São Paulo, terça-feira, 06 de fevereiro de 2001

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ISRAEL VOTA

Autor de biografia não autorizada de líder do Likud diz que pragmatismo pode torná-lo um "pacificador"


Sharon não tem limites, afirma biógrafo

Associated Press
Sharon em Beirute, em 1982, quando comandou a invasão do Líbano como ministro da Defesa


DO ENVIADO ESPECIAL

O jornalista israelense Uzi Benziman é um dos maiores especialistas em Ariel Sharon, autor do best seller "Ele Não Pára no Sinal Vermelho", uma biografia não autorizada do polêmico político e comandante militar, grande favorito nas eleições de hoje.
Benziman acha difícil prever como Sharon agirá se chegar ao poder. Mesmo quando não era primeiro-ministro, "era difícil contê-lo". Mas acha que o pragmatismo já exibido pelo candidato do Likud pode fazer com que ele se torne um "pacificador", não mais um "guerreiro" (título da autobiografia de Sharon).
Benziman foi o primeiro a revelar que Sharon escondeu do então premiê Menachem Begin suas reais intenções ao comandar, como ministro da Defesa, a invasão do Líbano, em 1982.
Disse que seria uma guerra rápida, para tomar 40 km do sul do país, de onde militantes palestinos lançavam ataques constantes contra o norte de Israel.
Sharon acabou tomando Beirute, e a ocupação só acabou em maio passado. O candidato do Likud diz que a revelação de Benziman, feita em 91 e hoje aceita como fato em Israel, é mentirosa. Processou o jornalista, perdeu em primeira instância e está apelando. A próxima audiência do caso será em maio, com Benziman agora muito provavelmente enfrentando o novo premiê do país. (SÉRGIO MALBERGIER)

Folha - O sr. acha que Sharon passou de guerreiro a pacificador, como diz sua propaganda?
Uzi Benziman -
Precisamos esperar para ver. Eu não acredito, mas pode ser. Acho difícil uma pessoa mudar depois dos 70 anos. Toda a sua vida ele agiu e pensou de um modo específico.
Recentemente, quando (o premiê Ehud) Barak lhe propôs um governo de união nacional e os dois iniciaram negociações -sem sucesso por causa da exigência de Sharon de veto em relação ao processo de paz- vazou que ele sugeriu que Barak retomasse a cidade palestina de Jericó e matasse um dos principais assessores de Iasser Arafat como parte de uma ofensiva contra a Intifada e um alerta à Autoridade Nacional Palestina. Então creio que essa forma de atitude ainda segue sendo típica de Sharon.

Folha - Mas ele não pode aproveitar essa última oportunidade para mudar seu papel na história de Israel? Ele tem um lado político bastante pragmático.
Benziman -
Sim, é uma possibilidade. Ele pode querer ser lembrado como o De Gaulle israelense, um homem que mudou o destino de seu país, bastante pragmático, que trouxe a paz, mas isso surpreenderá a todos. É verdade que alguns episódios do passado de Sharon mostram pragmatismo. Era inicialmente contra o acordo de paz com o Egito, de 1977 a 1979, mas depois aderiu a ele e comandou a violenta retirada da maior colônia judaica do Sinai ocupado, Yamit. E participou como chanceler do acordo que selou a retirada israelense de Hebron.

Folha - O sr. acha que Sharon conseguirá formar um governo de união nacional com o Partido Trabalhista?
Benziman -
Isso dependerá do tamanho da derrota de Barak. Eu creio que o atual premiê é a favor de um governo de união nacional. Mas, se sua derrota for muito grande, ele será derrubado do comando dos trabalhistas, e aí não sabemos o que ocorrerá. Os trabalhistas podem preferir ver um desastroso governo de Sharon, apoiado na extrema direita, que acabe sendo derrubado rapidamente pelo Parlamento.

Folha - Os israelenses perdoaram os erros de Sharon? Qual a motivação de seus eleitores hoje?
Benziman -
Foi Arafat que deu a vitória a Sharon, não ele mesmo ou Barak. Os israelenses querem um homem forte que esmague a Intifada e restaure a segurança. E Sharon é visto como uma pessoa que pode fazê-lo. É por isso que a maioria está novamente se voltando para a direita. Não acho que ela esteja perdoando Sharon.
Muitos não acham que ele tenha cometido erros. Metade do país é tradicionalmente da direita. Sharon é admirado por muitos israelenses, que lembram suas importantes vitórias nos campos de batalha, principalmente na guerra de 1973.

Folha - O que Sharon pode fazer contra a Intifada?
Benziman -
Sharon não tem limites. Muitas vezes, no passado, missões específicas e limitadas que ele recebeu se transformaram em grandes operações, muito maiores que o previsto, daí o título do meu livro. O maior exemplo disso é a Guerra do Líbano, quando ele chegou a Beirute, mudou o governo libanês e quis expulsar os refugiados palestinos do país para a Jordânia e transformá-la na pátria palestina. O que Sharon fará agora no cargo máximo do país eu não sei. Mesmo quando tinha gente acima dele, não tinha limites. Ele pode dar um sinal verde ao Exército para tomar medidas muito mais duras do que estamos vendo agora.


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