São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2007

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Bush muda comando militar no Iraque

Substituição dos generais Casey e Abizaid faz parte de nova estratégia para o país, que prevê ainda o aumento de tropas

Comando diplomático também deve ser trocado, com ida de Khalilzad para posto na ONU; contingente em Bagdá será ampliado

MICHAEL GORDON
THOM SHANKER
DO "NEW YORK TIMES"

Em meio às mudanças de sua estratégia para o Iraque, o presidente dos EUA, George W. Bush, decidiu nomear o general David Petraeus para comandar as forças americanas no país. Ele substituirá o general George Casey, e o almirante William Fallon, hoje comandante das forças do Pacífico, deverá ir para o lugar do general John Abizaid, no segundo posto da hierarquia da ocupação.
A meta da Casa Branca é introduzir mais cinco brigadas em Bagdá e dois batalhões para reforçar a operação na Província de Anbar, no oeste do país.
Na quinta-feira, Bush teve uma videoconferência com o premiê iraquiano, Nuri al Maliki, e com seus auxiliares imediatos na qual afirmou que deseja deixar clara a nova missão e as formas de concretizá-la.
Auxiliares diretos de Bush disseram que a escolha de Petraeus faz parte de um amplo movimento de mudanças com vistas à nova estratégia. "A idéia é, por meio de novos comandantes, enviar um claro recado de que estamos mudando nosso enfoque", disse um deles.
Entre outras mudanças, Bush também nomeará para o posto de embaixador americano na ONU Zalmay Khalilzad, atual embaixador em Bagdá.
O almirante Fallon será o primeiro oficial da Marinha a atuar no Comando Central, encarregado das operações no Iraque e no Afeganistão. Sua promoção também é vista como uma nova ênfase para enfrentar a ameaça do Irã, missão que depende em muito das forças navais para enfatizar a influência americana no golfo.
Petraeus, até agora comandante das forças americanas em Fort Leavenworth, Estado de Kansas, é um dos autores do novo manual de combate à insurgência e defensor do aumento do contingente no Iraque. Ele substitui o general Casey, cujo plano de redução dos efetivos é visto como uma das razões do incremento das operações da insurgência. Casey também se opunha ao envio de até 30 mil novos militares.

Mudança antecipada
Casey, em princípio, só deveria ser substituído dentro de quatro ou seis meses. Mas o general John Abizaid demonstrou recentemente sua intenção de passar para a reserva.
A nova estratégia prevê o envio de duas brigadas (7.000 homens) a Bagdá, com uma terceira brigada estacionada no Kuait para eventualmente entrar em ação. Não se trata propriamente de enviar mais soldados mas de manter no Iraque militares que, em princípio, deveriam ser repatriados.
A convocação de até cinco brigadas mais do que duplicaria o número de combatentes americanos na capital. Bagdá é vista como uma vitrine no esforço de estabilização e a prova de que a Casa Branca privilegia como alvo a insurgência sunita.
O envio de dois batalhões a Anbar (cada batalhão tem 1.200 homens) também significaria um recado aos sunitas.
Analistas acreditam que essa escalada só será seguida de uma redução do contingente americano caso os iraquianos cumpram a parte que lhes cabe -no ano passado, eles não conseguiram aumentar seus combatentes nem conter a infiltração da polícia pelos insurgentes.
O incremento das forças americanas não será bem recebido pelo premiê Maliki. No encontro que ele teve com Bush em novembro, na Jordânia, sua proposta era outra: deslocar as forças americanas para fora de Bagdá, deixando com as tropas do governo as operações na capital. Mas a idéia era suspeita, já que o premiê, um xiita, estaria confundindo seu governo com os objetivos próprios a sua comunidade islâmica.
Bush e seus assessores crêem que o atual plano só vingará se forem tomadas medidas em favor da reconciliação e adotado um programa de reconstrução que produza novos empregos.
Na teleconferência de anteontem, Maliki falou sobre seus esforços de reconciliação e neutralização das milícias xiitas, tópico em que os americanos acreditam que ele tem sido muito vagaroso. Bush também disse a Maliki que ele tinha razão em pedir investigações sobre as circunstâncias vexatórias em que foi enforcado o ditador Saddam Hussein.
O general Petraeus foi um dos comandantes da invasão de 2003, abrindo caminho para Bagdá e depois se instalando em Mossul, no norte- onde, em sua base, mandou fixar um cartaz dizendo: "precisamos ganhar o apoio das pessoas".
Um general hoje na reserva, Jack Keane, qualifica Petraeus de "um comandante cheio de imaginação" e que sabe combater as forças irregulares. Hoje general de três estrelas, para assumir o novo posto ele receberá sua quarta estrela.


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