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Credibilidade é o ponto fraco da TV de Murdoch
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Líder entre os canais a cabo
de notícias e cada vez mais
avançando no terreno de ABC,
CBS e NBC- a Fox News certamente tem o que comemorar. Sua reputação em termos
de credibilidade, no entanto,
não tem o mesmo sucesso.
"Quase nenhuma pessoa racional que acompanha o noticiário discorda que eles freqüentemente manipulem suas
entrevistas e, às vezes, algumas
reportagens, para a direita",
disse à Folha Robert Kubey, diretor do Centro para Estudos
da Mídia da Universidade Rutgers (Nova Jersey).
A afirmação de Kubey reflete
um problema enfrentado pela
rede de Rupert Murdoch. Uma
pesquisa de junho deste ano do
Pew Research Center mostra
que apenas 25% dos espectadores com acesso à Fox News
acreditam em tudo que o canal
mostra. Em contrapartida, 10%
não acreditam em nada e 27%,
em pouca coisa. A Fox fica consideravelmente atrás de sua
maior concorrente, a CNN
-32% crêem totalmente no
canal, 9% não crêem em nada,
e 19%, em pouco.
Um reflexo dessa diferença
está no departamento de marketing: enquanto a receita da
Fox News foi de US$ 340 milhões em 2003, a da CNN foi de
US$ 876 milhões.
"Os responsáveis por comprar espaços para anúncios
afirmam que normalmente pagam à Fox News 75% ou 80%
do que pagam à CNN -mesmo sabendo que a CNN tem
metade da audiência", escreveu Julia Angwin no "Wall
Street Journal". "Os programas
com melhor índice são os de
comentários, e mesmo o resto
da programação sendo composta de noticiários, esses programas dão a impressão de que
a Fox News é muito tendenciosa para ser considerada jornalismo puro."
Sua audiência, no entanto, é
fiel. Segundo analistas, é essa
base sólida, conquistada graças
à sua posição de antagonista
dentro do chavão de que a imprensa americana é liberal (de
esquerda), que explica o sucesso do canal. O tom veemente
usado por seus apresentadores
e a pauta carregada de temas de
segurança, crimes e questões
jurídicas também parecem garantir apelo popular.
"Eles têm uma audiência leal
e centrada em certos temas,
além de terem uma mensagem
constante", afirma Al Tompkins, do Instituto Poynter de
jornalismo.
Em uma célebre entrevista
em outubro passado à revista
"Salon", Charlie Reina, que trabalhou na Fox News de 1997 a
abril de 2003, falou que há ordens -às vezes expressas, mas
normalmente implícitas- para distorcer as reportagens a favor do Partido Republicano.
Ele chegou a citar um memorando interno contendo essas
ordens. "Na Fox News, quando
o assunto envolvia política, havia sempre indicações sutis, direções a seguir aqui e acolá."
A assessoria de imprensa da
Fox News rejeitou os pedidos
da Folha para entrevistar seus
executivos.
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