São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Radicais querem destruir opção de paz, diz britânica

Para chanceler Beckett, seqüestro de soldado israelense vai reverter avanços

No Brasil, ministra afirma que relação com o governo dos EUA é "geralmente benéfica" e diz que governo estuda saída do Iraque


CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

O seqüestro do soldado israelense na faixa de Gaza é uma tentativa de grupos radicais palestinos de impedir qualquer chance de uma negociação de paz com Israel, na avaliação da chanceler do Reino Unido, Margaret Beckett. No Brasil nos últimos dois dias, Beckett teve encontros com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim, com quem discutiu temas como mudança climática e desenvolvimento sustentável. "E nos compadecemos das nossas seleções", disse, bem-humorada. Leia trechos da entrevista que Beckett deu à Folha ontem, em São Paulo.

 

FOLHA - O Irã tem alguns dias para dizer se aceita ou não a oferta feita pela comunidade internacional em troca da suspensão de seu programa nuclear. Que ações podem ser adotadas?
MARGARET BECKETT -
A decisão dos cinco membros permanentes [EUA, Reino Unido, China, França e Rússia] e da Alemanha foi de suspender as ações dentro do Conselho de Segurança e convidar o Irã a negociar e colocar uma série de propostas que tornariam vantajoso para o país negociar em vez de perpetuar o conflito, dando uma oportunidade real para que eles atinjam os objetivos que afirmam querer. Em outras palavras, se o que o Irã quer é acesso a um poderio nuclear civil moderno, há outras maneiras pelas quais pode obtê-lo no lugar da que está empregando agora. Se eles suspenderem suas atividades aí veremos como chegar a um acordo negociado. A comunidade internacional acredita que exista uma saída negociada para esse dilema.

FOLHA - O Quarteto [EUA, Rússia, ONU e União Européia] ainda pode ter um papel importante de mediação no Oriente Médio?
BECKETT -
O Quarteto deve continuar tendo um papel importante. Mas isso não é uma razão para que outros países não contribuam. O Egito parece estar envolvido nos diálogos sobre as atuais dificuldades. Como no caso do Irã, há uma grande preocupação de toda a comunidade internacional e grande pressão sobre israelenses e palestinos para agir da forma mais contida possível e evitar ações desproporcionais. Pessoalmente, é absolutamente claro que as pessoas que mataram dois soldados israelenses e seqüestraram um querem romper o potencial que havia de uma negociação pacífica. Houve passos bem pequenos, mas positivos, na direção correta. E as ações tomadas foram uma tentativa de destruir a esperança de paz que esses passos representavam.

FOLHA - Tony Blair disse hoje [ontem] que poderia reduzir suas tropas no Iraque em 18 meses. Quais são os planos britânicos de retirada?
BECKETT -
Não vi em detalhes o que o premiê disse, mas posso dizer é que há um processo de discussão no Iraque para avaliar em que momento a polícia e as Forças Armadas iraquianas estarão suficientemente equipadas e treinadas para assumir o controle sobre a segurança. Está sendo discutido em termos práticos a situação em cada uma das Províncias, e já foi tomada a decisão para que uma delas, Muthana, seja entregue às forças iraquianas. A intenção é que um processo similar prossiga nas outras Províncias.

FOLHA - Quais são os prós e os contras do relacionamento que o Reino Unido mantém com os EUA?
BECKETT -
O lado bom das coisas é que o Reino Unido tem relações fortes com os EUA, e acreditamos que esse relacionamento é em geral benéfico. Por exemplo, Blair fez do combate à pobreza e da mudança climática as prioridades na nossa Presidência do G8 [grupo dos países mais ricos e a Rússia] no ano passado e, graças em parte ao nosso relacionamento, os EUA adotaram passos substanciais nesses assuntos, passos que eles talvez não tivessem adotados se não tivessem sido postos em uma situação em que esses temas eram prioritários e se não houvesse uma influência positiva de pessoas aliadas e não tão críticas. O lado ruim é que toda vez que alguém posiciona os EUA sobre qualquer assunto, nos colocam junto, seja aquele o nosso lugar ou não [risos].

FOLHA - O resultado das investigações sobre a morte de Jean Charles de Menezes deveria ter sido divulgado no mês passado.
BECKETT -
Não tenho conhecimento disso. Essa é uma investigação independente. O governo não tem controle nem informação sobre ela.

FOLHA - O Protocolo de Kyoto entrou em vigor apesar dos EUA. Que incentivos eles teriam para aderir a um acordo pós-Kyoto?
BECKETT -
Segurança energética e segurança climática. São dois lados da mesma moeda. Os EUA não estão imunes às mudanças climáticas. Alguns Estados americanos na costa leste estão começando a criar esquemas de troca de carbono em projetos experimentais, a maioria, aliás, sob governos republicanos. Um número grande de cidades americanas está estabelecendo para si próprias metas de carbono. Então há uma movimentação.


Texto Anterior: Foco: Israel lembra 30 anos da operação que libertou 98 em aeroporto de Uganda
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.