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São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003

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IRAQUE NA MIRA

"Não permitiremos uma resolução que autorize o uso da força", disse o chanceler francês; Bush se diz confiante

Paris e Moscou ameaçam vetar guerra

DA REDAÇÃO

A França e a Rússia disseram ontem que poderão usar as prerrogativas de suas cadeiras permanentes no Conselho de Segurança da ONU (CS) para bloquear qualquer resolução que autorize o uso de força militar contra o regime do ditador iraquiano, Saddam Hussein, elevando o tom de sua disputa diplomática com os EUA.
Os franceses e os russos, que têm poder de veto no CS, divulgaram sua intenção ontem, em Paris, por meio de uma declaração conjunta. Esta também foi assinada pela Alemanha, que preside o CS atualmente. A declaração foi divulgada depois de uma reunião à qual estiveram presentes os ministros das Relações Exteriores dos três países.
Estes rejeitaram o projeto de resolução que abre caminho para a guerra, que está em discussão no CS, e reiteraram sua posição: os inspetores de armas da ONU precisam de mais tempo e apoio para completar seu trabalho no Iraque. Segundo Paris, Moscou e Berlim, o objetivo das inspeções ainda é o desarmamento total do Iraque.
"Não permitiremos a adoção de uma resolução que autorize o uso da força", disse o chanceler francês, Dominique de Villepin, citando um trecho da declaração, ao lado de seus colegas russo, Igor Ivanov, e alemão, Joschka Fischer.
"A Rússia e a França, que são membros permanentes do CS, assumirão totalmente suas responsabilidades." Questionado sobre a possibilidade de a declaração conjunta significar o alinhamento de Paris a Moscou no que se refere a um eventual veto no CS, Villepin disse: "A França segue a mesma linha que a Rússia".
Segundo Ivanov, a China, que, ao lado da França, da Rússia, do Reino Unido e dos EUA, tem poder de veto no CS, afirmou que "compartilha" a posição russa.
A declaração conjunta foi divulgada dois dias antes da intervenção do chefe dos inspetores de armas da ONU, o sueco Hans Blix, no CS. Ele falará da evolução do trabalho de seus comandados em território iraquiano e da cooperação do regime de Saddam com as equipes da ONU.
O presidente dos EUA, George W. Bush, não pareceu abalado com a declaração dos três países europeus e manteve sua intenção de consultar seus aliados a respeito da possível aprovação da resolução, que poderá ser votada na próxima semana.
"Ele [Bush] pensa que o resultado será positivo para os EUA e está confiante", disse o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer.
Os EUA e o Reino Unido, o maior aliado dos EUA nessa questão, precisam obter 9 dos 15 votos no CS para conseguir a adoção da nova resolução. Ainda há seis indecisos. Os cinco membros permanentes do CS têm o direito de vetar uma decisão majoritária do órgão. A França vinha evitando falar em veto, mas deixou transparecer que poderá usá-lo.
Apesar do tom firme da declaração divulgada ontem, os europeus sabem que não será fácil evitar a guerra. O chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, reconheceu que a iniciativa da França, da Rússia e da Alemanha pode falhar. Mas ele salientou que a Alemanha lutará "até o final" por uma solução pacífica para a crise. A Alemanha diz que a iniciativa dos EUA ainda não conta com a aprovação da maioria do CS.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, exortou os membros do CS a superar suas diferenças e a buscar uma solução de compromisso para a questão.
Os EUA afirmam que o regime iraquiano tem e esconde armas de destruição em massa. Saddam refuta a acusação e chama Bush de "déspota" e de "tirano".
A Casa Branca negou que Bush pretenda "repreender" o México ou outro membro do CS que não venha a apoiar a posição americana. "Ele [Bush] jamais disse isso", declarou Fleischer.

Protestos
Milhares de alunos do ensino médio e de estudantes universitários deixaram as salas de aula ontem, em todo o território americano, para protestar contra a possível guerra ao Iraque. Houve uma série de reuniões, e os organizadores do protesto disseram que o movimento poderá tornar-se o maior protesto de estudantes desde a Guerra do Vietnã. Outras dezenas de milhares de jovens poderão juntar-se ao movimento, segundo seus organizadores.


Com agências internacionais


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