único jeito de conseguir
fazê-lo se tratar é convencê-lo de
que ele precisa de tratamento, e o
único jeito de convencê-lo é deixá-lo ansioso, e enquanto ele for
presidente nunca vão permitir
que ele tenha ansiedade, então o
único jeito é tirá-lo da Casa Branca nas eleições de novembro...
Folha - O sr. pretende votar nele?
Frank - Não, senhor.
Folha - O sr. votou nele?
Frank - Não, senhor. É um homem muito assustador.
Folha - Quanto tempo o sr. se dedicou a esse livro?
Frank - Um ano e meio.
Folha - Qual o assunto de seu próximo livro?
Frank - Não sei, esse é o meu primeiro, e eu sou muito velho... Só o
escrevi porque senti que tinha de
fazê-lo. Sou um professor, dou
aulas e tenho pacientes, não escrevo regularmente, dou palestras de
vez em quando, escrevo trabalhos, mas nunca escrevi um livro
assim. Só decidi que não dava
mais para ficar calado.
Folha - O sr. é assumidamente democrata, e fez um perfil negativo
de um presidente republicano. Faria o mesmo do candidato democrata, o senador John Kerry, mesmo que o resultado não fosse beneficiá-lo?
Frank - Sim, claro, só que levaria
muito tempo, um ano pelo menos. Mas eu faria.
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