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IRAQUE OCUPADO
Em entrevista a TVs árabes, ele lamenta tortura, diz que ela "não representa os EUA" e promete punir responsáveis
Bush fala a árabes mas não pede desculpas
DA REDAÇÃO
Em um esforço extraordinário
para amenizar os efeitos do escândalo envolvendo a tortura de iraquianos por soldados dos EUA, o
presidente George W. Bush foi
ontem a duas TVs de audiências
árabes para prometer a punição
dos responsáveis pelos abusos.
Mas ele não pediu desculpas.
Apesar de ter chamado as torturas ocorridas na prisão bagdali de
Abu Ghraib de "abomináveis", o
presidente enfatizou que o incidente seria um caso isolado e que
os EUA mandaram ao Iraque "cidadãos bons e honrados que estão
ajudando os iraquianos todos os
dias". Para Bush, "o povo iraquiano têm de entender que o que
ocorreu naquela prisão não representa os EUA".
"Os EUA que eu conheço se importam com cada indivíduo, e
mandaram soldados para o Iraque para promover a liberdade",
disse o presidente à TV Al Hurra,
financiada pelos EUA. "Em uma
democracia, nem tudo é perfeito.
Erros são cometidos. Mas, em
uma democracia, esse erros também são investigados e as pessoas
são levadas à Justiça."
Já no depoimento à TV Al Arabiya (de Dubai), exibido primeiro
sem cortes nem legendas, Bush
pediu compreensão. "O povo iraquiano tem de entender que eu
acho essas práticas abomináveis.
É uma coisa que repercute mal.
Nossos cidadãos estão estupefatos com o que viram, assim como
as pessoas no Oriente Médio."
Uma semana após a divulgação,
primeiro na TV dos EUA, de fotos
de soldados sorridentes torturando prisioneiros iraquianos, o
Exército admitiu que ao menos 25
cativos morreram sob sua custódia no Iraque e no Afeganistão
-doze supostamente por causas
naturais, enquanto os outros estão sendo investigados. No Iraque, os abusos ocorreram em Abu
Ghraib, que abriga cerca de 4.000
prisioneiros ligados ao regime deposto ou à atual insurgência. Os
EUA já anunciaram que pretendem reduzir o total de detentos.
O caso estourou como uma
bomba sobre a Casa Branca, que
enfrenta críticas contra sua operação no Iraque por causa das crescentes baixas de soldados americanos e da falta de planejamento e
ordem no pós-guerra.
O virtual adversário de Bush na
eleição presidencial de novembro, o democrata John Kerry,
aproveitou para criticar o presidente: "Acho que o mundo precisa ouvir que o presidente dos
EUA se arrepende de qualquer tipo de abuso, porque temos de
mostrar ao mundo que queremos
corrigir nossos erros".
As entrevistas concedidas ontem pelo presidente, marcadas na
última hora, são apenas uma frente do esforço lançado para abrandar a repercussão do caso.
Anteontem, a assessora de Segurança Nacional da Casa Branca,
Condoleezza Rice, foi à TV Al Jazira prometer a punição dos culpados. Ontem, foi a vez do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, de lamentar os abusos em
um programa matutino da rede
americana ABC. "Qualquer americano que vê essas fotos sente necessidade de se desculpar ao povo
iraquiano e de reconhecer que isso é algo inaceitável e não-americano", disse. Para analistas, porém, Bush perdeu uma oportunidade ontem. "Não houve desculpas, o que seria apropriado, então
pareceu algo condescendente",
disse Wayne Fields, especialista
em retórica política da Universidade de Washington.
O único a se desculpar, até agora, foi o comandante responsável
pelas prisões no Iraque. "Eu gostaria de pedir desculpas por nosso
país e por nossos militares pelo
pequeno número de soldados que
cometeu esses atos ilegais", disse
o major Geoffrey Miller. Do lado
de fora da prisão, centenas de iraquianos protestavam.
Com agências internacionais
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