São Paulo, #!L#Domingo, 06 de Fevereiro de 2000


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ÁUSTRIA
Novo governo de direita de Viena poderia vetar decisões da UE, que precisam ser aprovadas por unanimidade
Haider faz ameaça à União Européia

Associated Press
Manifestante contrário ao governo de extrema direita na Áustria enfrenta a polícia no centro de Viena, na madrugada de ontem



FÁBIO ZANINI
enviado especial a Viena

Um dia após a posse de seu partido no governo austríaco, o extremista Joerg Haider voltou a criar controvérsia, desta vez colocando em risco o funcionamento da União Européia (UE).
Em entrevista à agência de notícias austríaca "APA", Haider, líder do Partido da Liberdade, de extrema direita, fez uma ameaça velada de que a Áustria poderá paralisar a tomada de decisões importantes pela UE.
Ele lembrou que, segundo as regras do organismo, as resoluções precisam ter o voto unânime dos 15 países integrantes.
"A política da UE é determinada unicamente nos conselhos de ministros, onde as decisões devem ser tomadas de forma unânime. Eles vão ter de se acostumar à nossa presença", afirmou Haider, cujo partido tem seis postos no gabinete austríaco, incluindo pastas como Defesa e Finanças.
A declaração é uma reação aos protestos e retaliações promovidos pelos parceiros da Áustria na UE contra a participação do Partido da Liberdade, considerado neonazista, no governo.
A maioria dos países da UE decidiu suspender contatos políticos com o governo da Áustria, mantendo-os apenas em "nível técnico". O objetivo é isolar diplomaticamente o país, como forma de protesto. EUA e Israel chamaram de volta seus embaixadores em Viena "para consultas".
A ameaça de Haider deve acelerar uma polêmica discussão que já está em vigor dentro da UE.
Hoje, qualquer Estado pode vetar uma decisão que não lhe agrada. Mas alguns governos, como o britânico e o alemão, defendem que as decisões sejam tomadas por maioria, não necessariamente por unanimidade.
Eles argumentam que a prevista ampliação da UE para o Leste, que resultaria em 20 ou 25 membros em alguns anos, tornaria a busca pelo consenso muito difícil.
Por outro lado, países pequenos, como Portugal e Grécia, temem perder influência caso a unanimidade seja derrubada.
Na madrugada de ontem, uma onda de protestos nas principais cidades da Áustria contra a formação do governo deixou 43 policiais e 11 manifestantes feridos. Sete pessoas foram presas e 32 carros da polícia, destruídos.
Na capital, as ruas do centro, próximas à sede do Partido da Liberdade, amanheceram cheias de cacos de vidro. Pelo menos duas lojas tiveram vitrines quebradas. Na fachada da sede do partido, marcas de ovos atirados por manifestantes ainda podiam ser vistas, enquanto pichações em muros chamavam Haider de fascista.
Policiais permanecem de plantão no local. "Temos ordens de ficar aqui por tempo indeterminado", disse um deles.
Joerg Haider notabilizou-se por fazer elogios a aspectos da política do líder nazista alemão Adolf Hitler. Ele se elegeu com uma plataforma de restrição ao número de imigrantes no país.



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