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ANÁLISE
A "inoculação" de Chávez
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, lançou
contra Hugo Chávez, da Venezuela, a "estratégia da inoculação". A idéia é criar uma frente
contra o chavismo que funcione
como injeção de antivírus. Passa
por aí o gesto surpreendente do
embaixador dos EUA na Bolívia.
Encontrou-se com o presidente
Evo Morales para convencê-lo da
ausência americana dos atentados de março em La Paz, com dois
mortos. Não se conhece outro ato
de contrição igual por parte de representante de Washington na
América Latina. O objetivo é isolar Chávez ou "inoculá-lo".
Incorporado por antecipação à
"onda esquerdista" na América
Latina, o candidato presidencial
peruano Ollanta Humala tornou-se foco de atenções com um discurso fortemente nacionalista.
Fala de "meu irmão Evo Morales". Esteve com Lula em Brasília.
Foi saudado por Chávez, o que
motivou reação irada do presidente peruano, Alejandro Toledo,
e um bate-boca envolvendo "intervenção em assuntos internos"
do Peru e "desestabilização dos
Andes". A rigor Humala estaria
na categoria dos "populistas extremistas" denunciados pelo general Bantz Craddock, chefe do
Comando Sul dos EUA.
Ex-oficial do Exército, Humala
manifestou a pretensão de resgatar o "nacionalismo militar" colocado em cena pelo golpe de 1968.
O general Velasco Alvarado e seus
companheiros nacionalizaram o
petróleo, motivo de briga acirrada
com os EUA, e transformaram os
grandes engenhos de açúcar em
cooperativas. Propunham ações
"antiimperialistas e antioligárquicas", mas a revolução velasquista
terminou no pior dos mundos.
Sede de poder, corrupção e deposição de Velasco em golpe dentro
do golpe. Humala procura fundir
numa só coisa antecedentes velasquistas e a "inspiração" em Morales, e a partir daí construir um discurso próprio.
No começo da campanha prometeu rever todos os contratos
assinados com multinacionais de
energia. Seriam restringidos investimentos do Chile, com o qual
o Peru tem problemas territoriais.
O Peru, prometeu Humala aos
bolivianos, terá papel importante
em qualquer negociação sobre
concessão, por parte do Chile, de
acesso ao mar à Bolívia.
De inicio à frente nas pesquisas,
Humala passou por um período
de estagnação, quando chegou a
ser ultrapassado pela candidata
conservadora Lourdes Flores.
Sobrevieram acusações de violações dos direitos humanos,
quando comandou, entre 1992 e
1993, uma unidade antiterrorista.
Reagiu dizendo que defendia seu
país. Condenou a anistia para ex-guerrilheiros. Meteu-se num discurso de "tonalidades variadas".
Como o "irmão Morales", Humala cultiva o apoio dos plantadores
de folhas de coca. Garantiu à
União Européia que é favorável a
investimentos estrangeiros e que
respeitará propriedades privadas.
Falou à BBC sobre os "demônios
do neoliberalismo". Recuperou-se nas pesquisas e é objeto de cautela, como Morales, em razão da
"inoculação" de Chávez.
O jornalista Newton Carlos é analista de questões internacionais
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