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São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2003

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INVESTIMENTOS

Guerra ao terror ajuda a tirar recursos que deveriam servir para obras prioritárias, diz associação de engenheiros

EUA enfrentam crise de infra-estrutura

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Relatório divulgado ontem nos EUA revela que o país precisaria investir cerca de US$ 1,6 trilhão (R$ 4,8 trilhões) nos próximos cinco anos para contornar problemas considerados iminentes na área de infra-estrutura.
O valor equivale a cerca de quatro vezes o PIB (Produto Interno Bruto, a soma de tudo o que é produzido por ano) do Brasil.
O estudo é uma atualização de relatório divulgado em 2001, quando a ASCE (sigla em inglês para Sociedade Americana de Engenheiros Civis) alertou sobre a deterioração dos serviços em várias áreas, principalmente no setor de energia elétrica -responsável pelo maior blecaute da história americana, em agosto.
A ASCE recomenda uma série de iniciativas para o governo federal e faz críticas à atual administração por não empenhar-se na aprovação de projetos no Congresso que dariam verbas para obras e atualizações em 12 áreas.
Embora muitas das atividades em cada setor sejam tocadas por empresas privadas ou governos locais, a ASCE faz específicas recomendações apenas para o governo federal, que é o responsável pela maior parte do dinheiro para obras e por determinar as prioridades orçamentárias anuais.
A divulgação do relatório acabou expondo de maneira contundente a fragilidade das contas públicas dos EUA e o fato de a maior parte do atual déficit fiscal americano não estar financiando a melhoria da infra-estrutura no país.
Desde que assumiu, o presidente George W. Bush transformou os superávits fiscais do final da era Clinton (1993-2001) em déficits crescentes. Para 2004, por exemplo, o déficit federal é estimado em US$ 480 bilhões. Projeções baseadas no ritmo e no padrão de gastos federais para os próximos anos estimam que o rombo em 2004 possa se perpetuar até o final da década -atingindo até US$ 4,3 trilhões entre 2004 e 2013.
Os valores não incluem os gastos adicionais que os EUA vêm tendo no Iraque.
O relatório da ASCE avalia que, além da queda na atividade econômica nos dois últimos anos, o esforço e o dinheiro empenhados na prevenção ao terrorismo nos EUA vêm tirando recursos de obras consideradas prioritárias.
"A preocupação americana com as ameaças à segurança é real, como também são os riscos de uma infra-estrutura em colapso", disse o presidente da ASCE, Thomas Jackson.
Em termos gerais, o padrão dos serviços das 12 áreas citadas no relatório é incomparavelmente melhor do que o de países como o Brasil. Mas a avaliação leva em conta apenas o histórico dos serviços nos próprios EUA.
Em 2001, a previsão de investimentos necessários era de US$ 1,3 trilhão, US$ 300 bilhões a menos do que a atual. Na média, o relatório continua qualificando como D+ (pobre+) a média dos 12 setores avaliados. Na área de energia, o estudo mostra que os investimentos em transmissão vêm sendo reduzidos em US$ 115 milhões ao ano nas últimas duas décadas, de US$ 5 bilhões ao ano em 1975 para menos de US$ 2 bilhões ao ano agora. Na geração, o aumento da capacidade instalada vem ficando 70% abaixo do ritmo do crescimento populacional desde o início dos anos 90.
Assim como no setor de energia, onde as propostas do governo são fundamentais, o relatório ressalta a ausência de iniciativas principalmente nos transportes.


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