São Paulo, segunda-feira, 06 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Massacre nos EUA fez vítima brasileira

Almir Olímpio Alves, 42, assistia a aula de inglês no centro de apoio de imigrantes atacado na sexta-feira em Binghamton

Comunidade imigrante da cidade no Estado de Nova York se diz preocupada com possível preconceito contra estrangeiros após ataque

ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A BINGHAMTON

O ataque a tiros da última sexta-feira na cidade de Binghamton, a 225 km de Nova York, fez uma vítima brasileira: o pernambucano Almir Olímpio Alves, 42. Ele fazia aulas de inglês no centro de apoio a imigrantes American Civic Association (ACA) quando o vietnamita Jiverly Wong, 41, invadiu o local com duas pistolas semiautomáticas e matou 13 pessoas antes de se suicidar.
A polícia informou que não foram localizados parentes do brasileiro em Binghamton. A mulher de Alves, Márcia Pereira Lins Alves, que está em Pernambuco, foi informada no sábado. Segundo o cônsul interino do Brasil em Nova York, Fred Arruda, um funcionário do consulado virá a Binghamton hoje para expedir a certidão de óbito de Alves.
"Só hoje recebemos a notificação oficial do Departamento de Estado dos EUA sobre a morte. O departamento se ofereceu para acelerar o processo de visto para a família mas, pelo que sei, a viúva não pretende vir aos EUA", disse à Folha.
Em geral, o traslado do corpo de brasileiros fica a cargo da família. Como Alves foi vítima de crime violento, há a possibilidade de indenização nos EUA.
Ao lado de Alves, morreram quatro chineses, dois haitianos, duas americanas, uma filipina, uma iraquiana, um vietnamita e uma paquistanesa. Quatro pessoas ficaram feridas, mas estão fora de perigo.
Os corpos da iraquiana Layla Khalil, 57, e da paquistanesa Parveen Ali, 26, foram enterrados no cemitério muçulmano de Binghamton ontem à tarde.
O marido de Layla, Samir Alsalihi, disse à Folha que eles eram casados há 31 anos e tinham três filhos. O casal veio para os EUA há pouco mais de sete meses, fugindo da violência no Iraque. "Escapei da morte em Bagdá três vezes. Pensamos que aqui estávamos seguros", disse.
A americana Robyne Rahim, 44, amiga de Parveen, a descreveu como uma moça humilde e simpática. "Ia até a casa dela para comprar roupas que sua família importava do Paquistão. Mas nunca ia embora sem um bolinho, um café e uma longa conversa", conta. "Estamos todos devastados."
Antigo centro de realocação de refugiados, a cidade de Binghamton abriga uma comunidade étnica bastante diversa entre seus 47 mil habitantes. No centro, imigrantes tinham aulas de línguas e cidadania e eram orientados sobre procedimentos para naturalização.
O indiano Shakeel Ansari, 45, conseguiu a cidadania com a ajuda da associação. "A ACA era o umbigo da comunidade estrangeira. O que aconteceu afetou a todos nós."
Concorda com Ansari o russo Dmitry Traytel, 23, que mora em frente ao ACA. Para ele, o ataque foi "um ato isolado de um louco". "Já comecei a ouvir piadas, com as pessoas dizendo "ai, esses estrangeiros...'"
Já o brasileiro Thomas Simões, 21, estudante de marketing na Universidade de Binghamton, crê que o episódio deixará a comunidade estrangeira mais preocupada. "Aqui é muito pequeno. Fora da universidade, a integração com os americanos já era um pouco difícil. Com certeza vou ficar mais esperto agora", disse.

Supresa
O atirador da ACA não era estranho no centro: ele estudou lá, mas havia abandonado as aulas no começo de março.
Para a polícia, o ataque de Wong não foi uma "surpresa completa" -ele estava irritado por não conseguir emprego após ser demitido da IBM e por ter problemas de comunicação.
Ele vivia com os pais e uma irmã em Johnson City, a 5,4 km de Binghamton. Segundo vizinhos, era calado e discreto.
Wong já havia tido problemas com a lei em 1999, quando a polícia recebeu uma denúncia, nunca comprovada, de que ele planejava roubar um banco e era viciado em crack. As duas armas usadas no ataque foram compradas legalmente.


Texto Anterior: EUA defendem Turquia na UE; França e Alemanha reagem
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.