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FEMINISMO
Escritora lançou bases do movimento mundial
Morre Betty Friedan, pioneira na luta pelos direitos das mulheres
MARGALIT FOX
DO "NEW YORK TIMES"
Betty Friedan, a escritora e pioneira feminista cujo primeiro livro, o incandescente "The Feminine Mystique" ("A Mística Feminina"), de 1963, lançou o movimento feminista contemporâneo,
e, com isso, transformou permanentemente a tessitura social dos
EUA e de muitos países do mundo, morreu no sábado, o dia de
seu 85º aniversário, em sua casa
em Washington. De acordo com
Emily Bazelton, porta-voz da família, a causa da morte foi falência
cardíaca congestiva.
Com sua análise apaixonada,
mas contundente e clara, das
questões que afetaram a vida das
mulheres nas décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial -incluindo a domesticidade
forçada, as perspectivas profissionais restritas e, conforme narrado
nas edições posteriores do livro, a
campanha pela legalização do
aborto-, "A Mística Feminina" é
largamente visto como um dos livros de não-ficção mais influentes
do século 20. Lançado pela W.W.
Norton & Co., até 2000 o livro já
havia vendido mais de 3 milhões
de cópias e sido traduzido para
várias línguas.
"A Mística Feminina" tornou
Betty Friedan mundialmente famosa. Também fez dela uma das
principais arquitetas do movimento de liberação feminina do
final dos anos 1960 e depois
-uma revolução social abrangente que remetia às campanhas
em favor do sufrágio feminino, na
virada do século 20, e que se tornaria conhecida como a segunda
onda do feminismo.
Em 1966, Friedan ajudou a fundar a Organização Nacional de
Mulheres (NOW, na sigla em inglês), da qual foi a primeira presidente. Em 1969 foi uma das fundadoras da Associação Nacional
para a revogação das Leis do
Aborto, hoje conhecida como Naral América Pró-Escolha. Em
1971, com Gloria Steinem e Bella
Abzug, fundou o Organização Política de Mulheres.
Anos mais tarde, algumas feministas tacharam o trabalho de
Friedan de superado, mas grande
número de aspectos da vida moderna que hoje parecem corriqueiros -desde os anúncios de
"Procura-se Profissional" que
não especificam o sexo do profissional procurado até a presença
das mulheres na política, medicina, no clero e nas forças armadas- é conseqüência direta das
conquistas que ela ajudou as mulheres a conseguir.
Bettye Naomi Goldstein nasceu
em 4 de fevereiro de 1921 em Peoria, Illinois. Estudante brilhante
que se formou pela Smith College
com louvor em 1942, Friedan se
diplomou em psicologia, mas
nunca trabalhou nessa área.
Quando escreveu "A Mística Feminina", ela era mãe e dona-de-casa suburbana que complementava a renda de seu marido escrevendo artigos para revistas femininas.
Embora ela não seja de modo
geral vista como escritora de estilo
lírico, "A Mística Feminina",
quando lido hoje, é tão fascinante
quanto foi mais de quatro décadas atrás.
"Pouco a pouco, sem enxergá-lo
claramente por muito tempo, comecei a perceber que existe algo
de muito errado na maneira como as mulheres americanas procuram viver suas vidas hoje", escreveu Friedan na primeira linha
do prefácio do livro.
As palavras têm o poder de atração hipnótico de um conto de fadas, e, nas 400 páginas seguintes,
Friedan identifica, disseca e faz o
indiciamento condenatório de
uma das idéias populares mais
onipresentes na vida americana
do pós-guerra: o mito da realização doméstica das mulheres suburbanas, aquilo a que ela acabou
por chamar de a mística feminina.
Baseando-se em referências históricas, psicológicas, sociológicas
e econômicas e também em entrevistas que conduziu com mulheres em todo o país, Betty Friedan mapeou a gradativa metamorfose da mulher americana, da
"nova mulher" independente e
voltada à carreira profissional dos
anos 1920 e 1930 para a dona-de-casa entediada, escondida num
avental, dos anos do pós-guerra.
Os outros livros de Betty Friedan incluem "It Changed My Life:
Writings on the Women's Movement" (Mudou minha vida: escritos sobre o movimento de mulheres), de 1976, "The Second Stage"
(O segundo estágio), de 1981, e
"The Fountain of Age" (A fonte
da idade), 1993.
Tradução de Clara Allain
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