São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

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Estudiosos temem que nada mais seja tabu para grupos terroristas

WILLIAM KOLE
DA ASSOCIATED PRESS, EM VIENA

No Iraque, terroristas degolam civis em assassinatos exibidos pela internet. Em Israel, se explodem dentro de ônibus lotados. Agora, na Rússia, transformaram uma escola em matadouro.
Cada vez mais, os extremistas estão se tornando ousados e frios na escolha de alvos ditos ""soft". Os especialistas em contraterrorismo dizem temer que nada mais seja visto como tabu para radicais interessados em conseguir impacto e publicidade máximos para sua causa.
""Eles estão atravessando limiares. Não há dúvida nenhuma disso", comentou Jonathan Stevenson, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (EUA).
A escolha desses alvos fáceis é fruto da necessidade de chamar a atenção de um público global no qual está cada vez mais difícil provocar um sentimento de choque, da crescente sofisticação dos terroristas e da cooperação entre grupos que podem ter pouco em comum em termos de causas.
Segundo o especialista em contraterrorismo Rohan Gunaratna, de Cingapura, os extremistas da Tchetchênia vêm, cada vez mais, adotando as táticas da Al Qaeda e de outros grupos terroristas vindos do Oriente Médio.
""Nos últimos tempos eles explodiram mesquitas, atacaram infra-estrutura de transportes, destruíram aviões e, agora, realizaram uma tomada maciça de reféns", disse ele.
""Esses grupos não são inovadores -eles copiam e imitam o que vêem. Em termos de escala, os fatos mais recentes são inusitados. Eles se enquadram na categoria dos ataques espetaculares que lembram a Al Qaeda."
Especialistas que monitoram células terroristas disseram que a tendência a atacar alvos "soft" é inegável e, provavelmente, não pode ser impedida.
No final dos anos 60, seqüestradores palestinos foram os pioneiros no seqüestro de aviões comerciais. Nos anos 70, o IRA (Exército Republicano Irlandês) foi pioneiro no uso de carros-bomba no Reino Unido e na Irlanda do Norte, embora, de modo geral, procurasse evitar a morte de civis em grande número.
Uma década mais tarde, grupos militantes xiitas libaneses pró-iranianos utilizaram os seqüestros com efeito máximo, mantendo dezenas de estrangeiros em cativeiro durante anos.
Na década de 90, os alvos preferidos passaram a ser embaixadas, prédios governamentais e metrôs.
Mas foram extremistas palestinos os primeiros a fazer amplo uso da estratégia suicida, aproveitando a vantagem apavorante própria de quem não apenas se dispõe a morrer, mas se mostra ansioso por isso.
Nos últimos dez anos, pessoas que se transformaram em bombas ambulantes devastaram o processo de paz no Oriente Médio e mataram centenas de israelenses, transformando cada ida a um café ou saída em ônibus numa aposta de risco.
Mais recentemente, radicais islâmicos começaram a decapitar alguns dos reféns que seqüestram, e imagens em vídeo de alguns dos incidentes chegaram à internet. A tática vem causando medo e repulsa possivelmente maiores do que o que seria conseguido com a morte de um número maior de inocentes de maneira menos extraordinária.
Uma explicação possível para a tendência ao aumento da crueldade e do choque é que as táticas que provocaram ultraje internacional 20 anos atrás -como o seqüestro do navio italiano Achille Lauro, em 1985, por militantes palestinos que mataram um turista americano preso a uma cadeira de rodas e atiraram seu corpo ao mar- podem parecer relativamente brandas num mundo ainda estarrecido com os ataques de 11 de setembro de 2001. ""Os militantes agora tentam ferir seus inimigos de qualquer maneira possível, então buscam alvos fáceis como escolas e estações de metrô", disse Dia'a Rashwan, especialista egípcio em extremismo islâmico.


Tradução de Clara Allain


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