São Paulo, segunda-feira, 06 de fevereiro de 2006

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RELIGIÃO

Radicais queimam consulado em Beirute e ira contra charges do profeta se alastra; líderes europeus pedem calma

Dinamarca tem outra missão incendiada

DA REDAÇÃO

Empunhando bandeiras islâmicas e entoando o cântico "Deus é o maior", manifestantes muçulmanos atearam fogo ontem ao consulado dinamarquês em Beirute. O protesto no Líbano deu continuidade às reações violentas contra a publicação, iniciada por um jornal dinamarquês, de charges sobre o profeta Muhammad.
No sábado, manifestantes haviam incendiado as embaixadas da Dinamarca e da Noruega em Damasco, capital da Síria. Protestos públicos ocorreram ontem também no Egito, na Turquia, no Paquistão e na Palestina. O incêndio em Beirute deixou um morto e 28 feridos. Mais de 60 pessoas foram presas.
"Qualquer um que insulte o profeta Muhammad deve ser morto" diziam faixas carregadas por milhares de manifestantes, que atiraram pedras nas forças de segurança em Beirute. A multidão foi dispersa sob bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água.
Mas houve cobranças por moderação nas manifestações. Muhammad Rashid Qabani, maior representante do clero muçulmano no Líbano, disse que independentemente de como os muçulmanos se sentem sobre as charges, eles devem exercitar o comedimento. "Reações exageradas ultrapassam os limites dos atos democráticos e são perigosas à defesa da causa muçulmana", reiterou um comunicado da Organização da Conferência Islâmica.
As manifestações no Líbano incluíram ainda o apedrejamento de uma igreja e estragos em uma propriedade particular situada em área cristã, elevando a tensão sectária num país que ainda não se recuperou completamente das divisões que causaram a guerra civil de 1975 a 1990.
Entre os que puseram fogo no prédio da embaixada, um homem foi atingido pelas chamas e morreu depois de saltar do terceiro andar, segundo informou um oficial à agência de notícias Reuters.
Copenhague ordenou que os dinamarqueses deixem o Líbano imediatamente ou permaneçam dentro de casa. Na rádio pública dinamarquesa, o chanceler Per Stig Moeller pediu calma.
"É uma situação crítica e muito séria", declarou Moeller minutos após os manifestantes atearem fogo ao consulado em Beirute. "O governo não tem nenhuma intenção de insultar os muçulmanos", enfatizou o chanceler. "A situação não deve mais ser inflamada. Aqueles que a inflamaram devem agora acalmá-la."
A retaliação muçulmana e a onda de protestos violentos entraram na pauta de uma reunião na Alemanha que reuniu ministros da Defesa de vários países. Eles pediram calma e ressaltaram a necessidade de respeito tanto à liberdade religiosa quanto a liberdade de imprensa. "Devemos impedir uma situação em que as pessoas achem que devemos optar por uma dessas duas liberdades", afirmou o ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier.
As forças de segurança libanesas acabaram abrindo caminho para a passagem dos manifestantes depois de tentar em vão bloquear as ruas que levam ao consulado dinamarquês em Beirute.
O premiê libanês Fouad Saniora condenou a violência e negou que tenha faltado vigor à polícia. "Ou abríamos fogo contra eles, ou lidaríamos com a situação da maneira que fizemos", disse. O governo libanês se reuniu ontem para discutir os distúrbios. Durante a reunião, o ministro do Interior, Hassan Sabei, apresentou sua renúncia ao premiê e abandonou o encontro em seguida.


Com agências internacionais

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