São Paulo, segunda-feira, 05 de dezembro de 2005

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AMÉRICA DO SUL

"Perfil" diz que chefe da pasta do Planejamento deu projeto milionário a empresa da qual seu filho é sócio

Ministro argentino beneficiou filho, diz jornal

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

O escândalo político do governo Lula virou referência na Argentina em reportagem que levanta suspeitas sobre o homem forte do governo Kirchner, o ministro do Planejamento, Julio de Vido, acusado de ter relações promíscuas com construtoras e escritórios de arquitetura que têm negócios com o Estado.
Para explicar o suposto tráfico de influência em um megaprojeto avaliado em US$ 500 milhões, o jornal argentino "Perfil" comparou o filho de De Vido, Facundo, ao filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Fábio.
"Aos 30 anos, Fabio Luiz Inácio Lula da Silva havia descoberto os benefícios de ser um filho do poder. Na Argentina, um garoto de sua idade desfruta das mesmas vantagens", diz o primeiro parágrafo da reportagem, publicada ontem pelo semanário de oposição ao governo Kirchner.
O jornal faz alusão ao investimento de R$ 5 milhões que a Telemar fez na Gamecorp, produtora que tem como sócio o filho de Lula. Antes do negócio, o capital da empresa era de R$ 10 mil.
No caso argentino, diz o "Perfil", o filho de De Vido, que também é seu secretário particular, se associou a dois integrantes do escritório de arquitetura responsável por um projeto milionário, o Puerto Madero 2.
Facundo montou, em dezembro do ano passado, com os sócios do escritório uma empresa de importação e exportação de produtos odontológicos. Além de secretário do pai, a principal atividade de Facundo é como guitarrista de uma banda de rock, informa o jornal.
A obra do projeto Puerto Madero 2 seria uma prioridade do ministro do Planejamento. Prevê a recuperação de uma área de Buenos Aires às margens do rio da Prata e está inscrita no programa de PPP (Parceria Público-Privada) argentino.

Influência
Essa não é a primeira suspeita a respeito de De Vido, que ganhou força com a reforma de gabinete que demitiu o titular da economia, Roberto Lavagna, e deu um caráter mais "esquerdista" ao governo Kirchner.
De Vido está diretamente ligado à saída de Lavagna, na segunda-feira passada. O estopim para a demissão foi um discurso feito pelo ex-ministro que apontava superfaturamento em dez obras viárias, avaliadas em US$ 350 milhões.
A declaração, que irritou a Casa Rosada, foi um ataque direto a De Vido, que se defendeu e disse que o Estado já havia interrompido as licitações.
O ministro do Planejamento é uma espécie de José Dirceu antes do ocaso. Como o ex-chefe da Casa Civil, o ministro do Planejamento disputava publicamente com Lavagna, defendendo maiores gastos públicos e é considerado o mais próximo dos "pingüins" -denominação do "núcleo duro" do fortalecido Néstor Kirchner, que é oriundo da Patagônia.
Com a mudança na economia, De Vido ganhou mais espaço. Na última semana, negociou junto com a nova ministra da pasta, Felisa Miceli, acordo de preços com os supermercados. Hoje, segue em viagem com empresários argentinos aos EUA em busca de investimentos.
O ministro tem também nas mãos um grande orçamento -as obras públicas foram um dos principais impulsores do crescimento argentino, que acumula 9% no ano.


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