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Novo governo vai endurecer com Farc
DA REDAÇÃO
A falta de apoio popular entre
os colombianos aos atuais rumos
do processo de paz se reflete na
campanha eleitoral em curso, para a eleição presidencial de 26 de
maio. A crítica ao processo, em
variados tons, é unânime entre os
candidatos a suceder Andrés Pastrana a partir de 8 de agosto.
"A opinião pública está muito
sensível ao tema e, por isso, joga
um papel muito forte na questão", afirma Ana Teresa Bernal,
diretora da Rede de Iniciativas para a Paz. "As pessoas estão cansadas disso tudo e pedem agora políticas mais duras", diz o general
Álvaro Valencia Tovar.
A principal consequência e face
mais visível dessa mudança de
conceito da opinião pública é o
crescimento da candidatura do
direitista Álvaro Uribe Vélez, crítico mais feroz do processo. Ele
chegou a declarar que, sem o
comprometimento das Farc em
estabelecer compromissos para o
diálogo, retomaria a zona desmilitarizada assim que tomar posse,
em agosto.
Segundo uma pesquisa preparada pelo instituto Gallup e pelo
Centro Nacional de Consultoria e
publicada no início de dezembro
por um pool de jornais e revistas,
Uribe Vélez aparecia com 22% da
preferência do eleitorado, em situação de empate estatístico no
segundo lugar com a ex-chanceler
Noemí Sanín (25%).
A liderança na pesquisa era do
liberal Horacio Serpa (37%) derrotado por Pastrana em 1998 no
segundo turno após ter tido mais
votos na primeira votação. Muitos atribuem a derrota às fotos do
atual presidente ao lado do líder
guerrilheiro Manuel Marulanda,
que o colocava como o mais capaz
de chegar à paz com as Farc.
"Certamente, um candidato que
aparecesse hoje numa foto ao lado de Marulanda perderia votos
em vez de ganhar", afirma o analista Alejo Vargas.
Numa outra pesquisa, do instituto americano Yankelovich, divulgada há menos de duas semanas, Serpa, com 30,9% das preferências, já aparece ameaçado por
Uribe, com 27,4%, que se descolou de Sanín (19,5%).
"Álvaro Uribe nunca esteve de
acordo com a cessão de um território tão grande às Farc [a zona
desmilitarizada, de 42 mil km2,
área equivalente a quase quatro
vezes o Estado do Rio de Janeiro"
para começar o diálogo", afirma o
porta-voz de sua campanha, Ricardo Galán.
Em sua proposta de governo,
ele condiciona a manutenção do
processo de paz e da zona desmilitarizada às seguintes condições:
que as Farc aceitem mediação e
controle internacionais do processo, que se comprometa a um
cessar-fogo e de hostilidades, que
suspenda os sequestros e se desvincule do narcotráfico. "Se essas
condições não forem cumpridas,
a zona desmilitarizada deverá ser
retomada", diz Galán.
Para Hubert Ariza, assessor político do até agora líder nas pesquisas, Horácio Serpa, a zona desmilitarizada não cumpriu até agora com o objetivo pelo qual foi
criada: o estabelecimento do diálogo. "As condições para mantermos a zona é que as negociações
comecem efetivamente, com resultados práticos", diz.
O assessor diz que Serpa, que liderou a Comissão de Paz no governo César Gaviria (1990-1994), é
favorável à continuidade do diálogo, mas com retificações. "Do
jeito que está hoje, o processo de
paz não vai a lugar nenhum", diz.
Camilo Granada, coordenador
de estratégia da campanha de
Noemí Sanín, afirma que o principal erro do atual governo foi não
ter estabelecido condições para a
cessão da zona. "Isso gerou abusos e escândalos. Os guerrilheiros
usam a zona para levar para lá sequestrados, para permitir a produção de narcóticos e para facilitar o contrabando de armas", afirma. "Um mecanismo que pode
ser aceito para facilitar a negociação se converteu em um problema", diz Granada.
Ele descarta, porém, uma ação
militar para a retomada da zona.
"Não acreditamos nos ultimatos.
Não faz sentido ameaçar retomar
a zona no dia 8 de agosto. Acreditamos no diálogo", diz.
(RW)
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