São Paulo, terça-feira, 06 de fevereiro de 2007

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Amorim dirá que presidente venezuelano está sob controle

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil vai tentar convencer os EUA de que, apesar do endurecimento político e do fechamento econômico na Venezuela, o presidente Hugo Chávez "está sob controle", pois tem recebido recados do Mercosul e do Brasil em particular de que deve se manter dentro de limites democráticos.
Esse deverá ser o tom das conversas reservadas que terão a partir de hoje o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) e o futuro embaixador em Washington, Antonio Patriota, com o subsecretário Nicholas Burns. Na pauta, também os avanços do Irã na área nuclear.
Conforme a Folha apurou, Amorim e Patriota deverão fazer a seguinte análise: a entrada da Venezuela no Mercosul ajuda a estabilização regional, pois condiciona os movimentos de Chávez e propicia uma "homogeneização institucional e política" da região.
Nesse caso, o governo Luiz Inácio Lula da Silva será apresentado como "exemplo e inspiração", pois, como o próprio presidente já disse, não sacrifica a democracia, a liberdade de expressão e o livre comércio nem mesmo em nome do crescimento econômico e do combate à desigualdade social -um recado para Chávez.
Os brasileiros deverão lembrar, ainda, que a declaração final da cúpula do Mercosul, em janeiro, no Rio, foi clara ao defender a democracia já no seu primeiro item.
A agenda dos encontros com os enviados especiais do presidente George W. Bush inclui:
1) as questões bilaterais, inclusive desenvolvimento econômico, agricultura e bioenergia, que assume contornos de prioridade em Washington;
2) as regionais, com relatos sobre a reunião do Mercosul e "troca de impressões" sobre o processo político e econômico especialmente da Venezuela, da Bolívia e do Equador. De outro lado, o Brasil perguntará sobre o andamento da votação no Congresso dos acordos bilaterais dos EUA com Peru e Colômbia;
3) as internacionais, incluídos aí os avanços do Irã na área nuclear e os acordos que têm sido fechados entre os EUA e a Índia.
Burns, o secretário-adjunto para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, e o assessor especial de Energia, Greg Manuel, convidaram governadores para almoço em Brasília, entre eles Aécio Neves (PSDB-MG), Jaques Wagner (PT-BA), Yeda Crusius (PSDB-RS) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ). O tucano José Serra receberá os norte-americanos em São Paulo.
A intenção é relacionar áreas que sejam passíveis de acordos de cooperação com os EUA.
Também estará no Brasil nesta semana o enviado especial Alberto Gonzalez, secretário da Justiça dos EUA, que vai discutir questões de segurança com o ministro demissionário da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e com seu provável sucessor, Tarso Genro, e irá ao Rio, para conversar com o governador Cabral. A delegação americana aos Jogos Pan-Americanos, no final do semestre, deverá ser a maior de todas, e Washington está preocupado com a violência carioca.
O Itamaraty lamentou que, às vésperas das visitas, o ex-embaixador brasileiro em Washington Roberto Abdenur tenha acusado a política externa de ideológica e antiamericanista, em entrevista à revista "Veja". "Acho que, quando você é embaixador em um posto como Washington, se você tem uma dúvida muito séria sobre a política externa do país, você tem uma maneira muito clara de demonstrar isso", disse Amorim a jornalistas.


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