São Paulo, Sexta-feira, 05 de Novembro de 1999
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COLÔMBIA
Presidente diz que, se o governo colombiano pedir, negocia com guerrilheiros para auxiliar processo de paz
FHC admite dialogar com guerrilha

LARISSA PURVINNI
da Redação

O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou estar disposto a conversar com a guerrilha para auxiliar o processo de paz na vizinha Colômbia. "Se o governo da Colômbia nos pedisse, dialogaríamos com a guerrilha", afirmou em entrevista ao jornal colombiano "El Tiempo".
FHC descartou a participação do Brasil em uma eventual intervenção militar no país. "O Vietnã foi ontem. E nós não queremos ser a polícia da América do Sul."
Recentemente, autoridades dos EUA declararam que o conflito colombiano ameaça a estabilidade da região e que a guerrilha age militarmente em outros países, incluindo o Brasil.
Os EUA disseram descartar ação militar, mas passaram a tentar convencer os vizinhos a oferecer ajuda à Colômbia. FHC afirma, no entanto, não ter sido consultado sobre a possibilidade de intervenção nem pela Colômbia nem pelos EUA.
Segundo ele, o Brasil não apoiaria uma intervenção militar nem mesmo se o presidente colombiano, Andrés Pastrana, pedisse.
Para FHC, o Brasil poderia colaborar com a paz apoiando o diálogo entre governo e guerrilha.
A oferta de mediação já havia sido feita pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Ao contrário de FHC, Chávez manifestou intenção de se reunir com a guerrilha com ou sem autorização do governo colombiano, o que gerou protestos do país vizinho.
A maior guerrilha do país, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), tenta ser reconhecida pelo governo brasileiro como "força beligerante". Nesse caso, passaria a ser tratada como um Exército que disputa a soberania com o governo colombiano.
Com esse objetivo, recentemente as Farc pediram autorização para instalar um escritório de representação no Brasil. O Itamaraty informou, na época, que o governo brasileiro não mantinha diálogo com a guerrilha.
A estratégia brasileira vinha sendo a de reforçar a posição de Pastrana, que poderia ficar enfraquecida pela visibilidade internacional da guerrilha.
Em relação a possível acordo para constituição de área de livre comércio entre o Mercosul e o Pacto Andino (formado por Venezuela, Colômbia, Equador e Peru), FHC afirmou que o fato de a Colômbia ser um país em guerra não é motivo de preocupação.
"A Colômbia vive em guerra há 40 anos e, apesar disso, tem democracia, eleições e uma balança comercial que cresce."
Ele definiu o conflito colombiano como uma "guerra institucionalizada". "Dá a impressão de que nenhum dos lados quer arrasar o outro", afirmou.
Em relação a críticas feitas ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, FHC disse que ele "não feriu os princípios fundamentais da democracia". Chávez é acusado pela oposição de autoritarismo. Seus partidários são maioria na Constituinte, que reduziu as funções do Congresso e interferiu no Poder Judiciário.


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