|
Texto Anterior | Índice
Agora, tarefa do vencedor é convencer os militares
RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO
Depois da vitória nas urnas, a
próxima grande tarefa para que o
AKP forme seu gabinete -e para
que ele sobreviva- deve ser convencer as Forças Armadas de que
respeitará o Estado secular.
Desde 1960, a Turquia mantém
a média de um golpe militar a cada dez anos. O último, que derrubou o premiê Necmettin Erbakan
-também acusado de ser religioso demais e secular de menos-
em fevereiro de 1997, foi exemplar: deu-se sem derramamento
de sangue e sem que as tropas
chegassem sequer a sair da caserna. Bastou um ultimato.
A presença castrense é tão forte
na vida política do país que analistas europeus a classificam como
equivalente a um governo paralelo. Eric Rouleau, ex-embaixador
da França na Turquia, chama isso
de "política dos paxás" -uma referência aos antigos líderes militares do Império Otomano.
Os golpes, entretanto, não criaram um problema com a opinião
pública. Pelo contrário, o prestígio das Forças Armadas é enorme, já que são tidos como o baluarte da indivisibilidade turca e
carregam o sentimento de orgulho nacional.
A força dos "paxás" se faz sentir
por meio do CSN (Conselho de
Segurança Nacional), um órgão
de poderes apenas consultivos,
como diz o nome, mas que não
costuma ser contrariado.
Formado pelos seis oficiais mais
graduados da Turquia e por cinco
civis -o presidente, o premiê, o
chanceler, o ministro do Interior e
o da Defesa-, o CSN analisa todos os assuntos do Estado, tanto
internos quanto externos, para fazer suas recomendações.
Poder econômico
Contando com leis e tribunais
especiais, as Forças Armadas se
distinguem também por controlar diretamente uma parte importante da economia do país.
Os cadetes são educados pelo
Estado em escolas especiais que
não estão sob a jurisdição do Ministério da Educação. Assim que
se formam, recebem salários muito maiores do que os dos servidores civis. Como têm uma formação considerada superior, acabam ocupando postos-chave em
grandes empresas -e muitas delas têm participação do Estado.
Os privilégios se sucedem: compram de roupas a alimentos em
lojas subsidiadas, obtêm empréstimos camaradas para adquirir
imóveis e têm resorts exclusivos.
É o Estado-Maior que faz e administra o Orçamento das Forças
Armadas, além de controlar a indústria de armas.
Há, sob o controle militar, negócios que abarcam setores tão diversos quanto petróleo, turismo,
produção automobilística (em
joint venture com a Renault) e
serviços bancários.
Texto Anterior: Líder vitorioso é antigo defensor da causa do islã Índice
|