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Afegãos enfrentam fome no maior
campo de refugiados do mundo
KIM SENGUPTA
DO "INDEPENDENT", EM HERAT
Elas se aproximaram do carro
em ondas frenéticas, deixando as
tendas feitas de plástico. Batiam
nas janelas, acenando com papéis
de registro rotos como prova de
que tinham direito a viver no
maior campo de refugiados do
mundo.
Desesperadas por ajuda, essas
mulheres, algumas com bebês no
colo, eram apenas algumas centenas dos 120 mil afegãos abrigados
no centro de Maslakh, um campo
de refugiados vasto, disperso e
anárquico nos subúrbios de Herat, oeste do Afeganistão, onde as
pessoas que o ocupam enfrentam
o desastre à medida que o inverno
se intensifica.
A cada semana, centenas de
pessoas chegam ao campo. São os
afegãos que as agências internacionais de assistência classificam
como IDP (pessoas deslocadas internamente), pessoas que viram a
seca transformar terras férteis em
poeira e pedra nas Províncias de
Badghis, Ghor e Fariah. O número de refugiados explodiu com a
guerra: antes de setembro, não
havia mais de 30 mil.
Maslakh se tornou sinônimo do
caos e confusão que acompanharam boa parte dos esforços humanitários no Afeganistão nos últimos anos. O campo foi fundado
nove anos atrás por uma agência
local de assistência. Em breve escapava ao controle. Não houve
muita ajuda das agências internacionais, cujos esforços eram prejudicados pela interferência sistemática do Taleban.
O médico Syed Abubakr Rasooli, agora diretor da OMS (Organização Mundial da Saúde) em Herat, era então funcionário do Ministério da Saúde. Ele relembra:
"Um mulá, camponês pashtu da
região de Candahar, foi promovido a meu chefe. A OMS nos deu
três motocicletas para visitar os
refugiados. Meu chefe as transferiu ao Taleban. Não demorou
muito e o mulá estava dirigindo
um Land Cruiser com ar condicionado, e os refugiados não recebiam, sequer o pouco que lhes era
dado antes".
O Taleban aplicou aos campos
de refugiados seu regime severo.
Amina Tolah, professora de educação para a saúde em Maslakh,
conta: "Homens e mulheres trabalhavam juntos. A situação era
tão séria que era preciso. Então os
talebans vieram, espancaram os
homens e abusaram de nós, chamando-nos prostitutas. Fomos
instruídas a ir para casa".
Em setembro, com o número de
refugiados crescendo diariamente e diante de um desastre humano, a Organização Internacional
para a Migração tomou o controle
de Maslakh. Dan Gill, diretor da
organização em Herat, disse ter
encontrado uma situação chocante. "As agências internacionais haviam basicamente desistido do Afeganistão por considerá-lo uma causa perdida", conta.
"Maslakh não é um campo, é uma
cidade. Estamos tentando fazer
com que essas pessoas voltem para suas casas, com apoio", diz ele.
Mas a maioria dos refugiados
não tem para onde ir. Para muitos, essa "cidade" empoeirada é
melhor que o lugar de onde vieram. Noorhajan, uma mulher frágil e encurvada em seus 60 anos,
está acocorada diante da tenda
que divide com a filha e oito netos. Há alguns cobertores esfarrapados para enfrentar o frio. Ela e
as crianças mais novas são os que
mais sofrem nas noites gélidas.
"É sempre tão frio, não resta calor em nossos corpos", diz ela.
"Recebemos muito pouco para
comer, mas em casa não receberíamos nada. Vendemos tudo,
nossos carneiros, nossas terras,
mas isso não bastou. Meu filho
morreu, e nós decidimos procurar refúgio aqui. Mas, a caminho,
meu marido também morreu."
Rasooli, da OMS, diz que o campo está fora de controle e deveria
ser fechado. "Mas para onde iremos?", pergunta Mohammed
Bassat, que chegara com seus
quatro filhos, deixando a casa onde a mulher morrera. "Não nos
resta nada em casa. Vivemos numa terra amaldiçoada."
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