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ISRAEL VOTA
Autor de biografia não autorizada de líder do Likud diz que pragmatismo pode torná-lo um "pacificador"
Sharon não tem limites, afirma biógrafo
Associated Press
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Sharon em Beirute, em 1982, quando comandou a invasão do Líbano como ministro da Defesa |
DO ENVIADO ESPECIAL
O jornalista israelense Uzi Benziman é um dos maiores especialistas em Ariel Sharon, autor do
best seller "Ele Não Pára no Sinal
Vermelho", uma biografia não
autorizada do polêmico político e
comandante militar, grande favorito nas eleições de hoje.
Benziman acha difícil prever como Sharon agirá se chegar ao poder. Mesmo quando não era primeiro-ministro, "era difícil contê-lo". Mas acha que o pragmatismo
já exibido pelo candidato do Likud pode fazer com que ele se torne um "pacificador", não mais
um "guerreiro" (título da autobiografia de Sharon).
Benziman foi o primeiro a revelar que Sharon escondeu do então
premiê Menachem Begin suas
reais intenções ao comandar, como ministro da Defesa, a invasão
do Líbano, em 1982.
Disse que seria uma guerra rápida, para tomar 40 km do sul do
país, de onde militantes palestinos lançavam ataques constantes
contra o norte de Israel.
Sharon acabou tomando Beirute, e a ocupação só acabou em
maio passado. O candidato do Likud diz que a revelação de Benziman, feita em 91 e hoje aceita como fato em Israel, é mentirosa.
Processou o jornalista, perdeu em
primeira instância e está apelando. A próxima audiência do caso
será em maio, com Benziman
agora muito provavelmente enfrentando o novo premiê do país.
(SÉRGIO MALBERGIER)
Folha - O sr. acha que Sharon passou de guerreiro a pacificador, como diz sua propaganda?
Uzi Benziman - Precisamos esperar para ver. Eu não acredito, mas
pode ser. Acho difícil uma pessoa
mudar depois dos 70 anos. Toda a
sua vida ele agiu e pensou de um
modo específico.
Recentemente, quando (o premiê Ehud) Barak lhe propôs um
governo de união nacional e os
dois iniciaram negociações
-sem sucesso por causa da exigência de Sharon de veto em relação ao processo de paz- vazou
que ele sugeriu que Barak retomasse a cidade palestina de Jericó
e matasse um dos principais assessores de Iasser Arafat como
parte de uma ofensiva contra a Intifada e um alerta à Autoridade
Nacional Palestina. Então creio
que essa forma de atitude ainda
segue sendo típica de Sharon.
Folha - Mas ele não pode aproveitar essa última oportunidade para
mudar seu papel na história de Israel? Ele tem um lado político bastante pragmático.
Benziman - Sim, é uma possibilidade. Ele pode querer ser lembrado como o De Gaulle israelense,
um homem que mudou o destino
de seu país, bastante pragmático,
que trouxe a paz, mas isso surpreenderá a todos. É verdade que
alguns episódios do passado de
Sharon mostram pragmatismo.
Era inicialmente contra o acordo
de paz com o Egito, de 1977 a 1979,
mas depois aderiu a ele e comandou a violenta retirada da maior
colônia judaica do Sinai ocupado,
Yamit. E participou como chanceler do acordo que selou a retirada israelense de Hebron.
Folha - O sr. acha que Sharon conseguirá formar um governo de
união nacional com o Partido Trabalhista?
Benziman - Isso dependerá do
tamanho da derrota de Barak. Eu
creio que o atual premiê é a favor
de um governo de união nacional.
Mas, se sua derrota for muito
grande, ele será derrubado do comando dos trabalhistas, e aí não
sabemos o que ocorrerá. Os trabalhistas podem preferir ver um
desastroso governo de Sharon,
apoiado na extrema direita, que
acabe sendo derrubado rapidamente pelo Parlamento.
Folha - Os israelenses perdoaram
os erros de Sharon? Qual a motivação de seus eleitores hoje?
Benziman - Foi Arafat que deu a
vitória a Sharon, não ele mesmo
ou Barak. Os israelenses querem
um homem forte que esmague a
Intifada e restaure a segurança. E
Sharon é visto como uma pessoa
que pode fazê-lo. É por isso que a
maioria está novamente se voltando para a direita. Não acho que
ela esteja perdoando Sharon.
Muitos não acham que ele tenha
cometido erros. Metade do país é
tradicionalmente da direita. Sharon é admirado por muitos israelenses, que lembram suas importantes vitórias nos campos de batalha, principalmente na guerra
de 1973.
Folha - O que Sharon pode fazer
contra a Intifada?
Benziman -Sharon não tem limites. Muitas vezes, no passado,
missões específicas e limitadas
que ele recebeu se transformaram
em grandes operações, muito
maiores que o previsto, daí o título do meu livro. O maior exemplo
disso é a Guerra do Líbano, quando ele chegou a Beirute, mudou o
governo libanês e quis expulsar os
refugiados palestinos do país para
a Jordânia e transformá-la na pátria palestina. O que Sharon fará
agora no cargo máximo do país
eu não sei. Mesmo quando tinha
gente acima dele, não tinha limites. Ele pode dar um sinal verde ao
Exército para tomar medidas
muito mais duras do que estamos
vendo agora.
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