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Justiça da Itália condena 23 americanos por ação da CIA
Ex-agentes são sentenciados a até oito anos por sequestro de egípcio no país, em 2003
Condenação é a 1ª referente a "capturas extraordinárias" realizadas no governo Bush; Departamento de Estado diz ter ficado "desapontado"
DA REDAÇÃO
A Justiça da Itália condenou
ontem 22 ex-agentes da CIA
(agência de inteligência dos
EUA) e mais um americano a
penas de até oito anos de detenção pelo sequestro do clérigo
muçulmano Abu Omar em Milão, em 2003, em um polêmico
caso das "capturas extraordinárias" promovidas pelos EUA.
A condenação é a primeira
envolvendo os "voos da CIA",
programa americano de captura de suspeitos de terrorismo
no exterior e envio clandestino
a terceiros países para interrogatórios e tortura, colocado em
prática após o 11 de Setembro.
Entre os considerados culpados pelo juiz Oscar Magi, de Milão, está o ex-chefe da seção da
CIA na cidade do norte italiano,
Robert Seldon Lady, condenado a oito anos de prisão. Todos
os outros 22 sentenciados pegaram cinco anos de detenção,
além do pagamento de indenizações de 1 milhão a Omar e
500 mil a sua mulher.
Três outros ex-agentes da
CIA foram absolvidos por possuírem imunidade diplomática.
Dois agentes italianos foram
condenados a três anos por
cumplicidade. Mas o ex-chefe
do Sismi (o serviço secreto italiano), Nicolo Pollari, seu vice e
três outros italianos foram absolvidos, uma vez que suas acusações se baseavam em provas
consideradas segredo de Estado pela Corte Constitucional
da Itália -e desconsideradas.
A decisão de Magi, no entanto, dificilmente terá efeito prático, já que os réus não estiveram presentes no julgamento
iniciado em meados de 2007
-e interrompido diversas vezes por controvérsias jurídicas.
Eles foram representados por
advogados e passam a ser foragidos da Justiça da Itália.
Mas o caso pode, por outro
lado, abrir um precedente no
julgamento de agentes envolvidos em operações clandestinas
da "guerra ao terror" do governo George W. Bush (2001-09).
O porta-voz da agência americana disse apenas que "a CIA
não comenta alegações envolvendo Abu Omar", e o Departamento de Estado dos EUA afirmou estar "desapontado" com
as condenações. O governo do
premiê Silvio Berlusconi, leal
aliado de Bush, não comentou.
Já ativistas de direitos humanos consideraram a decisão um
avanço no combate às violações
cometidas na guerra ao terror.
O egípcio Osama Moustafa
Hassan Nasr, ou Abu Omar, foi
sequestrado em 17 de fevereiro
de 2003 quando saía de sua casa em Milão. O clérigo foi então
levado à base americana de
Aviano, na Itália, transportado
para a Alemanha e depois para
os arredores do Cairo, onde ele
afirma ter sido torturado.
Abu Omar vinha sendo vigiado pela Itália por supostamente pregar a violência em seus
sermões e recrutar insurgentes
para enviar ao Iraque antes da
invasão americana, em 2003.
O egípcio esteve desaparecido por um ano até ter seu paradeiro revelado. Mantido preso
por quatro anos sem acusações
formais, foi solto no começo de
2007. O clérigo muçulmano vive hoje em Alexandria (Egito).
Com "New York Times" e agências internacionais
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