São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2002

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ENTREVISTA

"Ainda falta o quarto e último furacão"

Deputada Elisa Carrió diz que a insatisfação continua e que as manifestações devem voltar

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A deputada argentina Elisa Carrió, 45, que se tornou uma dissidente da UCR -partido do ex-presidente Fernando de la Rúa- e fundou a ARI (Alternativa para uma República de Iguais) no ano passado.
Carrió diz que não quer cargo no governo de ""salvação nacional" e que é a única política capaz hoje sair tranqüila pelas ruas de Buenos Aires.
Na sua opinião, haverá um ""quarto furacão" -nova onda de protestos, a exemplo das ocorridas anteriormente- contra Duhalde, que é, segundo ela, um político tradicional como os outros líderes afastados nos últimos dias.
"Apostamos no nosso crescimento pelo que somos, acreditamos que essa construção vai se acelerar à medida em que se verifique como o PJ e a UCR são a mesma coisa", disse a deputada argentina.
Carrió, líder nas últimas pesquisas para a presidência argentina, foi um dos 21 integrantes da Assembléia Legislativa que votaram contra a posse de Duhalde. Sua intenção é forçar uma eleição em 90 ou 120 dias.
Leia abaixo trechos da entrevista de Carrió concedida à Agência Folha.

Agência Folha - É verdade que a sra. chegou a ser convidada para participar do governo Eduardo Duhalde, ocupando o Ministério da Justiça?
Elisa Carrió -
Fizeram-me uma série de ofertas, mas não cheguei a falar com Duhalde, nem aceitei qualquer cargo. Queriam usar meu nome, minha imagem de contestadora à ordem estabelecida. Apostamos no nosso crescimento pelo que somos, acreditamos que essa construção vai se acelerar à medida em que se verifique como o PJ e a UCR são a mesma coisa. Nascemos para lutar contra o regime. Não faríamos parte dele.

Agência Folha - Em quanto tempo a sra. acha que deve haver eleição?
Carrió -
Queremos eleições com prévias partidárias. Pedimos que as eleições ocorram, então, em 90 ou 120 dias, com um programa novo. Não queremos a Lei de Lemas (fórmula pela qual cada partido apresenta várias sublegendas e soma todos os votos adquiridos para colocar um dos seus candidatos no poder, mesmo que não tenha sido o mais votado).

Agência Folha - Por que a sra. acredita personificar um diferencial entre os políticos?
Carrió -
Seria uma ato de soberba dizer que sou tão diferente dos outros. Faço parte da política e defendo o jogo democrático. Mas sou a única política que pode caminhar pelas ruas de Buenos Aires hoje. O que tenho é uma forte intransigência moral e isso questiona o sistema.

Agência Folha - Há como o governo de Duhalde resolver a situação atual?
Carrió -
É muito difícil, porque estamos no meio do parto de uma nova república. As pessoas querem uma nova República. Falta o quarto e último furacão, que virá, porque Duhalde, assim como eram Cavallo, De la Rúa e Saá (o ex-presidente interino Adolfo Rodríguez Saá, também peronista), representa a velha forma de fazer política.
Isso que está ocorrendo ainda não terminou, estamos na metade do parto. O que pode haver é um período breve de tranquilidade, mas a insatisfação continua e as manifestações devem voltar.



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