São Paulo, segunda-feira, 06 de fevereiro de 2006

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FEMINISMO

Escritora lançou bases do movimento mundial

Morre Betty Friedan, pioneira na luta pelos direitos das mulheres

MARGALIT FOX
DO "NEW YORK TIMES"

Betty Friedan, a escritora e pioneira feminista cujo primeiro livro, o incandescente "The Feminine Mystique" ("A Mística Feminina"), de 1963, lançou o movimento feminista contemporâneo, e, com isso, transformou permanentemente a tessitura social dos EUA e de muitos países do mundo, morreu no sábado, o dia de seu 85º aniversário, em sua casa em Washington. De acordo com Emily Bazelton, porta-voz da família, a causa da morte foi falência cardíaca congestiva.
Com sua análise apaixonada, mas contundente e clara, das questões que afetaram a vida das mulheres nas décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial -incluindo a domesticidade forçada, as perspectivas profissionais restritas e, conforme narrado nas edições posteriores do livro, a campanha pela legalização do aborto-, "A Mística Feminina" é largamente visto como um dos livros de não-ficção mais influentes do século 20. Lançado pela W.W. Norton & Co., até 2000 o livro já havia vendido mais de 3 milhões de cópias e sido traduzido para várias línguas.
"A Mística Feminina" tornou Betty Friedan mundialmente famosa. Também fez dela uma das principais arquitetas do movimento de liberação feminina do final dos anos 1960 e depois -uma revolução social abrangente que remetia às campanhas em favor do sufrágio feminino, na virada do século 20, e que se tornaria conhecida como a segunda onda do feminismo.
Em 1966, Friedan ajudou a fundar a Organização Nacional de Mulheres (NOW, na sigla em inglês), da qual foi a primeira presidente. Em 1969 foi uma das fundadoras da Associação Nacional para a revogação das Leis do Aborto, hoje conhecida como Naral América Pró-Escolha. Em 1971, com Gloria Steinem e Bella Abzug, fundou o Organização Política de Mulheres.
Anos mais tarde, algumas feministas tacharam o trabalho de Friedan de superado, mas grande número de aspectos da vida moderna que hoje parecem corriqueiros -desde os anúncios de "Procura-se Profissional" que não especificam o sexo do profissional procurado até a presença das mulheres na política, medicina, no clero e nas forças armadas- é conseqüência direta das conquistas que ela ajudou as mulheres a conseguir.
Bettye Naomi Goldstein nasceu em 4 de fevereiro de 1921 em Peoria, Illinois. Estudante brilhante que se formou pela Smith College com louvor em 1942, Friedan se diplomou em psicologia, mas nunca trabalhou nessa área. Quando escreveu "A Mística Feminina", ela era mãe e dona-de-casa suburbana que complementava a renda de seu marido escrevendo artigos para revistas femininas.
Embora ela não seja de modo geral vista como escritora de estilo lírico, "A Mística Feminina", quando lido hoje, é tão fascinante quanto foi mais de quatro décadas atrás.
"Pouco a pouco, sem enxergá-lo claramente por muito tempo, comecei a perceber que existe algo de muito errado na maneira como as mulheres americanas procuram viver suas vidas hoje", escreveu Friedan na primeira linha do prefácio do livro.
As palavras têm o poder de atração hipnótico de um conto de fadas, e, nas 400 páginas seguintes, Friedan identifica, disseca e faz o indiciamento condenatório de uma das idéias populares mais onipresentes na vida americana do pós-guerra: o mito da realização doméstica das mulheres suburbanas, aquilo a que ela acabou por chamar de a mística feminina.
Baseando-se em referências históricas, psicológicas, sociológicas e econômicas e também em entrevistas que conduziu com mulheres em todo o país, Betty Friedan mapeou a gradativa metamorfose da mulher americana, da "nova mulher" independente e voltada à carreira profissional dos anos 1920 e 1930 para a dona-de-casa entediada, escondida num avental, dos anos do pós-guerra.
Os outros livros de Betty Friedan incluem "It Changed My Life: Writings on the Women's Movement" (Mudou minha vida: escritos sobre o movimento de mulheres), de 1976, "The Second Stage" (O segundo estágio), de 1981, e "The Fountain of Age" (A fonte da idade), 1993.


Tradução de Clara Allain

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