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Frente republicana derrota líder de extrema direita com 82% dos votos, uma marca histórica
Chirac esmaga Le Pen e é reeleito presidente
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Os franceses esmagaram eleitoralmente o candidato de extrema
direita Jean-Marie Le Pen e reelegeram Jacques Chirac, 69, para a
Presidência por mais cinco anos.
Apurados 96,74% dos votos,
Chirac tinha 82,05% deles contra
17,95% do líder extremista.
A vitória de Chirac é resultado
sobretudo do êxito da chamada
"frente republicana" que se formou em torno dele a partir de 21
de abril contra o candidato de extrema direita. Chirac contou com
o apoio eleitoral de quase todos os
partidos e eleitores de esquerda,
do empresariado, das igrejas, do
mundo estudantil, dos sindicatos,
de artistas e intelectuais.
"Nós acabamos de viver um
tempo de grave inquietude para a
nação, mas, nesta noite, a França
reafirmou seu apego aos valores
da República. Eu saúdo a França,
fiel à si mesma, aos seus grandes
ideais, à sua vocação universal e
humanista", discursou Chirac.
Ele anunciou que pretende "colocar a França em movimento" e
realizar um "governo de missão",
dedicado sobretudo a garantir a
segurança pública. "Fazer recuar
a insegurança é a primeira prioridade do Estado para os tempos
que virão", disse. Hoje ou amanhã, ele indica o novo primeiro-ministro da França, para ocupar o
lugar do socialista Lionel Jospin,
que, ao fracassar no primeiro turno, anunciou que renunciaria.
O resultado de Chirac será o
maior já alcançado por um candidato presidencial desde 1969,
quando Georges Pompidou obteve os votos de 58,2% dos eleitores.
A abstenção no país também recuou bastante no segundo turno
de ontem, chegando a cerca de
18% dos 41 milhões de eleitores.
No primeiro turno, houve um número recorde de abstenções (cerca de 28%).
Le Pen disse que a vitória de
Chirac foi "obtida pelo método
soviético, com o conjunto de todas as forças sociais, políticas e da
mídia". "Tenho paciência, não terei de esperar muito antes de ver a
desagregação dos aliados dessa
coalizão mórbida."
Na sexta-feira, o candidato da
extrema direita previa obter mais
de 30% no segundo turno. "Abaixo disso será um fracasso", calculou. O único apoio que Le Pen recebeu no segundo turno foi do
outro candidato de extrema direita, Bruno Mégret (2,34% dos votos no primeiro turno). Le Pen parece ter superado os votos somados de ambos (5,5 milhões) -deve obter um total de 5,8 milhões.
A derrota de Le Pen demonstra
os limites eleitorais de seu partido, a Frente Nacional, mas não a
sua fraqueza. Os votos da extrema
direita resistiram ao bombardeamento antilepenista que tomou
conta da França nos últimos dias.
A "frente republicana" em torno de Chirac se dissolveu imediatamente após a divulgação dos resultados. "A esquerda fez seu dever", disse o secretário-geral do
Partido Socialista, François Hollande, fazendo um apelo para
que a esquerda se una nas eleições
legislativas, em junho. A direita já
está reunida num bloco partidário dominado pelo partido de
Chirac, a Reunião pela República.
No Brasil
O favoritismo de Chirac se confirmou na votação realizada ontem no Brasil. Dos 1.046 eleitores
que compareceram ao Consulado
Geral da França em São Paulo,
954 votaram em Chirac e 60 em
Jean-Marie Le Pen. Houve 32 votos brancos/nulos.
Os eleitores eram discretos ao
revelar seus votos. Apesar dos 60
votos registrados para o líder de
extrema direita, o único entrevistado que disse ter votado em Le
Pen foi o engenheiro Jean Gentil,
47, que vive há 35 anos no Brasil.
"Acredito nas idéias separatistas
de Le Pen. Acho que a França tem
de se separar da União Européia e
tem de voltar a ter sua moeda própria para crescer."
O economista Patrick Crosset,
42, há três anos no Brasil, é contra
a política de Le Pen. "É muito
contraditório viver fora da França, ser um imigrante em outro
país, e votar em Le Pen. Ele não
quer estrangeiros".
Colaborou Mirella Domenich, free-lance para a Folha
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