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ARGENTINA
Kirchner pedira processo
Após pressão, chefe do Supremo é investigado
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
A Câmara dos Deputados da
Argentina retomou ontem um
processo para a destituição do
presidente da Suprema Corte, Julio Nazareno, um dia após o presidente da República, Néstor Kirchner, ter ido à TV em rede nacional
pedir que o Congresso investigasse e afastasse alguns dos juízes da
Corte que, segundo ele, não estariam "à altura do cargo".
Nazareno, amigo do ex-presidente Carlos Menem (1989-99),
foi o principal alvo das críticas de
Kirchner. O presidente o acusou
de tentar inviabilizar o seu mandato. No início da semana, Nazareno sinalizou com a intenção de
dar um parecer favorável para
uma ação que prevê a redolarização dos depósitos de um correntista de Córdoba.
Se aprovada, a liberação daria
margem para que outros correntistas pedissem o mesmo, o que
traria sérios problemas econômicos para o governo. Com o fim da
paridade cambial entre peso e dólar, no início do ano passado, os
depósitos bancários -mesmo os
denominados em dólares- foram pesificados. A redolarização
resultaria em bilhões em prejuízo
para os cofres públicos.
O presidente da comissão que
irá comandar as investigações no
Congresso, o peronista Ricardo
Falú, afirmou que as denúncias
apresentadas contra o ministro
são evidentes.
Nazareno, 67, que já havia sido
investigado no ano passado, enfrentará 12 novas acusações, a
maioria por "mal desempenho
das funções". É acusado por não
ter cobrado ações mais enérgicas
nas investigações do atentado
contra a Embaixada de Israel, em
1992, e no processo sobre contrabando de armas ao Equador e à
Croácia, do qual Menem era o
principal alvo.
Os deputados pedem mudanças
na formação da Suprema Corte.
Querem que ela volte a ser composta por apenas cinco integrantes-era assim até 1994.
Nazareno rebateu ontem as críticas de Kirchner, afirmando que
não irá renunciar ao cargo e que
se o presidente quer afastar membros da Suprema Corte terá de fazê-lo por meios legais.
"Se quer um plebiscito, que o
convoque", disse Nazareno.
Kirchner cogitou a possibilidade
de realizar um referendo. No entanto, a votação só poderá ocorrer
se for convocada pelo Congresso.
Os demais juízes da Suprema
Corte, no entanto, não fizeram
declarações e se fecharam todo o
dia em reuniões "deliberativas".
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