|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Massacre nos EUA fez vítima brasileira
Almir Olímpio Alves, 42, assistia a aula de inglês no centro de apoio de imigrantes atacado na sexta-feira em Binghamton
Comunidade imigrante da cidade no Estado de Nova York se diz preocupada com possível preconceito contra estrangeiros após ataque
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A BINGHAMTON
O ataque a tiros da última
sexta-feira na cidade de Binghamton, a 225 km de Nova
York, fez uma vítima brasileira:
o pernambucano Almir Olímpio Alves, 42. Ele fazia aulas de
inglês no centro de apoio a imigrantes American Civic Association (ACA) quando o vietnamita Jiverly Wong, 41, invadiu
o local com duas pistolas semiautomáticas e matou 13 pessoas antes de se suicidar.
A polícia informou que não
foram localizados parentes do
brasileiro em Binghamton. A
mulher de Alves, Márcia Pereira Lins Alves, que está em Pernambuco, foi informada no sábado. Segundo o cônsul interino do Brasil em Nova York,
Fred Arruda, um funcionário
do consulado virá a Binghamton hoje para expedir a certidão
de óbito de Alves.
"Só hoje recebemos a notificação oficial do Departamento
de Estado dos EUA sobre a
morte. O departamento se ofereceu para acelerar o processo
de visto para a família mas, pelo
que sei, a viúva não pretende
vir aos EUA", disse à Folha.
Em geral, o traslado do corpo
de brasileiros fica a cargo da família. Como Alves foi vítima de
crime violento, há a possibilidade de indenização nos EUA.
Ao lado de Alves, morreram
quatro chineses, dois haitianos,
duas americanas, uma filipina,
uma iraquiana, um vietnamita
e uma paquistanesa. Quatro
pessoas ficaram feridas, mas
estão fora de perigo.
Os corpos da iraquiana Layla
Khalil, 57, e da paquistanesa
Parveen Ali, 26, foram enterrados no cemitério muçulmano
de Binghamton ontem à tarde.
O marido de Layla, Samir Alsalihi, disse à Folha que eles
eram casados há 31 anos e tinham três filhos. O casal veio
para os EUA há pouco mais de
sete meses, fugindo da violência no Iraque. "Escapei da morte em Bagdá três vezes. Pensamos que aqui estávamos seguros", disse.
A americana Robyne Rahim,
44, amiga de Parveen, a descreveu como uma moça humilde e
simpática. "Ia até a casa dela
para comprar roupas que sua
família importava do Paquistão. Mas nunca ia embora sem
um bolinho, um café e uma longa conversa", conta. "Estamos
todos devastados."
Antigo centro de realocação
de refugiados, a cidade de Binghamton abriga uma comunidade étnica bastante diversa
entre seus 47 mil habitantes.
No centro, imigrantes tinham
aulas de línguas e cidadania e
eram orientados sobre procedimentos para naturalização.
O indiano Shakeel Ansari,
45, conseguiu a cidadania com
a ajuda da associação. "A ACA
era o umbigo da comunidade
estrangeira. O que aconteceu
afetou a todos nós."
Concorda com Ansari o russo Dmitry Traytel, 23, que mora em frente ao ACA. Para ele, o
ataque foi "um ato isolado de
um louco". "Já comecei a ouvir
piadas, com as pessoas dizendo
"ai, esses estrangeiros...'"
Já o brasileiro Thomas Simões, 21, estudante de marketing na Universidade de Binghamton, crê que o episódio
deixará a comunidade estrangeira mais preocupada. "Aqui é
muito pequeno. Fora da universidade, a integração com os
americanos já era um pouco difícil. Com certeza vou ficar
mais esperto agora", disse.
Supresa
O atirador da ACA não era estranho no centro: ele estudou
lá, mas havia abandonado as
aulas no começo de março.
Para a polícia, o ataque de
Wong não foi uma "surpresa
completa" -ele estava irritado
por não conseguir emprego
após ser demitido da IBM e por
ter problemas de comunicação.
Ele vivia com os pais e uma
irmã em Johnson City, a 5,4 km
de Binghamton. Segundo vizinhos, era calado e discreto.
Wong já havia tido problemas com a lei em 1999, quando
a polícia recebeu uma denúncia, nunca comprovada, de que
ele planejava roubar um banco
e era viciado em crack. As duas
armas usadas no ataque foram
compradas legalmente.
Texto Anterior: EUA defendem Turquia na UE; França e Alemanha reagem Próximo Texto: Frases Índice
|