São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2007

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Duas Coréias avançam para "paz permanente"

Sul deverá aumentar investimentos no Norte; questão nuclear ainda é temor

Acordo de paz que poria fim oficial ao conflito de 1953 depende dos EUA, que agora reiteram esperar que Norte confirme desnuclearização

DA REDAÇÃO

Na declaração conjunta publicada ontem em Pyongyang, após três dias de reuniões entre seus dois governantes, a Coréia do Norte e a Coréia do Sul disseram-se dispostas a "cooperar para pôr fim às hostilidades militares e aliviar as tensões na península". Também se comprometeram a superar "o atual armistício e estabelecer um regime de paz permanente".
Os dois países estão submetidos a um simples armistício depois da guerra que travaram, com a participação americana e chinesa, entre 1950 e 1953. Um tratado de paz depende de negociações que também envolvam Washington e Pequim.
A Casa Branca reiterou ontem que apenas tomará a iniciativa se os norte-coreanos cumprirem a promessa, formalizada anteontem, de desmantelar até 31 de dezembro seus equipamentos nucleares.
O texto da reunião de cúpula, assinado pelo ditador do Norte, Kim Jong-il, e pelo presidente do Sul, Roh Moo-hyun, é menos ambicioso que o redigido em junho de 2000, no primeiro encontro entre os dois países.
Kim e o então presidente do Sul, Kim Dae-jung, mencionaram a reunificação das duas Coréias, em prazo indeterminado, e um período intermediário em que os dois regimes se uniriam numa federação.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon -ex-chanceler sul-coreano-, divulgou nota ontem em que classificou o comunicado final como "um passo na direção da paz permanente e da desnuclearização da península". Em Moscou, a Chancelaria disse "esperar sinceramente que se concretize a declaração de paz assinada pelos dois presidentes".

Cooperação econômica
O "New York Times" afirma que a cúpula de Pyongyang terminou com resultados mais sólidos que os esperados na última terça-feira.
Refere-se aos compromissos econômicos assumidos por Roh, como a construção de um parque industrial em Haeju e a exploração conjunta de uma bacia fluvial. Haeju está próxima ao complexo industrial de Kaesong, onde desde 2004 empresas sul-coreanas empregam assalariados norte-coreanos e que se tornou a região mais desenvolvida da Coréia do Norte.
O Sul também construirá um estaleiro em Nampo, reformará a estrada de ferro que atravessa o Norte em direção à China e construirá, paralela aos trilhos, uma nova rodovia.
O jornal americano diz ainda que os norte-coreanos fizeram uma concessão de peso ao reconhecerem o Sul como signatário em potencial de um acordo de paz. Até agora Pyongyang queria repetir a fórmula de 1953, quando o armistício foi assinado em nome de Seul por Washington e pelos participantes das forças da ONU que combateram em seu nome.
O desmonte do parque nuclear norte-coreano, mencionado numa única e vaga frase do comunicado final, é o ponto vulnerável, diz a France Presse. Segundo o cientista político Yoichiro Sato, baseado no Havaí, Pyongyang tende a não se contentar apenas com os 100 milhões de toneladas de combustível prometidos para abandonar suas ambições nucleares.
Esse "prêmio" foi negociado em Pequim pelo chamado Grupo dos Seis (Rússia, EUA, China, Japão e as duas Coréias) e anunciado anteontem. Sato acredita que Pyongyang poderá pedir mais e descumprir o prazo para a desnuclearização.
Daniel Sneider, da Universidade de Stanford, diz que "o acordo é um passo adiante, mas não modifica fundamentalmente as coisas".

Saúde do ditador
Durante a cerimônia de assinatura, o ditador norte-coreano negou informações sobre sua saúde que circulam na mídia sul-coreana. Kim, que tem 65 anos, disse não ser diabético nem ter problemas no coração.
Uma agência de Seul citou a passagem por Pyongyang de uma equipe médica alemã no início do ano. "Ele não consegue andar nem 30 metros", disse o texto, que, no entanto, afirma que isso não o inutiliza para o exercício do poder.


Com agências internacionais


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