São Paulo, sábado, 06 de março de 2004

Texto Anterior | Índice

VENEZUELA

Opositores querem mudar regra de confirmação de assinaturas pró-referendo; "Washington Post" critica venezuelano

Oposição faz proposta; Chávez ataca EUA

DA REDAÇÃO

Membros mais moderados da oposição venezuelana estão negociando com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) uma saída para o impasse envolvendo mais de 1 milhão de assinaturas que o órgão eleitoral exige que sejam confirmadas para que se atinja o número mínimo necessário para a convocação de um referendo sobre o destino do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
A negociação ocorre em meio a amplas manifestações a favor e contra Chávez no país, que já resultaram em oito mortes -a oposição e a imprensa dizem que o número pode ser bem maior- e centenas de prisões.
Já Chávez, em discurso para embaixadores, voltou a atacar Washington por intromissão do nos assuntos domésticos da Venezuela. Ele pediu que, "em nome da verdade, os EUA tirem as suas mãos da Venezuela". O presidente acrescentou: "O governo de Washington financia uma oposição maluca." Há poucos dias, Chávez xingou o presidente dos EUA, George W. Bush, de "idiota". Os EUA são os maiores compradores do petróleo venezuelano, maior fonte de divisas do país.
Em editorial, o influente diário americano "The Washington Post" condenou duramente a postura do CNE de exigir a confirmação de mais de 1 milhão de assinaturas, acusando o órgão de se prender a tecnicalidades, não cumprindo com o que foi acordado com a oposição, sob a mediação de observadores internacional do Centro Carter e da OEA (Organização dos Estados Americanos). Os dois órgãos independentes também criticam a posição do CNE. Para o jornal, se nada for feito contra Chávez, ele "terminará o seu trabalho de destruir uma das mais duradouras democracias da América Latina". As iniciativas dos mediadores estrangeiros, diz o "Post", não obtiveram sucesso "para reverter esse golpe kafkiano". Como o governo dos EUA não pode intervir por ser visto como inimigo por Chávez, a solução democrática para a crise venezuelana está nas mãos dos vizinhos da Venezuela, "especialmente o Brasil", diz o diário.
A oposição diz que recolheu mais de 3 milhões de assinaturas em uma ampla campanha de coleta no ano passado. O CNE considerou válidas apenas 1,8 milhão, sujeitando as demais a uma confirmação em um período de poucos dias no fim deste mês. O número mínimo de assinaturas necessárias é 2,4 milhão - equivalente a 20% do eleitorado. A oposição precisaria confirmar, portanto, mais de 600 mil assinaturas.
Os opositores, que consideram o processo inviável, propuseram ao CNE que, em vez de as pessoas terem de confirmar as suas assinaturas, deveria ocorrer o inverso. Os eleitores que acham que as assinaturas foram fraudadas deveriam comparecer para retirá-las do abaixo-assinado pró-referendo. A OEA, com apoio da União Européia, se manifestou a favor dessa saída.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse ontem que lamenta as recentes mortes no país. O Grupo de Amigos, do qual o Brasil faz parte, disse que "confia em que os cidadãos interessados terão oportunidade para expressar sua vontade [na confirmação das assinaturas]". Anteontem, o embaixador da Venezuela na ONU, Milos Alcalay, renunciou ao cargo, acusando o governo de seu país de minar a democracia.
O ministro da Defesa, general Jorge García Carneiro, anunciou ontem a suspensão de todos os portes de armas no país -exceto os dos seguranças. O objetivo, segundo ele, é reduzir a violência.
Já Chávez disse que a força pública será usada sempre que for necessária.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Eleição na Rússia: Opositor desiste de disputa contra Putin
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.