São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2007

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Junta birmanesa admite receber oposição

Governo impõe pré-condições para encontro com Aung San Suu Kyi, líder pró-democracia hoje em prisão domiciliar

ONU afirma que missão de quatro dias em Mianmar fracassou; o Conselho de Segurança do organismo discute hoje ações futuras

Associated Press
Monge budista é visto nas ruas de Yangun após repressão


DA REDAÇÃO

Enquanto a ditadura de Mianmar (antiga Birmânia) esmaga o movimento pró-democracia, o chefe da junta militar governante levantou ontem a possibilidade de se reunir com a principal líder da oposição, Aung San Suu Kyi, que está em prisão domiciliar.
Recheada de pré-condições, a oferta aparentemente visa afastar a chance de sanções econômicas contra Mianmar e demonstrar flexibilidade para a vizinha China, principal parceiro econômico do país, que vem exercendo pressão discreta pela volta da estabilidade.
A TV estatal afirmou ontem que o encontro do chefe da junta militar, general Than Shwe, com a líder oposicionista só ocorrerá se ela abandonar a busca por "confrontação e sanções". A oferta foi apresentada pelo general ao enviado especial da ONU a Mianmar, Ibrahim Gambari, que deixou o país na última terça-feira.
Apesar do convite, a visita, segundo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fracassou. Ban disse que a viagem de Gambari, que levou "a mais forte mensagem" à junta militar, "não foi um sucesso". "Vamos discutir hoje com os membros do Conselho de Segurança da ONU que ações adotar."
A violência em Mianmar foi deflagrada depois que o movimento opositor chegou a reunir 100 mil manifestantes em marchas antigoverno. Os protestos foram iniciados em 19 de agosto, estimulados por aumentos de preços de combustíveis, mas rapidamente se tornaram pró-democracia. Os birmaneses -40% dos quais vivem com menos de US$ 1 por dia- se revoltaram contra o governo ditatorial, no poder desde 1962.

Estados Unidos
Até ontem, a única resposta pública aos protestos contra a ditadura havia sido a dura repressão aos manifestantes, que levou à morte de dez pessoas e à prisão de 2.093 -segundo dados do governo. Para grupos dissidentes, mais de 6.000 pessoas foram detidas e 200 morreram.
A junta militar também convidou para uma reunião hoje um representante dos Estados Unidos -um dos principais defensores de sanções contra Mianmar- na capital do país, Naypyidaw, em mais uma tentativa de mostrar flexibilidade.
As ações, vistas com ceticismo pela maior parte da comunidade internacional, foram elogiadas pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Liu Jinchao. "A situação se acalmou nos últimos dias. Isso é resultado dos esforços conjuntos das partes relevantes em Mianmar e da comunidade internacional", afirmou o porta-voz. Pequim continuamente se opôs à aplicação de sanções contra Mianmar no âmbito do Conselho de Segurança da ONU.
Os resultados modestos das negociações com a junta birmanesa foram divulgados ao lado de novas notícias sobre mortes de opositores e contínuas prisões de dissidentes -muitas das quais realizadas no meio da noite por agentes de segurança do Exército de Mianmar.
Ex-detidos relataram que, nas prisões, foram divididos em categorias: os que participaram ativamente nos protestos, os que apoiaram os manifestantes e os que apenas passaram pelas marchas -e que as punições eram correspondentes ao grau de dissidência. O governo disse que já libertou 692 pessoas -entre elas uma funcionária local da ONU.


Com agências internacionais


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