São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Partido que obteve a maioria absoluta do Parlamento na eleição de anteontem diz que manterá postura pró-Ocidente

Após vitória, partido islâmico turco promete moderação

DA REDAÇÃO

Após a ampla vitória nas eleições parlamentares de anteontem na Turquia, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), que tem raízes islâmicas mas rejeita o rótulo de partido muçulmano, prometeu ontem manter a postura pró-Ocidente do país, agindo rapidamente para tentar aplacar os temores de que esse aliado-chave dos EUA pudesse abandonar seu tradicional secularismo.
O atual premiê, Bulent Ecevit, 77, apresentou ontem sua renúncia, após sua agremiação, Partido da Esquerda Democrática (DSP), ter obtido só 1% dos votos. Ele permanecerá no cargo até a formação de um novo governo.
O AKP obteve a maioria parlamentar absoluta nas eleições de anteontem, em grande parte graças ao descontentamento popular por causa da grave crise econômica por que passa o país.
A vitória do AKP poderia provocar medo entre os militares do país, poderosos e assertivamente seculares, que já derrubaram no passado governos pró-islâmicos. Porém o partido vencedor garantiu que não busca o confronto.
O líder do partido, Tayyip Erdogan, 48, disse ontem que o AKP é de centro-direita e não orientado pela religião, acrescentando que suas "práticas futuras mostrarão isso claramente". "Estamos prontos para assumir nossas tarefas, para acelerar a entrada na União Européia, integrar o país à economia mundial e fazer nossos cidadãos turcos se sentirem como cidadãos de primeira classe", disse.
Erdogan relacionou o que ele via como os problemas do país, enfatizando os problemas econômicos e mencionando abusos aos direitos humanos. Ele também citou as "barreiras ao direito da educação", numa referência aparente à controversa restrição ao uso de véus por mulheres muçulmanas nas universidades.
O partido de Erdogan recebeu 34,2% dos votos, enquanto o Partido Popular Republicano (CHP) teve 19,4%. Apesar de o voto ser obrigatório, 21% dos eleitores não compareceram às urnas.
Os demais partidos não obtiveram o mínimo de 10% dos votos necessário para garantir presença no Parlamento. Com isso, o AKP conquistou 363 das 550 cadeiras, enquanto o CHP ficou com 178. As demais nove cadeiras ficaram com candidatos independentes.
Apesar de Erdogan liderar o AKP, sua postulação ao cargo de premiê foi impugnada por ter sido preso, em 1999, após ler publicamente um poema considerado pela Justiça como anti-secular.
O AKP se reunirá hoje para escolher um premiê. Seus membros podem mudar a Constituição para permitir a nomeação de Erdogan -o partido tem apenas quatro votos a menos que o necessário para aprovar uma mudança.
O líder do CHP, Deniz Baykal, se recusou a descrever o AKP como uma ameaça à secularidade turca. "Temos de agir de boa fé. Mas vou manter a precaução."


Com agências internacionais


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