São Paulo, terça-feira, 05 de julho de 2011

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Agência ameaça plano de resgate à Grécia

S&P alerta que irá rebaixar nota do país para ªdefaultº, de calote, se participação privada no pacote for aprovada

Para agência , plano da França e Alemanha é uma ªtransação sob pressãoº e não uma adesão voluntária

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Bem que dois ex-primeiro-ministros, ambos moderados, avisaram ontem que "a Europa está perdendo uma guerra entre seus governos eleitos e agências de 'rating' não eleitas. Os governos estão tentando governar, mas as agências de 'rating' ainda mandam".
É o que diz texto do italiano Giuliano Amato e do belga Guy Verhofstadt para o "Financial Times".
De fato, mal o jornal começou a circular com o artigo, uma das agências de "rating", a Standard & Poor's, lançou um torpedo na linha de flutuação dos planos europeus para socorrer a Grécia com um segundo pacote destinado a evitar o calote da dívida de € 355 bilhões (R$ 802 bilhões).
A agência avisou que as propostas anunciadas pelos bancos franceses e alemães de participação no pacote equivaleriam a "uma transação sob pressão" e, por isso, a S&P rebaixaria a classificação dos títulos gregos ao nível de "default", o termo técnico para calote.

EXIGÊNCIAS
Para entender a chantagem da agência, é preciso recapitular o andamento das negociações para o segundo pacote de ajuda à Grécia. A Alemanha exigiu, para participar, que parte da conta fosse coberta pelo setor privado -leia-se, o sistema financeiro, que seria diretamente afetado por um calote.
A França passou a exigir que a participação privada fosse "voluntária". A Alemanha concordou e os dois países chamaram seus respectivos banqueiros para discutir o que e como fazer.
Um pré-requisito era exatamente o de que as agências de avaliação de risco de crédito aceitassem a operação como voluntária mesmo e, portanto, não degradassem os papéis, mais do que já estão degradados.
Os bancos apresentaram propostas que, na avaliação de dois ícones do liberalismo e do jornalismo econômico, ajudam muito mais os próprios bancos do que a Grécia.
Escreveu, por exemplo, "The Economist", em seu número que está nas bancas: "Nem todos detalhes [do plano francês] estão claros mas parece fazer muito pouco para ajudar a Grécia e muito para ajudar os bancos".

ILUSÃO DE ÓTICA
Antes, o jornal "Financial Times" batera na mesmíssima tecla: primeiro, chamou de "ilusão de ótica" a perspectiva de participação efetiva do setor privado.
Depois emendou, em editorial: "O truque de o setor privado garantir a si próprio não pode ser equiparado a uma solução abrangente".
Se nem esse "truque" é aceito por uma das três grandes avaliadoras de risco, fica ainda mais complicado montar o segundo pacote de ajuda à Grécia e, por extensão, mais provável o calote.


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