São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA/ ECOS DOS ANOS 60

Rivais exploram vínculo de Obama com ex-radical

Relação com Bill Ayers é subestimada por candidato e amplificada por conservadores

Fundador de grupo que promoveu atentados, Ayers é professor de educação em Chicago e trabalhou em ONG com o democrata

SCOTT SHANE
DO "NEW YORK TIMES", EM CHICAGO

Numa reunião de militantes contra a Guerra do Vietnã em 1969, no Coliseu de Chicago, Bill Ayers ajudou a fundar a organização radical Weathermen, lançando campanha de atentados a bomba que iria alvejar o Pentágono e o Capitólio.
Vinte e seis anos mais tarde, Barack Obama conheceu Ayers, já professor universitário de educação, num almoço e reunião sobre reforma escolar num arranha-céu de Chicago. Desde então, os caminhos dos dois se cruzaram esporadicamente: num café promovido por Ayers para a primeira candidatura de Obama a um cargo público; no projeto das escolas; no conselho de direção de uma organização beneficente e em encontros casuais em Hyde Park, onde ambos residem.
O relacionamento entre eles virou alvo da atenção de adversários de Obama, candidato democrata à Presidência. Videoclipes difundidos no YouTube justapõem o rosto de Obama com o de Ayers quando jovem ou com imagens dos atentados.
Em entrevista na primavera passada, o rival republicano de Obama, senador John McCain, perguntou: "Como você pode tolerar alguém que participou de atentados a bomba que poderiam ter matado pessoas inocentes ou as mataram?"
Conservadores que acusam Obama de ter uma agenda radical oculta passaram a afirmar que ele agiu de maneira enganosa ao minimizar seu relacionamento com Ayers, descrito pelo candidato como apenas "um sujeito que vive em meu bairro" e "alguém que conheço que trabalhou com questões de educação em Chicago".
[Em campanha ontem no Estado do Colorado, a candidata a vice de McCain, Sarah Palin, acusou Obama de "andar por aí com terroristas".]
Uma revisão dos históricos do projeto escolar e entrevistas com uma dúzia de pessoas que conhecem Obama e Ayers sugerem que Obama, 47, retratou seus contatos com Ayers, 63, como tendo sido menos importantes do que foram de fato. Mas nada indica que os dois tenham tido uma associação estreita. E Obama descreveu Ayers como "alguém que praticou atos odiosos 40 anos atrás, quando eu tinha 8 anos".
Assessores da campanha de Obama dizem que seu relacionamento com Ayers vem sendo exagerado por seus adversários. O porta-voz Ben LaBolt disse que Ayers e o democrata se conheceram em 1995 por meio do projeto educacional, o Desafio Chicago Annenberg, e desde então toparam um com o outro ocasionalmente na vida pública e no bairro em que vivem. Segundo ele, os dois não falaram ao telefone nem trocaram e-mails desde que Obama entrou para o Senado, em 2005.
Em Chicago, Ayers já foi em grande medida reabilitado. As acusações federais de provocar tumulto e participar de conspirações para explodir bombas foram arquivadas em 1974 devido a grampos telefônicos ilegais e outros erros da Promotoria. Após anos na clandestinidade, ele foi recebido de volta por sua família. Seu pai, Thomas G. Ayers, foi executivo da empresa de eletricidade local Commonwealth Edison.
Desde que conquistou um doutorado em educação em Columbia, em 1987, Ayers é professor na Universidade do Illinois. "Ele já fez muito bem nesta cidade e em nível nacional", disse o prefeito Richard M. Daley, que há anos consulta Ayers sobre questões do ensino. Daley disse que vê os atentados a bomba daquela época no contexto de uma era turbulenta. "As pessoas cometem erros. Julga-se uma pessoa por sua vida inteira", disse.
Essa atitude é largamente compartilhada em Chicago, mas não é universal. O colunista do "Chicago Tribune" Steve Chapman criticou Obama por ter contatos com Ayers. "Acho que atentados terroristas não prescrevem", disse, falando não das implicações legais, mas políticas e morais dos atos. "Se McCain tivesse uma relação de anos com alguém que tivesse explodido bombas em clínicas de aborto, acho que as pessoas não diriam "tudo bem, isso é história antiga"."


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