São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Fim de fome na Somália é impossível, diz médico

Médicos sem Fronteiras diz que doar é 'pouco'

TRACY McVEIGH
DO "GUARDIAN"

O presidente internacional da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), Unni Karunakara, pediu que as agências humanitárias parem de traçar um retrato da fome na Somália que induz ao erro e que reconheçam que é quase impossível ajudar as pessoas mais afetadas pelo problema.
Segundo Karunakara, praticamente nenhuma agência está conseguindo trabalhar no interior da Somália, país em guerra, onde a situação é "profundamente aflitiva".
Ele criticou outras organizações e a mídia por "passarem por cima" da realidade para convencer as pessoas de que apenas doar dinheiro para alimentos é a resposta.
De acordo com Karunakara, as agências vêm conseguindo prestar assistência médica e nutricional a dezenas de milhares de pessoas em acampamentos do Quênia e da Etiópia, que vêm recebendo números enormes de refugiados da Somália.
Mas tentar ter acesso às pessoas que estão no epicentro do desastre vem sendo um esforço lento e difícil.
O uso de frases como "a fome no Chifre da África" ou "a pior seca em 60 anos", segundo o médico, ocultam os fatores "criados pelo homem" que geraram a crise no país.

CRISE
Uma guerra entre o governo de transição, que tem o apoio de países ocidentais e de tropas da União Africana, e grupos oposicionistas armados islâmicos, está em curso na Somália.
"O povo somali vive há 20 anos em um país em guerra, sem governo, enfrentando longos períodos de carência, fome e seca", explica Karunakara. "A falência desta [última] colheita foi apenas a gota d'água que o empurrou pelo abismo desta vez."
Outro fator que complica o trabalho das organizações são as fortes lealdades de clãs, que impedem o acesso de assistência internacional independente a muitas comunidades.
"Nossos profissionais enfrentam o risco de serem alvejados. Mas passar por cima das causas humanas da fome na região e das dificuldades maiores para enfrentar a fome não vai ajudar a resolver a crise", diz o médico.

DESENTENDIMENTO
Iam Bray, porta-voz da ONG Oxfam, disse que não ajuda se há uma percepção de desentendimentos entre diferentes organizações humanitárias.
"Uma seca é uma ocorrência natural; uma fome generalizada é causada pelo homem. Não andamos por aí dizendo às pessoas que temos uma varinha mágica."

TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN


Texto Anterior: Defesa: Genoíno é vaiado ao chamar missão no Haiti de 'civilizatória'
Próximo Texto: Clima: Tufão mata 18 e desloca cerca de 500 mil no Japão
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.