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REELEIÇÃO NOS EUA
Região no sudeste e oeste vem aumentando sua importância política e será decisiva para futuro dos partidos
Estados do "cinturão do sol" ganham peso
WILLIAM FREY
DO "FINANCIAL TIMES"
O resultado da eleição presidencial norte-americana sugere que é
o Partido Republicano que está
lançando uma ponte entre o passado e o futuro dos EUA.
Do mesmo modo que o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld,
traçou uma distinção entre a Europa velha e nova, é justo traçar
uma distinção semelhante no interior dos EUA. Esta divisão entre
""velhos e novos" nos Estados
Unidos é tanto demográfica
quanto regional e, nas eleições futuras, vai assumir significado
maior do que a já familiar dicotomia "vermelho-azul" americana.
A distinção se aplica com mais
precisão às partes mais estabelecidas da paisagem demográfica,
opondo as populações em sua
maioria religiosas e rurais ou suburbanas dos Estados centrais aos
Estados costeiros cosmopolitas,
mais seculares. Como aconteceu
em 2000, os "campos de batalha"
nestas regiões mais maduras foram os Estados do chamado "cinturão da ferrugem" industrial, cujo eleitorado mais velho, branco e
de origem operária se viu dividido
entre os valores sociais conservadores e o patriotismo (representados por George W. Bush) e a busca de estabilidade econômica com
seguridade social e saúde (defendida por Kerry). Nos Estados vermelhos e azuis mais sólidos, os valores sociais conservadores ou liberais foram dominantes, resultando em vitórias previsíveis para
Bush ou Kerry.
A maior esperança para o futuro de ambos os partidos está nos
Estados rapidamente crescentes
do chamado cinturão do sol, no
sudeste e no oeste dos EUA. Desde que George Bush, pai, foi eleito
presidente, em 1988, 27 votos do
Colégio Eleitoral foram transferidos para esses Estados.
À primeira vista, o crescimento
dos Estados do cinturão do sol parece ter sido movido principalmente por um eleitorado republicano mais jovem: famílias brancas, jovens de classe média, e aposentados em boas condições financeiras. Esses novos suburbanos devem saudar a proposta econômica conservadora do Partido
Republicano, com seus cortes em
impostos, vales escolares e coisas
do gênero. Pelo fato de juntar-se
aos eleitorados locais conservadores da direita religiosa, não é difícil compreender por que a
maior parte do sul do país e do
oeste não costeiro vai continuar a
pender para o lado republicano.
Mas também existem no cinturão do sol campos de batalha que
constituem a principal esperança
de expansão democrata na crescente "nova América". Estados
como Flórida, Nevada, Arizona,
Colorado e Novo México vêm recebendo não apenas suburbanos
e aposentados brancos de classe
média, mas também grandes influxos de hispânicos e jovens, tipos da chamada "geração X" que
fogem do alto custo habitacional
da vida nos Estados costeiros
azuis, como Califórnia e Nova
York. Esses grupos constituem
uma parte importante do futuro
demográfico dos EUA e são eleitorados naturais do Partido Democrata. O peso grande que
Kerry provou ter entre os eleitores
de 18 a 30 anos de idade -que
compõem apenas 17% do eleitorado total, mas 56% dos quais votaram em Kerry, contra 43% em
Bush- também é um sinal de esperança, embora a performance
mais fraca de Kerry do que de Gore entre os hispânicos é algo que
mereça ser analisado. Entretanto,
a eleição também chamou a atenção para a necessidade de os democratas tornarem sua mensagem mais atraente aos cidadãos
suburbanos e de cidades pequenas. A imagem também é algo importante, coisa que Bush já provou claramente, e o Partido Democrata talvez fizesse bem em
pensar em limitar sua ligação com
celebridades e, portanto, sua imagem ligada a Hollywood.
Não há dúvida alguma de que a
vitória republicana e de Bush deve
ser analisada dentro do contexto
da guerra ao terrorismo, que levou muitos eleitores a decidirem
não mudar de rumo no meio dela.
Mas ela também representa um
aviso aos democratas: de que eles
devem prestar tanta atenção à nova América quanto a seus eleitorados mais velhos e já conhecidos.
William Frey é demógrafo no Instituto
Brookings e professor-pesquisador no
Centro de Estudos da População da Universidade de Michigan, além de autor de
"America by the Numbers" (a América
pelos números), da New Press.
Tradução de Clara Allain
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