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ANÁLISE
Retorno de presidente não trará estabilidade
DO ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
Há uma semana, Honduras
tem dois presidentes. Manuel
Zelaya está sendo recebido com
honras de Estado por todos os
países e organismos por onde
passa, mas corre o sério risco de
ser preso e de provocar uma
onda de violência se pisar no
seu país. Já Roberto Micheletti
é reconhecido por todas as
principais instituições hondurenhas, mas é rotulado de golpista fora de suas fronteiras.
O erro imperdoável da deposição de Zelaya é seu formato.
No século 21, ninguém mais
aceita que um presidente seja
retirado do país de pijama sob a
mira de rifles e que o Congresso
apresente uma carta de renúncia que tudo indica ser falsa.
Na comunidade internacional, a condenação foi unânime
e reacendeu o temor de ações
semelhantes contra presidentes fragilizados, como Álvaro
Colom, da vizinha Guatemala.
Mas as aparências de golpe
clássico enganam. Os militares
não assumiram o Executivo. E
não há nenhum motivo, até
agora, para duvidar que haverá
eleições presidenciais em 29 de
novembro, com rigorosamente
os mesmos candidatos inscritos antes da queda de Zelaya.
Esse é o paradoxo da deposição, pois interrompeu, de forma atabalhoada, o continuísmo
previsto na cartilha de Hugo
Chávez, já implantada na Bolívia e no Equador. Consiste em
convocar uma Constituinte, introduzir a reeleição, convocar
eleições e, claro, ficar no poder
além do mandato inicial. Sempre num ambiente polarizado,
apoiado no fácil discurso de ricos contra pobres.
A iniciativa, deflagrada nos
últimos meses de seu governo,
foi considerada ilegal pela Corte Suprema, pelo Ministério
Público e pelo Congresso. A
Constituição hondurenha, no
artigo 374, deixa claro que o período presidencial é um dos artigos que não podem ser modificados. Mas a Carta falha ao
não prever um processo de impeachment, o que contribuiu
para a atual crise política.
No caso improvável de que
Zelaya volte ao poder, ele não
terá como levar a Constituinte
adiante e governará o pouco
que falta de seu mandato sem
apoio do seu partido, das Forças Armadas, da Igreja Católica, da elite econômica, desmoralizado diante dos demais Poderes e rejeitado por uma significativa parte da opinião pública, cada vez mais polarizada.
O melhor para Honduras teria sido se a carta de renúncia
de Zelaya fosse verdadeira. Ou
que haja uma nova.
(FM)
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