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A VISÃO CHINESA
Cólera nacionalista cresce na China
CALUM MACLEOD
DO "THE INDEPENDENT", EM PEQUIM
Os EUA são vistos como um
"país bonito" na China, onde as
pessoas são fascinadas pela riqueza e pelo poder dos norte-americanos há muito tempo. Mas o país
também é conhecido como uma
superpotência arrogante, que
quer manter a China pobre.
Com a crise diplomática envolvendo um avião de espionagem
americano entrando em seu sexto
dia, a posição de Washington em
não pedir desculpas pelo incidente faz aumentar o lado negativo da
relação de amor e ódio que a China nutre com os EUA.
Os americanos se dizem descontentes porque seus 24 militares ainda estão detidos na "China
vermelha", e o sentimento nacionalista também se intensifica no
país mais populoso do mundo,
com 1,3 bilhão de habitantes.
"O presidente George W. Bush
fez comentários estúpidos e pouco razoáveis", disse o escritor
neoconservador Wang Xiaodong.
"Ele deveria calar a boca e só abri-la novamente quando decidir pedir desculpas. Alguns americanos
querem uma nova Guerra Fria,
agora contra a China. Podemos
ser mais pobres e mais fracos que
os EUA, mas não temos medo. A
população chinesa está unida
contra essa ameaça", acrescentou.
Mas o que ele diz não é nada
diante do que aparece na Internet.
"Primeiro houve o bombardeio
em Belgrado, agora isso", escreveu um chinês no maior site de
notícias do país, Sina.com, em referência ao bombardeio da Otan
(aliança militar ocidental) à Embaixada da China em Belgrado,
em 1999. "Enforquem os espiões
americanos e vinguem a morte de
Xu Xinhu!", escreveu outro chinês, referindo-se a um jornalista
que perdeu a vida em Belgrado.
A mídia chinesa, que é controlada pelo Estado, orquestrou uma
estridente defesa dos argumentos
de Pequim. Para o governo chinês, o país é a vítima na disputa
atual. E qualquer comentário favorável aos EUA, feito na Internet, é rapidamente apagado.
Analistas afirmam que Washington não deve subestimar a
cólera pública chinesa, que não é
totalmente orquestrada pelo governo. O Partido Comunista chinês sabe que lidar com as emoções da população do país é algo
bastante delicado.
"O nacionalismo é incentivado
pelo governo, mas é uma faca de
dois gumes", afirmou um comentarista político de Pequim.
"O governo se preocupa principalmente com assuntos domésticos, com o modo como lida com
sua própria população. Se parecer
fraco no que concerne à controvérsia atual, o governo terá de enfrentar o descontentamento da
população. Os EUA não entendem isso. Alguns militares chineses gostariam de ver o governo tomar atitudes mais enérgicas. Se os
EUA fizerem muita pressão, a
tensão poderá aumentar", completou o comentarista.
O nacionalismo pode ajudar a
manter o Partido Comunista no
poder há mais de 50 anos, mas
também pode ser manipulado
por forças mais conservadoras. O
crescente nacionalismo poderia
atrasar a entrada da China na Organização Mundial do Comércio,
frear reformas econômicas importantes e arruinar os sonhos de
Pequim de organizar os Jogos
Olímpicos de 2008.
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