São Paulo, domingo, 05 de dezembro de 2004

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Credibilidade é o ponto fraco da TV de Murdoch

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Líder entre os canais a cabo de notícias e cada vez mais avançando no terreno de ABC, CBS e NBC- a Fox News certamente tem o que comemorar. Sua reputação em termos de credibilidade, no entanto, não tem o mesmo sucesso.
"Quase nenhuma pessoa racional que acompanha o noticiário discorda que eles freqüentemente manipulem suas entrevistas e, às vezes, algumas reportagens, para a direita", disse à Folha Robert Kubey, diretor do Centro para Estudos da Mídia da Universidade Rutgers (Nova Jersey).
A afirmação de Kubey reflete um problema enfrentado pela rede de Rupert Murdoch. Uma pesquisa de junho deste ano do Pew Research Center mostra que apenas 25% dos espectadores com acesso à Fox News acreditam em tudo que o canal mostra. Em contrapartida, 10% não acreditam em nada e 27%, em pouca coisa. A Fox fica consideravelmente atrás de sua maior concorrente, a CNN -32% crêem totalmente no canal, 9% não crêem em nada, e 19%, em pouco.
Um reflexo dessa diferença está no departamento de marketing: enquanto a receita da Fox News foi de US$ 340 milhões em 2003, a da CNN foi de US$ 876 milhões.
"Os responsáveis por comprar espaços para anúncios afirmam que normalmente pagam à Fox News 75% ou 80% do que pagam à CNN -mesmo sabendo que a CNN tem metade da audiência", escreveu Julia Angwin no "Wall Street Journal". "Os programas com melhor índice são os de comentários, e mesmo o resto da programação sendo composta de noticiários, esses programas dão a impressão de que a Fox News é muito tendenciosa para ser considerada jornalismo puro."
Sua audiência, no entanto, é fiel. Segundo analistas, é essa base sólida, conquistada graças à sua posição de antagonista dentro do chavão de que a imprensa americana é liberal (de esquerda), que explica o sucesso do canal. O tom veemente usado por seus apresentadores e a pauta carregada de temas de segurança, crimes e questões jurídicas também parecem garantir apelo popular.
"Eles têm uma audiência leal e centrada em certos temas, além de terem uma mensagem constante", afirma Al Tompkins, do Instituto Poynter de jornalismo.
Em uma célebre entrevista em outubro passado à revista "Salon", Charlie Reina, que trabalhou na Fox News de 1997 a abril de 2003, falou que há ordens -às vezes expressas, mas normalmente implícitas- para distorcer as reportagens a favor do Partido Republicano. Ele chegou a citar um memorando interno contendo essas ordens. "Na Fox News, quando o assunto envolvia política, havia sempre indicações sutis, direções a seguir aqui e acolá."
A assessoria de imprensa da Fox News rejeitou os pedidos da Folha para entrevistar seus executivos.

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