São Paulo, quarta-feira, 06 de janeiro de 2010

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Pré-candidatura de vice argentino racha base

Julio Cobos confirmou no domingo que pretende disputar a Presidência em 2011; partido exige que ele saia do governo

Na prática, político passou a fazer oposição a Cristina Kirchner a partir de julho de 2008; candidatos precisam passar antes por primárias

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

Ao admitir que pretende disputar a eleição presidencial de 2011, o atual vice-presidente da Argentina, Julio Cobos, embolou o xadrez eleitoral no lado da oposição ao atual governo -de Cristina Kirchner- e atraiu críticas até de supostos aliados.
Cobos disse ao jornal "Clarín", em entrevista publicada no último domingo, que "adoraria enfrentar [o ex-presidente Néstor] Kirchner ou quem quer que se seja" em eventual segundo turno em 2011.
A UCR (União Cívica Radical), partido pelo qual Cobos pretende se candidatar, cobrou dele que se desvencilhe do cargo de vice-presidente da República ou se abstenha de antecipar a campanha.
O deputado Ricardo Alfonsín, que é filho do ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989) e conquista crescente influência na UCR, afirmou que "qualquer manual de política apontaria como anomalia" o fato de Cobos se apresentar como alternativa opositora à sucessão do governo que ele integra.
Porém, Cobos lida com a ambiguidade de estar ao mesmo tempo no governo e na oposição desde julho de 2008, quando assumiu a atitude de adversário da presidente, decidindo contrariamente aos interesses de Cristina numa votação crucial para o governo no Senado.
Na Argentina, o vice-presidente da República acumula a presidência do Senado. Era de Cobos o voto de desempate no projeto de lei da Presidência para aumentar imposto à exportação de grãos.
A proposta havia suscitado agudo conflito entre Cristina e o agronegócio. Houve ameaça de desabastecimento no país, quando os ruralistas recorreram ao locaute para pressionar o governo. Cobos votou contra e derrubou o projeto.
Depois desse ponto de inflexão na relação de Cobos com Cristina, que elevou o índice de avaliação positiva do vice-presidente na opinião pública, a UCR revogou a decisão de bani-lo do partido. Cobos havia sido expulso em 2007, quando aderiu à chapa presidencial de Cristina, candidata pelo rival PJ (Partido Justicialista).
Depois de citar a "anomalia" do propósito de Cobos, Alfonsín afirmou que, se o vice-presidente renunciasse agora ao cargo, "a emenda sairia pior do que o soneto". O argumento de Alfonsín é que a atuação de Cobos à frente do Senado será decisiva para o andamento que as bancadas de oposição pretendem dar à pauta do Congresso.

Disputa
Não se descarta, contudo, que a reação de Alfonsín esteja associada a uma ainda não declarada intenção dele de ser o candidato da UCR à sucessão de Cristina Kirchner.
Uma lei de "reforma política" proposta pela presidente e aprovada pelo Congresso no ano passado eliminou a possibilidade de os partidos argentinos concorrerem à eleição com mais de um candidato.
Os postulantes à Presidência da República devem ser definidos em eleições primárias, a serem realizadas num prazo de 60 a 90 dias antes da eleição geral, que está prevista para outubro de 2011.
Cobos sugeriu que março de 2011 seria a data ideal para lançar a candidatura. O ex-presidente Eduardo Duhalde anunciou que disputará a indicação do PJ com Néstor Kirchner, que ainda não se reconhece formalmente como candidato.


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