São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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REELEIÇÃO NOS EUA

Região no sudeste e oeste vem aumentando sua importância política e será decisiva para futuro dos partidos

Estados do "cinturão do sol" ganham peso

WILLIAM FREY
DO "FINANCIAL TIMES"

O resultado da eleição presidencial norte-americana sugere que é o Partido Republicano que está lançando uma ponte entre o passado e o futuro dos EUA.
Do mesmo modo que o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, traçou uma distinção entre a Europa velha e nova, é justo traçar uma distinção semelhante no interior dos EUA. Esta divisão entre ""velhos e novos" nos Estados Unidos é tanto demográfica quanto regional e, nas eleições futuras, vai assumir significado maior do que a já familiar dicotomia "vermelho-azul" americana.
A distinção se aplica com mais precisão às partes mais estabelecidas da paisagem demográfica, opondo as populações em sua maioria religiosas e rurais ou suburbanas dos Estados centrais aos Estados costeiros cosmopolitas, mais seculares. Como aconteceu em 2000, os "campos de batalha" nestas regiões mais maduras foram os Estados do chamado "cinturão da ferrugem" industrial, cujo eleitorado mais velho, branco e de origem operária se viu dividido entre os valores sociais conservadores e o patriotismo (representados por George W. Bush) e a busca de estabilidade econômica com seguridade social e saúde (defendida por Kerry). Nos Estados vermelhos e azuis mais sólidos, os valores sociais conservadores ou liberais foram dominantes, resultando em vitórias previsíveis para Bush ou Kerry.
A maior esperança para o futuro de ambos os partidos está nos Estados rapidamente crescentes do chamado cinturão do sol, no sudeste e no oeste dos EUA. Desde que George Bush, pai, foi eleito presidente, em 1988, 27 votos do Colégio Eleitoral foram transferidos para esses Estados.
À primeira vista, o crescimento dos Estados do cinturão do sol parece ter sido movido principalmente por um eleitorado republicano mais jovem: famílias brancas, jovens de classe média, e aposentados em boas condições financeiras. Esses novos suburbanos devem saudar a proposta econômica conservadora do Partido Republicano, com seus cortes em impostos, vales escolares e coisas do gênero. Pelo fato de juntar-se aos eleitorados locais conservadores da direita religiosa, não é difícil compreender por que a maior parte do sul do país e do oeste não costeiro vai continuar a pender para o lado republicano.
Mas também existem no cinturão do sol campos de batalha que constituem a principal esperança de expansão democrata na crescente "nova América". Estados como Flórida, Nevada, Arizona, Colorado e Novo México vêm recebendo não apenas suburbanos e aposentados brancos de classe média, mas também grandes influxos de hispânicos e jovens, tipos da chamada "geração X" que fogem do alto custo habitacional da vida nos Estados costeiros azuis, como Califórnia e Nova York. Esses grupos constituem uma parte importante do futuro demográfico dos EUA e são eleitorados naturais do Partido Democrata. O peso grande que Kerry provou ter entre os eleitores de 18 a 30 anos de idade -que compõem apenas 17% do eleitorado total, mas 56% dos quais votaram em Kerry, contra 43% em Bush- também é um sinal de esperança, embora a performance mais fraca de Kerry do que de Gore entre os hispânicos é algo que mereça ser analisado. Entretanto, a eleição também chamou a atenção para a necessidade de os democratas tornarem sua mensagem mais atraente aos cidadãos suburbanos e de cidades pequenas. A imagem também é algo importante, coisa que Bush já provou claramente, e o Partido Democrata talvez fizesse bem em pensar em limitar sua ligação com celebridades e, portanto, sua imagem ligada a Hollywood.
Não há dúvida alguma de que a vitória republicana e de Bush deve ser analisada dentro do contexto da guerra ao terrorismo, que levou muitos eleitores a decidirem não mudar de rumo no meio dela. Mas ela também representa um aviso aos democratas: de que eles devem prestar tanta atenção à nova América quanto a seus eleitorados mais velhos e já conhecidos.


William Frey é demógrafo no Instituto Brookings e professor-pesquisador no Centro de Estudos da População da Universidade de Michigan, além de autor de "America by the Numbers" (a América pelos números), da New Press.

Tradução de Clara Allain


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