São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Juízes alegam falta de provas, depois que os EUA negaram acesso a informações sobre os ataques

Alemanha absolve réu do 11 de Setembro

Christof Stache/Associated Press
Abdelghani Mzoudi sorri ao receber o veredicto, em Hamburgo


DA REDAÇÃO

A Justiça alemã absolveu ontem um marroquino acusado de envolvimento nos preparativos para os atentados de 11 de setembro de 2001. Na decisão, o juiz argumentou que, apesar de não convencido da inocência do réu, as provas são insuficientes para condená-lo.
O corpo de juízes absolveu Abdelghani Mzoudi, 31, após não ter obtido acesso a informações confidenciais dadas por uma testemunha sob custódia dos EUA.
"Você está livre", disse o presidente da junta, Klaus Rühle, a Mzoudi, acusado de cumplicidade nas cerca de 3.000 mortes. "Mas não porque a corte está convencida de que você é inocente."
"O réu não deve carregar o peso da prova ausente", disse Rühle, aparentemente se referindo ao interrogatório de Ramzi bin al Shibh, da rede terrorista Al Qaeda. Ele foi preso no Paquistão em 2002 e está sob custódia dos EUA.
Os cinco juízes, que libertaram Mzoudi em dezembro após analisarem indícios de que ele não sabia dos planos para atacar os EUA, "tiveram de dar-lhe o benefício da dúvida", disse Rühle. A promotoria, que pediu 15 anos de prisão, anunciou que recorrerá.
Os advogados das famílias de mortos no 11 de Setembro que participaram do julgamento como co-acusadores crêem que, se os EUA fornecessem a transcrição integral do interrogatório de Al Shibh, haveria provas contra Mzoudi. Eles tiveram um pedido para adiar o julgamento negado.
O promotor-chefe, Kay Nehm, também culpou os EUA. "Eles devem ter suas razões, que não foram explicadas. Portanto, essa conduta é incompreensível."
"Terá de haver uma mudança de mentalidade nos EUA, porque obviamente as pessoas agora se perguntarão por que o processo alemão contra Mzoudi terminou dessa forma", afirmou Nehm.

Ligações
Mzoudi assinou o testamento de Mohamed Atta, líder dos seqüestradores envolvidos no 11 de Setembro, quando ambos estudavam em Hamburgo (Alemanha), e se mudou para um apartamento deixado vago por Atta em 1999.
Os promotores acusam Mzoudi, que esteve em um campo terrorista no Afeganistão em 2000, de ter dado apoio logístico à célula de Hamburgo da Al Qaeda, facilitando transações financeiras e abrigando terroristas.
Em dezembro, o processo sofreu uma reviravolta. Novas provas sobre o caso submetidas à Justiça pela polícia federal alemã revelaram o depoimento de uma testemunha não identificada segundo o qual apenas quatro membros da célula de Hamburgo da Al Qaeda -os três pilotos suicidas e Al Shibh- sabiam dos ataques com antecedência.
"Em nenhum momento essas quatro pessoas falaram com outras sobre as operações ou sobre a criação de uma célula terrorista incitando uma guerra santa", diz essa testemunha. Em sua defesa, Mzoudi alegou que, apesar da amizade com muitos dos envolvidos no 11 de Setembro, ele não sabia dos planos para os ataques.
Após o veredicto, Mzoudi sorriu e não falou com a mídia. Seus advogados disseram que ele deve retomar o curso de engenharia.
A Prefeitura de Hamburgo disse que examinará um pedido de deportação após a decisão final.
Em fevereiro de 2003, acusações semelhantes asseguraram uma pena de 15 anos para o também marroquino Mounir el Motassadeq, amigo de Mzoudi e o primeiro condenado pelos atentados. Ele apelou da decisão e deve ser julgado novamente em março.

Com agências internacionais e "The New York Times"


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