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ENTREVISTA
"Ainda falta o quarto e último furacão"
Deputada Elisa Carrió diz que a insatisfação continua e que as manifestações devem voltar
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A deputada argentina Elisa Carrió, 45, que se tornou uma dissidente da UCR -partido do ex-presidente Fernando de la Rúa-
e fundou a ARI (Alternativa para
uma República de Iguais) no ano
passado.
Carrió diz que não quer cargo
no governo de ""salvação nacional" e que é a única política capaz
hoje sair tranqüila pelas ruas de
Buenos Aires.
Na sua opinião, haverá um
""quarto furacão" -nova onda de
protestos, a exemplo das ocorridas anteriormente- contra Duhalde, que é, segundo ela, um político tradicional como os outros
líderes afastados nos últimos dias.
"Apostamos no nosso crescimento pelo que somos, acreditamos que essa construção vai se
acelerar à medida em que se verifique como o PJ e a UCR são a
mesma coisa", disse a deputada
argentina.
Carrió, líder nas últimas pesquisas para a presidência argentina,
foi um dos 21 integrantes da Assembléia Legislativa que votaram
contra a posse de Duhalde. Sua
intenção é forçar uma eleição em
90 ou 120 dias.
Leia abaixo trechos da entrevista de Carrió concedida à Agência
Folha.
Agência Folha - É verdade que a
sra. chegou a ser convidada para
participar do governo Eduardo Duhalde, ocupando o Ministério da
Justiça?
Elisa Carrió - Fizeram-me uma série
de ofertas, mas não cheguei a falar
com Duhalde, nem aceitei qualquer cargo. Queriam usar meu
nome, minha imagem de contestadora à ordem estabelecida.
Apostamos no nosso crescimento
pelo que somos, acreditamos que
essa construção vai se acelerar à
medida em que se verifique como
o PJ e a UCR são a mesma coisa.
Nascemos para lutar contra o regime. Não faríamos parte dele.
Agência Folha - Em quanto tempo
a sra. acha que deve haver eleição?
Carrió - Queremos eleições com
prévias partidárias. Pedimos que
as eleições ocorram, então, em 90
ou 120 dias, com um programa
novo. Não queremos a Lei de Lemas (fórmula pela qual cada partido apresenta várias sublegendas
e soma todos os votos adquiridos
para colocar um dos seus candidatos no poder, mesmo que não
tenha sido o mais votado).
Agência Folha - Por que a sra.
acredita personificar um diferencial entre os políticos?
Carrió - Seria uma ato de soberba
dizer que sou tão diferente dos
outros. Faço parte da política e
defendo o jogo democrático. Mas
sou a única política que pode caminhar pelas ruas de Buenos Aires hoje. O que tenho é uma forte
intransigência moral e isso questiona o sistema.
Agência Folha - Há como o governo de Duhalde resolver a situação
atual?
Carrió - É muito difícil, porque
estamos no meio do parto de uma
nova república. As pessoas querem uma nova República. Falta o
quarto e último furacão, que virá,
porque Duhalde, assim como
eram Cavallo, De la Rúa e Saá (o
ex-presidente interino Adolfo Rodríguez Saá, também peronista),
representa a velha forma de fazer
política.
Isso que está ocorrendo ainda
não terminou, estamos na metade
do parto. O que pode haver é um
período breve de tranquilidade,
mas a insatisfação continua e as
manifestações devem voltar.
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