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São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2003

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DIREITOS HUMANOS

Outros brasileiros aderem a abaixo-assinado que denuncia campanha dos EUA; texto omite execuções

Chico Buarque assina carta em favor de Cuba

DA REDAÇÃO

Os brasileiros Chico Buarque (compositor), Oscar Niemeyer (arquiteto), Beth Carvalho (cantora), Emir Sader (sociólogo) e João Pedro Stedile (líder do MST) estão entre os mais de 200 signatários de um abaixo-assinado em defesa de Cuba e contra os EUA lido durante manifestação em Havana no Primeiro de Maio.
O documento, intitulado "À consciência do mundo", denuncia "uma campanha de desestabilização contra Cuba" que poderia "servir de pretexto para uma invasão", mas não faz referência às recentes execuções ocorridas em Cuba ou à atual onda repressiva do regime de Fidel Castro.
"A ordem internacional foi violada como consequência da invasão contra o Iraque. Uma só potência está infligindo grave dano às normas de entendimento, debate e mediação entre os países. Essa potência invocou uma série de razões não comprovadas para justificar sua invasão. A ação unilateral implicou a perda de vidas civis e a devastação de um dos patrimônios culturais da humanidade", afirma o documento.
"Nós somente possuímos nossa autoridade moral, com a qual apelamos à consciência mundial para evitar uma nova violação dos princípios que guiam a comunidade global das nações. Neste momento, está em marcha uma intensa campanha de desestabilização contra uma nação da América Latina. O acosso contra Cuba pode servir de pretexto para uma invasão. Por isso, exortamos todos os cidadãos e todos os políticos a apoiar os princípios universais de soberania nacional, respeito à integridade territorial e à autodeterminação, essenciais para uma coexistência pacífica e justa entre as nações", diz o texto.
O sociólogo Emir Sader, 59, não vê problema no fato de o abaixo-assinado não criticar as violações aos direitos humanos pelo regime cubano. "O mais importante é a defesa do direito de Cuba de decidir seu destino, é a defesa de Cuba contra a agressão americana. O erro dos fuzilamentos não tem nada a ver com isso", disse.
"Bush também permitiu que dezenas de condenados fossem executados quando era governador do Texas", disse Sader, referindo-se ao atual presidente americano.
Segundo a agência France Presse, Chico Buarque teria sido um dos últimos a assinar o documento, que está circulando nos meios artísticos e intelectuais há alguns dias. De fato, em algumas listas disponíveis na internet aparece o nome de Chico, mas em outras não. Até o fechamento desta edição, a Folha não havia conseguido falar com o compositor.
O documento também foi assinado pelos Prêmios Nobel Rigoberta Menchú, Nadine Gordimer, Adolfo Pérez Esquivel e Gabriel García Márquez. Mario Benedetti, Antonio Gades, Eduardo Galeano e Ariel Dorfman estão na lista.
A polêmica sobre Cuba tomou corpo após o escritor português José Saramago, um dos principais nomes da esquerda mundial, publicar um texto no jornal "El País" no qual anunciava seu rompimento com o regime de Fidel: "Cuba perdeu minha confiança e frustrou minhas esperanças".
No Brasil, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, classificou como "uma intolerância" e "lamentável" a execução de presos em Cuba. O cantor e compositor Caetano Veloso assinou uma carta que condena a repressão em Cuba, ao lado de mais de mais de 50 artistas e intelectuais, entre eles o cineasta Pedro Almodóvar.
No início de abril, um grupo de 75 dissidentes cubanos foi condenado a penas de até 27 anos de prisão. No dia 11, três homens condenados pelo sequestro de uma lancha de passageiros, a bordo da qual pretendiam fugir para os EUA, foram fuzilados após julgamento sumário.


Com agências internacionais


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