São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2002

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Novo governo vai endurecer com Farc

DA REDAÇÃO

A falta de apoio popular entre os colombianos aos atuais rumos do processo de paz se reflete na campanha eleitoral em curso, para a eleição presidencial de 26 de maio. A crítica ao processo, em variados tons, é unânime entre os candidatos a suceder Andrés Pastrana a partir de 8 de agosto.
"A opinião pública está muito sensível ao tema e, por isso, joga um papel muito forte na questão", afirma Ana Teresa Bernal, diretora da Rede de Iniciativas para a Paz. "As pessoas estão cansadas disso tudo e pedem agora políticas mais duras", diz o general Álvaro Valencia Tovar.
A principal consequência e face mais visível dessa mudança de conceito da opinião pública é o crescimento da candidatura do direitista Álvaro Uribe Vélez, crítico mais feroz do processo. Ele chegou a declarar que, sem o comprometimento das Farc em estabelecer compromissos para o diálogo, retomaria a zona desmilitarizada assim que tomar posse, em agosto.
Segundo uma pesquisa preparada pelo instituto Gallup e pelo Centro Nacional de Consultoria e publicada no início de dezembro por um pool de jornais e revistas, Uribe Vélez aparecia com 22% da preferência do eleitorado, em situação de empate estatístico no segundo lugar com a ex-chanceler Noemí Sanín (25%).
A liderança na pesquisa era do liberal Horacio Serpa (37%) derrotado por Pastrana em 1998 no segundo turno após ter tido mais votos na primeira votação. Muitos atribuem a derrota às fotos do atual presidente ao lado do líder guerrilheiro Manuel Marulanda, que o colocava como o mais capaz de chegar à paz com as Farc.
"Certamente, um candidato que aparecesse hoje numa foto ao lado de Marulanda perderia votos em vez de ganhar", afirma o analista Alejo Vargas.
Numa outra pesquisa, do instituto americano Yankelovich, divulgada há menos de duas semanas, Serpa, com 30,9% das preferências, já aparece ameaçado por Uribe, com 27,4%, que se descolou de Sanín (19,5%).
"Álvaro Uribe nunca esteve de acordo com a cessão de um território tão grande às Farc [a zona desmilitarizada, de 42 mil km2, área equivalente a quase quatro vezes o Estado do Rio de Janeiro" para começar o diálogo", afirma o porta-voz de sua campanha, Ricardo Galán.
Em sua proposta de governo, ele condiciona a manutenção do processo de paz e da zona desmilitarizada às seguintes condições: que as Farc aceitem mediação e controle internacionais do processo, que se comprometa a um cessar-fogo e de hostilidades, que suspenda os sequestros e se desvincule do narcotráfico. "Se essas condições não forem cumpridas, a zona desmilitarizada deverá ser retomada", diz Galán.
Para Hubert Ariza, assessor político do até agora líder nas pesquisas, Horácio Serpa, a zona desmilitarizada não cumpriu até agora com o objetivo pelo qual foi criada: o estabelecimento do diálogo. "As condições para mantermos a zona é que as negociações comecem efetivamente, com resultados práticos", diz.
O assessor diz que Serpa, que liderou a Comissão de Paz no governo César Gaviria (1990-1994), é favorável à continuidade do diálogo, mas com retificações. "Do jeito que está hoje, o processo de paz não vai a lugar nenhum", diz.
Camilo Granada, coordenador de estratégia da campanha de Noemí Sanín, afirma que o principal erro do atual governo foi não ter estabelecido condições para a cessão da zona. "Isso gerou abusos e escândalos. Os guerrilheiros usam a zona para levar para lá sequestrados, para permitir a produção de narcóticos e para facilitar o contrabando de armas", afirma. "Um mecanismo que pode ser aceito para facilitar a negociação se converteu em um problema", diz Granada.
Ele descarta, porém, uma ação militar para a retomada da zona. "Não acreditamos nos ultimatos. Não faz sentido ameaçar retomar a zona no dia 8 de agosto. Acreditamos no diálogo", diz. (RW)


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