São Paulo, Quinta-feira, 06 de Janeiro de 2000


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HISTÓRIA
Líderes aliados dos EUA e do Reino Unido desconfiavam de general francês
Churchill e Roosevelt tramaram contra De Gaulle na 2ª Guerra

de Londres


Documentos secretos liberados pelo governo do Reino Unido revelam que Winston Churchill, o primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), considerava o general francês Charles de Gaulle "um inimigo dos britânicos" e uma pessoa não confiável.
Churchill também pensou em isolar politicamente De Gaulle, afastando-o do comando das tropas francesas que não aceitavam a capitulação do país. Metade da França foi ocupada pelas tropas de Adolf Hitler em 1940.
"Peço a meus colegas que considerem urgentemente eliminar De Gaulle como uma força política", disse Churchill, em maio de 1943.
A idéia seria o Reino Unido e os EUA ocuparem a França em vez de entregar o governo a De Gaulle, o que acabou ocorrendo.
Para Churchill, o general deixava "uma trilha de anglofobia e tem tendências fascistas". É uma referência ao conhecido nacionalismo de De Gaulle, cujas visões do "imperialismo" britânico e norte-americano influenciam até hoje a política francesa.
Entre as conversas liberadas anteontem há ainda o relato de diálogos entre Churchill e o então presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, que igualmente desconfiava das credenciais democráticas do líder francês.
Em memorando enviado ao premiê britânico no início de 1943, Roosevelt concorda com as críticas, dizendo que De Gaulle tinha um "complexo de messianismo" e "tendências ditatoriais".
Roosevelt diz a Churchill, em tom de brincadeira, que uma alternativa seria "transformá-lo em governador de Madagascar (ilha-país localizada a leste do continente africano)".
Robert Boyce, estudioso da Segunda Guerra e professor da London School of Economics, diz que ficou surpreso com o tom das críticas, apesar de a desconfiança entre Churchill e De Gaulle já ser conhecida pelos historiadores.
"Eram duas personalidades imperialistas, que tinham uma relação pessoal complexa, alternando momentos de extrema proximidade com críticas severas".
O primeiro semestre de 1943, segundo o professor, marca o ponto mais baixo da relação entre os dois estadistas.
Naquela época, De Gaulle, que se exilara em Londres desde a invasão nazista, preparava-se para retornar à França e liderar a libertação de seu país. "Muito do que está sendo revelado são arroubos de retórica. Churchill e Roosevelt tiveram o bom senso de não isolar De Gaulle, um homem difícil, mas o único em quem os franceses confiavam. Isso fazia dele um aliado fundamental", diz Boyce. (FÁBIO ZANINI)


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