São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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Frente republicana derrota líder de extrema direita com 82% dos votos, uma marca histórica

Chirac esmaga Le Pen e é reeleito presidente

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Os franceses esmagaram eleitoralmente o candidato de extrema direita Jean-Marie Le Pen e reelegeram Jacques Chirac, 69, para a Presidência por mais cinco anos.
Apurados 96,74% dos votos, Chirac tinha 82,05% deles contra 17,95% do líder extremista.
A vitória de Chirac é resultado sobretudo do êxito da chamada "frente republicana" que se formou em torno dele a partir de 21 de abril contra o candidato de extrema direita. Chirac contou com o apoio eleitoral de quase todos os partidos e eleitores de esquerda, do empresariado, das igrejas, do mundo estudantil, dos sindicatos, de artistas e intelectuais.
"Nós acabamos de viver um tempo de grave inquietude para a nação, mas, nesta noite, a França reafirmou seu apego aos valores da República. Eu saúdo a França, fiel à si mesma, aos seus grandes ideais, à sua vocação universal e humanista", discursou Chirac.
Ele anunciou que pretende "colocar a França em movimento" e realizar um "governo de missão", dedicado sobretudo a garantir a segurança pública. "Fazer recuar a insegurança é a primeira prioridade do Estado para os tempos que virão", disse. Hoje ou amanhã, ele indica o novo primeiro-ministro da França, para ocupar o lugar do socialista Lionel Jospin, que, ao fracassar no primeiro turno, anunciou que renunciaria.
O resultado de Chirac será o maior já alcançado por um candidato presidencial desde 1969, quando Georges Pompidou obteve os votos de 58,2% dos eleitores. A abstenção no país também recuou bastante no segundo turno de ontem, chegando a cerca de 18% dos 41 milhões de eleitores. No primeiro turno, houve um número recorde de abstenções (cerca de 28%).
Le Pen disse que a vitória de Chirac foi "obtida pelo método soviético, com o conjunto de todas as forças sociais, políticas e da mídia". "Tenho paciência, não terei de esperar muito antes de ver a desagregação dos aliados dessa coalizão mórbida."
Na sexta-feira, o candidato da extrema direita previa obter mais de 30% no segundo turno. "Abaixo disso será um fracasso", calculou. O único apoio que Le Pen recebeu no segundo turno foi do outro candidato de extrema direita, Bruno Mégret (2,34% dos votos no primeiro turno). Le Pen parece ter superado os votos somados de ambos (5,5 milhões) -deve obter um total de 5,8 milhões.
A derrota de Le Pen demonstra os limites eleitorais de seu partido, a Frente Nacional, mas não a sua fraqueza. Os votos da extrema direita resistiram ao bombardeamento antilepenista que tomou conta da França nos últimos dias.
A "frente republicana" em torno de Chirac se dissolveu imediatamente após a divulgação dos resultados. "A esquerda fez seu dever", disse o secretário-geral do Partido Socialista, François Hollande, fazendo um apelo para que a esquerda se una nas eleições legislativas, em junho. A direita já está reunida num bloco partidário dominado pelo partido de Chirac, a Reunião pela República.

No Brasil
O favoritismo de Chirac se confirmou na votação realizada ontem no Brasil. Dos 1.046 eleitores que compareceram ao Consulado Geral da França em São Paulo, 954 votaram em Chirac e 60 em Jean-Marie Le Pen. Houve 32 votos brancos/nulos.
Os eleitores eram discretos ao revelar seus votos. Apesar dos 60 votos registrados para o líder de extrema direita, o único entrevistado que disse ter votado em Le Pen foi o engenheiro Jean Gentil, 47, que vive há 35 anos no Brasil. "Acredito nas idéias separatistas de Le Pen. Acho que a França tem de se separar da União Européia e tem de voltar a ter sua moeda própria para crescer."
O economista Patrick Crosset, 42, há três anos no Brasil, é contra a política de Le Pen. "É muito contraditório viver fora da França, ser um imigrante em outro país, e votar em Le Pen. Ele não quer estrangeiros".


Colaborou Mirella Domenich, free-lance para a Folha

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