São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2001

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DROGAS

Objetivo é oferecer aos dependentes ambiente higiênico e seguro para evitar a transmissão de doenças e overdoses

Austrália abre centro para uso de heroína

KATHY MARKS
DO "THE INDEPENDENT", EM SYDNEY

A Austrália pretende inaugurar nas próximas semanas o primeiro centro legal do país para consumo de heroína na principal rua de Kings Cross, a zona de prostituição da capital Sydney.
O único obstáculo legal à chamada "galeria do pico" foi derrubado ontem, quando a Justiça rejeitou as alegações de que havia pouco apoio para o projeto na comunidade local.
O centro para consumo de heroína tem gerado grande polêmica desde que foi proposto por uma comissão de estudos sobre drogas cinco anos atrás.
As Irmãs da Misericórdia, uma ordem pioneira de freiras católicas que iria gerenciar o local, foram obrigadas a abandonar o projeto por ordem direta do papa.
O centro, que será administrado agora por uma igreja evangélica, terá supervisão médica e irá operar nos primeiros 18 meses em caráter experimental.
O objetivo do projeto é oferecer um ambiente higiênico e seguro, onde os dependentes de heroína possam injetar a droga em si mesmos e recuperar os sentidos antes de saírem para a rua. Cerca de cem pessoas por ano morrem de overdose em Kings Cross.
Projetos semelhantes já existem na Suíça, na Alemanha, na Espanha e na Holanda, mas o centro de Sydney será o maior de todos. Espera-se que ele receba cerca de 200 dependentes químicos por dia.
O juiz Brian Sully, da Suprema Corte de New South Wales, julgou válida a licença concedida pela polícia e pelas autoridades médicas para a operação do centro.
Segundo ele, não há nenhum impedimento legal na Austrália contra esse tipo de projeto.
Na opinião do juiz, a criação de um centro para consumo de heroína "levanta várias questões de política pública, moralidade pública, filosofia social, política social e bem-estar social", mas não cabe aos tribunais julgar essas questões.
O centro de consumo de heroína terá uma fileira de cabines de metal, uma sala para ressuscitação e uma área de ventilação e deve abrir logo após a Páscoa, quando todos os funcionários já tiverem sido contratados.
A Câmara de Comércio de Kings Cross diz que a "galeria do pico" terá um impacto desastroso nos negócios locais, que dependem dos turistas que visitam a área.
O presidente da associação, Malcolm Duncan, disse que vai examinar a possibilidade de apelar da sentença.


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