São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2008

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Ciclone deixa 15 mil mortos em Mianmar

Balanço provisório de vítimas é divulgado pelo ministro do Exterior na TV estatal; em apenas uma cidade, 10 mil morreram

Junta militar autoriza o ingresso de equipes de ajuda da ONU; grande exportador de arroz, país pode ter que importá-lo


Reuters/Divulgação
Crianças sentam em árvore caída em Yangun; principal cidade birmanesa foi atingida

DA REDAÇÃO

O ministro do Exterior de Mianmar, Nyan Win, anunciou hoje de manhã (início da madrugada no Brasil) que o ciclone Nargis, que varreu o país na noite de sexta-feira, deixou pelo menos 15 mil mortos. Win disse à TV estatal que 10 mil das vítimas são de apenas uma cidade, Bogalay, na região de Irrawaddy, no delta do rio de mesmo nome. Os desaparecidos são cerca de 3.000.
Os números divulgados pela junta militar que controla o país foram sendo atualizados durante o dia de ontem. Um balanço anterior contabilizava 3.934 mortos, com 2.879 pessoas desaparecidas.
Além do delta do Irrawaddy, a tempestade, com ventos de até 190 km/h, atingiu a região da ex-capital, Yangun, onde 59 mortos foram contados. "Dados vindos do delta mostram que, em algumas vilas, 95% das casas foram destruídas", contou Matthew Cochrane, da Cruz Vermelha.
A escala do desastre levou a um raro "sim" dos generais linha-dura para a ajuda internacional, rejeitada em 2004 quando um tsunami no oceano Índico atingiu a região. O ministro Win disse que o país, um dos mais pobres da Ásia, precisa de remédios e roupas, além de tijolos, folhas de zinco e plástico para abrigos.
Depois de um "cuidadoso sinal verde" de Mianmar, a ONU prometeu todo o esforço para enviar alimentos, água potável e cobertores. "A ONU fará tudo o que pode para levar ajuda a Mianmar", declarou o secretário-geral Ban Ki-moon.
Os EUA, que mantêm sanções contra o país, liberaram US$ 250 mil. Mas, "até agora, Mianmar não nos deu permissão para entrar", disse um porta-voz. A União Européia enviará US$ 3 milhões.
Em Yangun, o preço da gasolina dobrou; o dos ovos triplicou. Sem previsão de quando a eletricidade voltará à antiga capital -uma nova, Naypyitaw, foi recém-inaugurada pelos militares-, as lojas já não tinham mais velas e pilhas.
Segundo a ONG Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos, sediada em Bancoc (Tailândia), a polícia matou 36 presos para reprimir um tumulto que começou quando acenderam uma fogueira para se aquecerem.
A TV estatal mostrava militares e a polícia resgatando vítimas e limpando Yangun, mas moradores reclamam de que a resposta é lenta. "Onde estão os soldados e a polícia? Eles foram muito rápidos e agressivos quando houve protestos no ano passado", disse um aposentado, se referindo às manifestações lideradas por monges budistas reprimidas com saldo de pelo menos 31 mortos.
O ciclone e as inundações nas duas principais áreas produtoras de arroz de Mianmar, no delta do rio Irrawaddy, terão efeito no abastecimento de comida de outros dois países pobres: Sri Lanka e Bangladesh.
O governo diz que as 50 mil toneladas de arroz que deveriam ser exportadas para o Sri Lanka neste mês devem ser atrasadas. Mas é incerto se Mianmar, o maior exportador de arroz do mundo desde que ficou independente da Grã-Bretanha, em 1948, precisará importar o produto. Se isso ocorrer, os preços internacionais do arroz devem subir mais.


Com agências internacionais


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