São Paulo, segunda-feira, 05 de dezembro de 2005

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AMÉRICA LATINA

Primeira apuração parcial divulgada pelo Conselho Nacional Eleitoral apontou que 75% dos eleitores não votaram

Alta abstenção marca eleição na Venezuela

Chico Sánchez/Efe
Chavistas fazem manifestação em frente ao local em que Chávez votou, em Caracas, enquanto mulher reza em uma igreja, respondendo à convocação da oposição


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

Marcadas pelo boicote da oposição, as eleições legislativas venezuelanas transcorreram ontem com calma nas ruas e duras declarações de lado a lado. Enquanto o presidente Hugo Chávez dizia que "chegou a hora da morte" dos partidos tradicionais, a Ação Democrática (AD), maior agremiação oposicionista, afirmou que não reconhecerá a Assembléia Nacional que sairá das urnas hoje.
Na primeira parcial divulgada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) às 20h50 locais, a abstenção chegou a 75% dos eleitores inscritos, de um total de 79,1% das mesas apuradas. O presidente do CNE, Jorge Rodríguez, atribuiu parte da abstenção à chuva que caiu em vários Estados do país.
O pleito assumiu um caráter plebiscitário em torno do comparecimento. A oposição espera que a abstenção supere os 70%, o que seria um recorde histórico. Já os governistas, entre eles o próprio Chávez, exortaram os eleitores a votar em massa na intenção de assegurar a legitimidade de uma nova Assembléia Nacional dominada pelo oficialismo.
Para Eleazar Díaz, um dos porta-vozes da ONG, a oposição tem razão ao apontar o controle do chavismo no CNE, mas afirma que a decisão da oposição foi "precipitada". Segundo ele, o processo de votação está suficientemente automatizado.
"Não havia razões técnicas por parte do CNE que justificasse uma medida tão drástica. Desde o início das eleições na Venezuela, em 1937, nunca havia ocorrido isso", disse à Folha Díaz, que também é o diretor do jornal "Últimas Notícias", o de maior circulação na Venezuela.
Díaz disse que o boicote deixou o cenário político "imprevisível" a um ano das eleições presidenciais. Anteontem, a ONG emitiu uma nota exortando os partidos governistas "a não abusar da enorme força que terão e a abrir a discussão a outros setores".
A previsão é que os chavistas ganhem praticamente todas as 167 cadeiras da Assembléia Nacional -apenas partidos oposicionistas "nanicos" não desistiram de participar. Atualmente, o governo tem a maioria simples.
Apenas dois incidentes mais graves foram registrados ontem: o filho de uma líder chavista foi morto após ter votado, na cidade de Valencia, e uma suposta sabotagem provocou um incêndio num oleoduto de petróleo, no Estado de Zulia.
Pela manhã, a Folha esteve nos mesmos centros eleitorais que havia visitado durante o referendo de 15 de agosto de 2004, quando Chávez saiu vitorioso e assegurou sua permanência.
Em vez das longas filas, em que se esperava até nove horas para votar, os eleitores desta vez levavam menos de cinco minutos entre a entrada e a urna.
No centro de votação instalado no Instituto Jesús Obrero, localizado na empobrecida região de 23 de Janeiro, principal reduto chavista em Caracas, havia um fluxo pequeno, mas constante de eleitores, bem diferente das filas que dobravam o quarteirão quase 16 meses atrás.
A dona-de-casa Nora Blanco, 60, uma das 25 "patrulheiras" chavistas que atuam nesse centro, disse que o comparecimento estava parecido com o verificado nas eleições municipais.
"As pessoas só vêm em bastante número nas presidenciais", disse.
Igualmente vazias, no entanto, estavam as três igrejas visitadas pela Folha entre as 10h e as 12h, apesar da convocação da influente ONG oposicionista Súmate.
A reportagem identificou visualmente apenas dois opositores com adesivos a favor da abstenção. "O comparecimento não foi diferente", disse o padre Juan Pablo, da igreja Dom Bosco. "Agora, com que ânimo eles vieram, isso eu não sei."


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