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Controvérsia não afeta eleição, diz analista
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
As afirmações de George Tenet,
diretor da CIA, não deverão ter
grande impacto sobre a disputa
eleitoral americana, pois a população está mais preocupada com
outros temas, como a economia.
A análise é de Ole Holsti, professor na Universidade Duke (EUA)
e autor de, entre outros, "Public
Opinion and American Foreign
Policy" (opinião pública e política
externa americana). Leia sua entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - Que impacto as afirmações de Tenet terão sobre a disputa
eleitoral americana?
Ole Holsti - Trata-se de uma boa
questão. É normal que a CIA tente
proteger-se de futuros ataques,
argumentando que sua participação não foi crucial no que concerne à decisão de invadir o Iraque.
Contudo não creio que, aos
olhos dos eleitores, a questão iraquiana venha a ter um papel vital
na disputa pela Presidência. O
eleitorado está mais preocupado
com a economia, com a ausência
de uma verdadeira criação de empregos, com o sistema público de
saúde e com a Previdência Social,
segundo pesquisas recentes.
Ademais, a eleição ainda está
muito distante, e, até julho ou
agosto, quando a campanha realmente vai esquentar, as alegações
sobre falhas do serviço de inteligência já terão sido esquecidas.
O problema de George W. Bush
é a morte de soldados no Iraque,
não questões ligadas à guerra. Esta já faz parte do passado. Seu
maior trunfo, por outro lado, é a
prisão de Saddam Hussein.
As afirmações de Tenet só servirão para inflamar a campanha
dos pré-candidatos democratas.
Por ora, não haverá outras conseqüências. Vale lembrar que a comissão que investigará o caso só
divulgará o resultado de seus trabalhos após a eleição presidencial.
Folha - A controvérsia atual abala
a imagem internacional da CIA?
Holsti - A Guerra do Iraque abalou bastante a imagem internacional da CIA e, sobretudo, a dos
EUA. O tipo de simpatia que a população da maioria dos países do
mundo tinha pelos EUA após o 11
de Setembro foi se dissipando, e a
imagem atual do país é péssima.
As declarações de Tenet e o escândalo relacionado aos serviços
de espionagem servirão para que,
internacionalmente, as pessoas
tenham certeza de que a decisão
de invadir o Iraque foi equivocada. Indubitavelmente, a controvérsia terá mais repercussões no
exterior. Será preciso muito mais
que uma campanha de relações
públicas para reverter o quadro.
Folha - Todavia a CIA é importante na guerra ao terror. Até que ponto a controvérsia pode minar seu
trabalho internacional?
Holsti - Quando há um grande
erro, as agências de inteligência
sempre levam parte da culpa, como ocorreu no caso do colapso da
URSS ou no do bombardeio acidental da Embaixada da China
em Belgrado, em 1999.
É claro que isso não é bom para
a reputação da CIA, mas não creio
que venha a minar seriamente seu
trabalho no exterior. Uma verdadeira mudança existirá porque ficou claro que depender quase exclusivamente de tecnologia de
ponta não é suficiente. É preciso
um minucioso trabalho de campo, com agentes bem treinados.
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