São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2008

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Chicago vive dia de expectativa pela vitória de Obama

Democrata vota logo pela manhã, acompanhado de mulher e filhas, e faz única parada da campanha no dia em Indiana

Na base política do senador, eleitores se aglomeraram desde a manhã em parque onde aconteceria discurso; 70 mil eram esperados


DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

Show dos Rolling Stones? Não, é o palco do discurso pós-eleitoral de Barack Obama, mas quando os portões se abriram às 18h15 de ontem (22h15 em São Paulo), a euforia era a de um concerto de rock.
Simpatizantes democratas que entraram na fila às 7h atravessaram correndo a área central do Grant Park, fechada para receber os 70 mil sorteados pela internet para ver o candidato falar.
No parque mais famoso de Chicago, à beira do lago Michigan, havia um recuo de alguns metros entre palco e platéia. O púlpito reservado para o discurso do Obama era protegido por uma tela transparente blindada. Ao fundo, um painel azul e bandeiras americanas completavam o cenário.
"Cheguei às 10h e não estou nem um pouco cansada. Obama será presidente e estou muito feliz", disse Faye Wilson, que acompanhava mais cinco membros da família -a mais nova deles era sua neta, Sequoia, de 12 anos. Para conseguir convites, a família mobilizou amigos para entrar no sorteio. O grupo só havia comido no almoço e carregava cobertas, apesar dos 16ºC serem considerados calor para a cidade nesta época.
Se a platéia tinha cara de fã-clube, com gritos e aplausos quando o telão ligado na CNN indicava um resultado positivo a Obama, a estrutura montada pela campanha era coerente: barracas vendiam brindes como camisetas (US$ 15 a US$ 25), pôsteres (US$ 30) e broches (US$ 2 a US$ 5) "oficiais".
O candidato, por sua vez, cumpria o papel de "popstar" que marcou sua campanha. No dia mais importante de sua carreira política, encerrou a tarde jogando basquete com amigos e membros de sua equipe, assim como fez na Convenção Nacional Democrata e nos dias de primárias importantes.
"Não deixamos ele jogar basquete por meses, não queríamos que ele quebrasse o nariz. Hoje ele vai jogar e relaxar com amigos", disse mais cedo o assessor Robert Gibbs.
À tarde, Obama viajou à Indiana, Estado que vota nos republicanos há pelo menos quatro décadas, mas que ele tinha esperança de ter a seu lado. Em comitê de voluntários montados por sindicalistas da indústria automotiva de Indianapolis, telefonou para eleitores para convencê-los de que sua plataforma era a melhor.
Pela manhã, ele e sua mulher, Michelle, votaram na escola Shoesmith. Levou as filhas, desenhando um quadro "gente como a gente". A primogênita, Malia, 10, bocejava longamente atrás do pai na cabine de votação. Sasha, 7, brincava em baixo do cavalete que sustentava a urna. Já o candidato espiava o voto de Michelle, e mais tarde comentou: "Ela demorou muito. Eu queria ter certeza em quem ela estava votando." Ao final, uma mesária ganhou do candidato um beijo no rosto.
Nos EUA, o sistema de votação muda de acordo com o Estado, e até com o condado. No caso de Obama e Michelle, as cédulas foram preenchidas a mão e depois passaram por um leitor ótico.
O reforço de segurança na vizinhança se estendia por ao menos nove quarteirões do entorno. A rua de Obama tem tráfego controlado há meses pela polícia local. Ontem, o Serviço Secreto não permitia que carros ou pessoas parassem nas proximidades. "Eu não estou brincando. Saia daqui! Agora!", gritou um oficial a um morador que tentava prosseguir em seu cooper pela zona sitiada.

No gargarejo
Enquanto Obama votava com a família pela manhã, dezenas de jovens se organizavam em fila em frente ao Grant Park.
A polícia local esperava que, além das 70 mil pessoas contempladas com ingressos distribuídos pela internet, um milhão de pessoas cercassem os arredores do parque para ao menos ouvir Obama.
Sam Berkman, 22, estudante de política ("meu sonho é trabalhar no governo"), foi um dos primeiros a chegar, logo depois de votar, às 7h. "Estou aqui com muita esperança, mas com reservas. Só acredito em Obama vitorioso quando vir o resultado confirmado", disse ele, com camiseta da campanha e biografia do candidato na mão. Fome? "Não, daqui a pouco meu primo vai trazer sanduíches. E vamos nos revezar para ir ao banheiro."
A estudante Amber Pike, 18, estava animada. "Tudo o que eu quero é ver o Obama na primeira fila, bem perto do palco. Ele é o primeiro político que vi na vida no qual sinto sinceridade."
O esquema de segurança do entorno do parque envolveu Serviço Secreto, polícia local, bombeiros e até a Guarda Costeira. O maior temor era de revolta popular em caso de derrota de Obama, já que Chicago é berço político do candidato e Illinois um dos Estados onde se esperava que ele vencesse com maior vantagem.

US$ 696 bilhões
é o gasto militar estimado para 2008, 45,5% do total mundial

66%
de todo o petróleo consumido pelos americanos é importado, e seus maiores fornecedores são Canadá, Arábia Saudita e México

US$ 455 bilhões
é o déficit orçamentário deixado pelo governo Bush em 2008


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