FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Até há pouco considerada uma "comunidade invisível" em meio ao caldeirão americano, a imigração brasileira fechou o ano fiscal de 2005 com o recorde de 31.070 "indocumentados" detidos na fronteira EUA-México entre 1º de outubro de 2004 e o último 30 de setembro -número superior à soma dos presos nos cinco anos anteriores.
Os números de 2005, fechados na semana passada e repassados à Folha pela Patrulha da Fronteira, mostram que o fluxo migratório de brasileiros tem crescido a um ritmo maior do que o de outros países "exportadores".
Com a média de 85 presos por dia dos últimos 12 meses, os brasileiros ficaram em quarto lugar no total de detenções, atrás apenas do imbatível México (número não divulgado), de Honduras (52.765) e de El Salvador (39.305).
Em 2004, o Brasil ficou em quinto, atrás também da Guatemala. Em 1999, o país ocupava o sétimo lugar, com 488 detidos. Desde esse ano até 2004, 21.404 brasileiros foram detidos ao tentar atravessar a fronteira, segundo a Patrulha da Fronteira, subordinada ao Departamento de Segurança Interna.
Fenômeno estabelecido desde os anos 1980, a explosão do número de imigrantes brasileiros presos neste ano chamou a atenção da grande imprensa americana, transformou-se em tema de novela das oito da Globo e provocou a revogação de um acordo de isenção de exigência de visto entre o Brasil e o México.
Vários jornais, entre eles o "New York Times" e o sisudo "Wall Street Journal", publicaram reportagens sobre o crescimento. Recentemente, a prestigiosa rádio NPR iniciou uma série de reportagens sobre os "brazucas".
"O problema dos brasileiros em direção aos EUA é notável por várias razões. Em primeiro lugar, é uma lembrança de que nem a distância ou a dificuldade detêm os imigrantes. Em segundo lugar, uma lição maior é a de que a prosperidade econômica no exterior não é a solução que muitos governantes esperavam. De fato, os números de imigrantes brasileiros têm crescido à medida que sua economia melhora", analisou o "WSJ", em artigo recente.
O jornal "Boston Globe" publicou recentemente uma pesquisa na qual os brasileiros aparecem como o maior fluxo de imigrantes recém-chegados ao Estado de Massachusetts (nordeste): entre 2000 e 2003, um de cada cinco recém-chegados era brasileiro. Na cidade de Framingham, os brasileiros são 33% dos estrangeiros residentes, segundo o jornal.
A grande incógnita desse fluxo imigratório é saber qual será o impacto da volta da exigência de visto para brasileiros entrarem no México. A medida entra em vigor no dia 23 deste mês.
"Vai custar mais caro para as pessoas virem aqui, mas será impossível parar a imigração", afirma Fausto da Rocha, 45, diretor-executivo do Centro do Imigrante Brasileiro, que atua há mais de dez anos na região de Boston.
"A imigração não é só econômica, também há a separação das famílias. A pessoa vem para cá, começa a se dar bem e aí faz o possível e o impossível para trazer a sua mulher, o seu filho", diz Rocha.


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