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RELIGIÃO
Documentos indicam que a Arquidiocese de Boston ocultou casos de abusos sexuais e uso de cocaína por padres
Arquivos expõem sexo e drogas na igreja
KEN MAGUIRE
DA ASSOCIATED PRESS, EM BOSTON
Milhares de arquivos tornados
públicos mostram que a Arquidiocese de Boston ocultou casos
de padres acusados de abusos, incluindo clérigos que cheiraram
cocaína e tiveram sexo com meninas que queriam ser freiras.
A primeira leva de documentos
-cerca de 3.000 páginas relativas
a oito padres católicos- foi aberta ao público anteontem, por ordem da Suprema Corte. Os documentos já tinham sido vistos pelos advogados das vítimas.
Muitos dos padres cujos arquivos foram divulgados não estão
entre os 400 clérigos citados nas
dezenas de processos abertos na
Justiça contra a arquidiocese
-que estuda pedir falência para
se proteger das ações, que podem
resultar em indenizações cujo total superaria US$ 100 milhões.
Os advogados dos querelantes
esperam que os documentos
mostrem que a arquidiocese tinha
o costume de transferir padres
para outras paróquias, mesmo
depois de eles terem sido acusados de abuso de crianças e jovens.
Os arquivos expõem o caso de
dois padres que, transferidos para
outras paróquias após terem abusado de crianças, tornaram a cometer o crime. "Não há nenhuma
outra arquidiocese em que a extensão do problema tenha sido
identificada com tanta clareza",
disse David Clohessy, diretor nacional da Rede de Sobreviventes
dos Abusados por Padres.
"Algumas das informações contidas nesses documentos são realmente terríveis", disse a porta-voz
da arquidiocese, Donna Morrissey. "Estamos determinados a
ajudar as vítimas."
"Encarnação de Cristo"
No final dos anos 60, o padre
Robert Meffan teria recrutado
meninas para se tornarem freiras
e depois abusado sexualmente
delas. A acusação está em cartas
escritas em 1993 pela irmã Catherine Mulkerrin a seu chefe, o padre John McCormack, um dos
principais auxiliares do cardeal
Bernard Law, responsável pela
Arquidiocese de Boston.
De acordo com o memorando
de 1993, uma das garotas contou à
irmã Mulkerrin que Meffan praticava atos sexuais com quatro meninas num quarto alugado. Intitulando-se "a segunda encarnação de Cristo", Meffan "fazia tudo", menos a penetração, porque
dizia que isso era algo reservado
para "a vida após a morte".
Uma mulher contou que Meffan ""sugeria a ela que imaginasse
Cristo tocando-a, beijando-a e
tendo relações sexuais com ela",
segundo os registros da igreja.
"Elas eram todas moças jovens
que pretendiam tornar-se freiras", disse o advogado Roderick
MacLeish Jr., que representa 247
vítimas de padres.
Meffan confirmou ao "Boston
Globe" o teor dos documentos e
disse que ainda acredita que os relacionamentos sexuais que mantinha com as meninas fossem
"lindos" e "espirituais", afirmando que sua intenção era aproximá-las de Deus. "Eu estava tentando mostrar a elas que Cristo é
humano e que ele deve ser amado
como ser humano", disse Meffan.
"Achei que o fato de ter essa intimidade com elas seria semelhante
ao que elas teriam com Cristo."
Caso amoroso
O padre Thomas Forry teria
construído uma casa em Cape
Cod para uma mulher com quem
manteve um caso que durou 11
anos, como mostram os documentos. A mulher o procurara
pedindo conselhos porque tinha
problemas em seu casamento.
Mais tarde, o filho dela afirmou
que Forry tentou abordá-lo sexualmente.
Um outro memorando da irmã
Mulkerrin, de 1992, apresentou o
histórico das acusações contra
Forry. Sete anos mais tarde, o cardeal Law transferiu Forry para o
trabalho de padre substituto. Ele
não foi encontrado para comentar as acusações.
Cocaína
O padre Richard Buntel, que
trabalhou em Malden, Massachusetts, entre 1978 e 1983, teria feito
sexo com meninos e consumido
cocaína com eles. Segundo um
memorando da irmã Mulkerrin,
uma suposta vítima lhe contou
que Buntel lhe fornecia cocaína
quando ele tinha apenas 15 anos.
""Ele cheirava cocaína na sala dos
padres cada vez que o garoto ia lá,
e, de certo modo, a cocaína parecia ser dada ao menino em troca
do sexo", escreveu Mulkerrin.
Neste ano, Buntel estava num
cargo não-sacerdotal, na paróquia St. Thomas de Villanova, em
Wilmington. Ele também não foi
localizado para falar da acusação.
Tradução de Clara Allain
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