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Viúva e filhos de Pinochet são presos
Para juiz, parentes de ditador chileno participaram de desvio de verbas que teria originado a fortuna da família, de US$ 27 mi
Justiça também ordenou a prisão de mais 17 pessoas, entre elas dois generais da reserva, dois coronéis e advogados de Pinochet
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
O juiz chileno Carlos Cerda
ordenou ontem a prisão da viúva do ditador Augusto Pinochet, Lucía Hiriart, e dos cinco
filhos do casal, acusados de
malversação de dinheiro público no inquérito que apura a origem dos cerca de US$ 27 milhões mantidos pela família em
contas bancárias no exterior.
Outras 17 pessoas, entre elas
dois coronéis da ativa e 11 militares da reserva, também tiveram a ordem de prisão decretada, sob a mesma acusação.
O grupo de colaboradores de
Pinochet, morto em dezembro
passado, inclui sua ex-secretária particular, ex-advogados,
dois generais da reserva e um
ex-procurador-geral do Estado.
Todos os detidos são também
agora réus na ação.
"Há presunções fundamentadas, também justificadas na
resolução, no sentido de que essas pessoas, que são parentes
de Augusto Pinochet Ugarte,
que em paz descanse, tiveram
participação neste delito [desvio de dinheiro público]", disse
o juiz, ao divulgar sua decisão.
Ao ser informada da prisão,
Lúcia Hiriart, 84, sofreu alteração de pressão arterial e foi levada a um hospital militar, informou o advogado da família.
De todo modo, pela idade, ela
deve ficar em prisão domiciliar.
Os cinco filhos de Pinochet
-Augusto, Lucía, Marco Antonio, Jacqueline e Verónica-,
detidos provisoriamente em
um prédio da Polícia de Investigações, foram levados à tarde
para presídios. O traslado foi
transmitido por TVs locais.
Questionada sobre o caso, a
presidente chilena, Michelle
Bachelet, disse ontem que as
detenções demonstram que
"ninguém no Chile pode acreditar que está acima da lei".
O governo informou que os
dois coronéis da ativa presos
-um deles foi secretário particular de Pinochet- não foram
desligados automaticamente
do Exército porque são inocentes até serem julgados.
Caso Riggs
A ação que originou as detenções é o chamado caso Riggs,
que investiga a origem da fortuna dos Pinochet distribuída em
contas bancárias secretas nos
EUA. Auditoria revelou que o
banco americano Riggs o havia
ajudado a criar empresas fantasmas e a alterar, usando passaportes falsos, os nomes de
contas suas e de sua família.
Em julho de 2004, o Senado
dos EUA informou que, entre
1994 e 2002, o general havia
mantido escondidos no Riggs
US$ 8 milhões. Até então, apesar das acusações de homicídio
e seqüestro, a idoneidade financeira do general não havia
sido questionada no Chile. Hoje, estima-se que esses depósitos somem US$ 27 milhões.
Segundo a investigação judicial, as verbas foram desviadas
da chamada Casa Militar, espécie de gabinete ministerial militar paralelo que funcionou
durante os últimos anos do regime Pinochet (1973-1990).
Com o fim do governo, seguiu
funcionando como "clube".
O advogado da família, Pablo
Rodríguez Grez, classificou as
prisões como arbitrárias e informou que irá pedir a anulação do ação. A defesa diz que o
dinheiro é fruto de doações,
economias e rendimentos.
Não é a primeira vez que a
Justiça detém integrantes do
clã Pinochet, que já foram acusados de sonegação fiscal e falsidade ideológica. Em janeiro
de 2006, Lucía Hiriart e quatro
de seus filhos foram detidos. À
época, a mais velha, Lucía, se
disse perseguida política e tentou, sem sucesso, obter asilo
nos Estados Unidos.
A novela jurídica deve ser
longa. Um dos motivos é que a
defesa acusa o juiz Cerda de
não ser neutro -ele ficou afastado do caso por um ano por esse motivo. Há também decisões
anteriores favoráveis aos réus.
Imagem de Pinochet
Para o analista político chileno Patrício Navia, o desdobrar
de ontem do caso Riggs demonstra que "a Justiça avança
mais fácil em temas de corrupção e enriquecimento ilícito de
ex-ditadores do que em violações de direitos humanos".
Pinochet morreu sem ter sido julgado pelas dezenas de
mortes e "desaparecimentos"
pelos quais era acusado.
"A imagem pública que ficará
de Pinochet é uma questão para os historiadores, mas a
transformação de sua família
em ré contribui para destruir a
imagem de ditador bem-intencionado", completa Navia.
"As violações de direitos humanos muitas vezes são justificados como "excessos", mas corrupção é mais difícil de justificar, porque, além de tudo, leva
tempo para planejar", diz.
Com agências internacionais
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