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IRAQUE OCUPADO
Xiita conta como soldados americanos abusaram de prisioneiros iraquianos em Abu Ghraib por dias seguidos
Ex-preso relata tortura e humilhação
IAN FISHER
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ
A vergonha é tão profunda que
Hayder Sabbar Abd acha que não
pode voltar ao bairro onde vivia.
Ele preferiria nem sequer permanecer no Iraque. Mas agora o
mundo inteiro já viu as fotos, que
Abd voltou a olhar anteontem,
apontando as figuras mais importantes nelas, a começar por três
soldados americanos que dão sorrisos largos para a câmera.
"Esse é Joiner", disse ele, indicando um soldado que usa óculos, um chapéu preto e luvas de
borracha. Seus braços estão cruzados sobre uma pilha de prisioneiros iraquianos nus e encapuzados. "Essa é Miss Maya", disse,
apontando para uma jovem que
está por cima da mesma pilha.
Abd olhou para outra foto. Nela,
uma segunda soldado, sorrindo,
fazia sinal de positivo com o polegar e, com a outra mão, apontava
para a genitália de um homem coberto apenas com um capuz. Ele
não soube dizer o nome da soldado. Mas as pequenas cicatrizes no
torso do prisioneiro nu não deixavam dúvidas quanto a sua identidade. "Esse sou eu", disse Abd.
Abd, 34, está no centro de um
escândalo em torno dos maus-tratos de prisioneiros iraquianos
por militares americanos, mas
permaneceu calmo nas duas horas em que detalhou o tempo que
passou na temível prisão de Abu
Ghraib. Ele disse que nunca foi interrogado nem acusado.
Em novembro, quando os abusos aconteceram, poucos muçulmanos xiitas, como Abd, realizavam ataques contra as forças
americanas. "A verdade é que não
éramos terroristas", disse Abd.
"Não éramos insurgentes. Éramos pessoas comuns. E a inteligência americana sabia disso."
Abd falou sem demonstrar
qualquer revolta contra a ocupação americana. Ele disse que, nos
seis meses que passou em prisões
administradas por americanos, a
maioria o tratou bem e com respeito. "Eles nem sequer diziam
"cale a boca"."
Isso mudou em novembro
-Abd não soube dizer o dia exato-, quando o castigo aplicado
por uma briga entre prisioneiros
em Abu Ghraib degenerou em
tortura. Naquela noite, contou,
ele e seis outros detentos foram
espancados, tiveram suas roupas
arrancadas (uma humilhação especialmente grande no mundo
árabe), foram forçados a se empilhar uns sobre os outros, a deitar
nus uns sobre os outros e a simular sexo oral. Guardas americanos
escreveram palavras como "estuprador" sobre sua pele.
Durante boa parte da provação,
a curiosidade era a máquina fotográfica. Foi um detalhe que Abd
mencionou várias vezes enquanto
recordou como foi obrigado a encostar numa parede e como o tradutor árabe lhe ordenou que se
masturbasse enquanto olhava para uma das guardas mulheres.
"Ela estava rindo e pôs as mãos
sobre os seios", disse Abd. "É claro que eu não consegui. Eu disse a
eles que não conseguia, então me
bateram no estômago, e eu caí ao
chão. O tradutor disse: "Faça! Faça! É melhor do que ser espancado". Eu disse: "Como posso fazer?".
Então pus as mãos no pênis, fazendo de conta."
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